Capítulo 7

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Bok foi se afastando ainda com os olhos voltados para Luna. Ela continuava conversando efusivamente com aquela pessoa que acabara de conhecer, mas, quando viu um repórter ao lado entrevistando um dandoniano, se dirigiu até lá.

— Cara, você é exatamente igual aos ET's dos filmes — ela falou, histérica, e ele pareceu confuso. Quando olhou para frente, percebeu que estava atrapalhando uma entrevista, olhou para a repórter desconfiada, depois deu uma gargalhada. — Hoje é dia de rock, ET's! — disse, depois saiu correndo e, por incrível que pareça, não tropeçou.

Sabe, é engraçado o momento exato que faz com que as pessoas se apai- xonem. E mais ainda o motivo.

Alguns dizem que é quando vislumbramos o lado mais humano das pessoas. Situações pitorescas em que estamos livres de qualquer influência do mundo ex- terno, em que somos simplesmente... nós mesmos. Outros dizem que é como uma picada de mosquito e que não importa quantas camadas de roupas você tenha so- bre a pele, ou se passou repelente, ou se ficou trancado dentro de casa para evitara picada. É um mosquito que ultrapassa as barreiras dos tecidos, da racionalidadee qualquer outra. E você sente a picada na hora mesmo que esteja bêbado; naverdade, talvez até a sinta mais intensamente nessa circunstância. O que importa é que você sabe que foi picado, pois o mundo simplesmente deixa de ser o mesmo.

Enquanto Bok ainda observava a cena, reparou que alguma coisa no mundo não parecia mais ser igual. Ele ainda estava na mesma festa com as mesmas pessoas e usando as mesmas roupas, mas algo estava diferente.

Foi cambaleando até o garçom e balbuciou:

— Duas bebidas que piscam, por favor. Obrigadooo.

O garçom o encarou antes de lhe entregar duas bebidas com um de seus quatro braços.

— Eu acho que eu estou dìoghraskyea por ela — disse, olhando para o nada, tentando inutilmente acertar o canudo na boca. Dìoghraskyea é uma expressão gagrilyana usada para indicar quando você mal conhece uma pessoa, mas nutre por ela um sentimento enorme semelhante ao amor. O garçom olhou para ele, confuso. — É, definitivamente. Eu estou — Bok continuou, balan- çando a cabeça e olhando para o garçom. — O que devo fazer?

O garçom havia brigado com sua esposa e não estava com paciência para bêbados sentimentais naquela noite.

— Dizer a ela, e não a mim.

— É isssso que eu farei. Obrigado, amigo. — Bok o abraçou antes de ir.

Quando voltou, ao ver que Luna já não estava mais no mesmo lu- gar, sentiu um aperto no peito. Procurou por ela entre a multidão com um desespero exagerado, a sensação de vazio o consumindo conforme o ambiente parecia escurecer. Sentiu as palpitações aumentarem, temendo que algo ruim tivesse acontecido, que alguém tivesse a raptado ou que ela tivesse tropeçado e quebrado o pescoço. Então, olhou para o lado e perce- beu que ela estava apenas sentada em um banco, sozinha.

Bok lhe entregou o copo, mas ela não bebeu. Estava tão bonita ali, cabisbaixa e com o olhar perdido no chão... Como alguém pode tornar o ato de contemplar o piso uma coisa tão esplêndida?, pensou ele, decidindo que era o momento certo para se declarar. Talvez fosse cedo demais para fazer aquilo, mas Bok sempre acreditou que as coisas pensadas em um momento de bebedeira eram verdadeiras; coisas na qual sempre pensamos, mas que nunca tivemos coragem de revelar. E o modo como se conheceram e tudo o que havia acontecido só podia ser o destino agindo.

— Luna, eu preciso te dizer uma coisa — disse, sentindo suas mãos suando e seus batimentos acelerados.

Depois que ele disse isso, Luna deu um gole na bebida e o beijou.

A reação Adversa do Caos  - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora