Prólogo

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Eu estava em um grande campo florido. Tudo ali parecia muito calmo, sereno. A grama era macia debaixo dos meus pés descalços e o sol da tarde me tocava sutilmente, me aquecendo apesar do clima frio.

Eu andava pelo lugar a passos leves e lentos quando uma leve brisa soprou gentilmente em meu rosto, trazendo consigo uma miríade de cheiros distintos. Primeiro o cheiro das flores, depois o de terra molhada, o característico cheiro de grama, o aroma dos pinheiros ao redor e então o cheiro de algo queimando.

Nesse momento eu ergui meu rosto, levando meu olhar para além do bosque de pinheiros que cercava a campina e vi um enorme rastro negro de fumaça rasgando o céu, antes tão azul e limpo.

Foi quando tudo se tornou escuro e confuso. E então eu caí, atravessando as flores, a grama e a terra como se fossem apenas uma neblina, em uma queda conturbada.

O vento frio batia contra minha pele, fazendo cada pelo do meu corpo se eriçar e, de alguma forma, me sufocando. E eu caí, e caí, e caí e continuei caindo para o que parecia ser a minha morte, mas quando enfim cheguei ao que pensei ser o chão, fui segurada por braços macios e quentes.

Meu alívio foi tanto que me abracei à quem quer que fosse meu salvador. Mas o momento de calmaria foi breve, não me dando tempo nem mesmo de me recuperar. Quase que no mesmo segundo, os mesmos braços que me salvaram da queda estavam me virando de bruços com brutalidade e em seguida me forçando contra o que parecia ser uma maca.

A imagem dos lençóis impossivelmente brancos pareceu despertar algo na minha mente e então tudo à minha frente se iluminou, se tornando tão claro que tive que fechar meus olhos. Eu estava no mesmo quarto, na mesma posição, com as mesmas mãos me segurando e à essa altura eu já sabia exatamente o que iria acontecer.

Foi só quando senti a presença de mais uma pessoa no lugar que me desesperei e comecei a me debater para tentar fugir, mas mesmo que eu usasse toda a minha força eu não conseguia nem mesmo amenizar o aperto em meus braços. E foi nesse momento que eu senti uma mão enluvada tocar minha cintura e então a ponta afiada de uma agulha rasgar a pele das minhas costas, bem em cima da minha coluna.

Eu não queria gritar. E não gritei. Eu não queria chorar. E não chorei. Não queria sentir. Mas eu senti. Eu senti cada pequena coisa, a dor da agulha contra minha pele, a dor do aperto que me sufocava, a dor de respirar com meus pulmões erráticos, a dor fantasma em cada poro do meu corpo causada pelo medo e a dor de apenas estar ali, naquela situação.

Meus olhos queimavam com lágrimas que nunca caíam. Tudo que eu queria ela correr. Grita. Ou morrer. A morte me parecia tão desejosa naquele momento, ela era a única forma que eu encontrei para fugir dali. E eu só pensava nisso, era tudo que eu poderia pedir, eu precisava morrer.

Eu senti minha cabeça pesar mais e mais até se tornar quase parte da maca e então minha visão escurecer lentamente. Foi nesse instante que minha consciência pareceu se esvair de meu frágil e moribundo corpo, levando consigo toda a dor e também o medo.

Parecia que meu mórbido alívio finalmente havia chegado, que eu enfim poderia sair dali e descansar, esquecer tudo, até a mim mesma. Mas quando tudo se tornou escuro e enfim sumiu, eu acordei. Acordei para meu pesadelo fora do sono. Acordei para minha triste morte em vida.

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Bloodflood - Jasper Hale (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora