Capítulo 6

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Bok e Luna já haviam se acomodado no apartamento de hóspedes que ficava no 104o andar. Era tão sofisticado e moderno quanto a sala em que esteve, e Luna estava tendo dificuldade em fazer coisas básicas como ligar uma torneira ou abrir uma porta.

Demorou uma eternidade para descobrir como ligar o chuveiro.

— Ligar chuveiro. — Era feito pelo controle de voz.

— Olá, como você gostaria que saísse a água? — perguntou uma voz robótica.

— Hã? Isso é sério?

— Estou aqui para tornar esse banho o mais agradável possível. Como gostaria que saísse a água? — repetiu a voz.

Luna não acreditou no que estava ouvindo. Ela realmente estava falando com o chuveiro?

— Pode ser assim, tipo, hum... bem quente, mas não tão quente? Quente, mas que você não sinta sua pele derretendo, sabe?

O chuveiro ligou e um pouco de água começou a sair. — Assim está bom?
— Está perfeito!
— E a intensidade do jato?

— Pode ser assim, nem fraco, nem forte? Tipo um médio, só que mais pra fraco. Mas não tão fraco, sabe? — Luna pediu, logo se dando conta de que talvez suas orientações tivessem soado confusas.

O chuveiro aumentou a intensidade, deixando exatamente como ela pediu.

— Nossa, eu não acredito. Está perfeito de novo! Obrigada.

— Por nada.

— Eu acho que isso, de longe, foi a coisa mais legal que eu vi desde que cheguei aqui. Ok, na verdade eu disse isso de tudo que eu nunca tinha visto — disse entre risadas. — Mas, sério, eu acho que isso foi o melhor até agora. As pessoas costumam conversar muito com você?

— Na verdade, não.

— Por quê? O banho é o melhor lugar para organizar as ideias.

— Não sei.

— Mas você pode conversar?

— Eu possuo o sistema operacional do Ultra Max Chuveiro 8000, o que me capacita a discutir sobre qualquer assunto do Sistema.

— Então, você é tipo um psicólogo do banho. Mas você não tem um nome de verdade?

— Não. Apenas Ultra Max Chuveiro 8000.

Luna não se sentiu muito confortável em desabafar sobre sua vida com alguém que tinha números no meio do nome.

— Hum... Posso te chamar de... Freud? — Claro.
— Eu me chamo Luna, a propósito.
— Ok, Luna.

Luna saiu do banho com uma leve sensação de que tudo naquele lugar, não só o chuveiro, era perfeito para ela. Ela passara toda a vida sentindo que não se encaixava nos lugares, mas, naquele momento, em- bora estivesse ali há pouquíssimo tempo, sentia que aquele era seu lugar. Conseguia facilmente se visualizar morando ali para sempre, e o futuro não a assustava de maneira alguma. E esse era um sentimento totalmen- te oposto ao que vinha sentindo em relação à sua vida desde que fora expulsa do colégio.

Um sorriso involuntário tomou conta de seu rosto ao avistar uma enorme caixa de presentes em cima da cama. Junto, encontrou um bilhete:

Acho que você vai gostar. Não sei o que estão usando na Terra agora‚ mas se lembre de que não está mais lá e de que aqui você pode usar o que quiser.Marquei um horário para você no salão de beleza do 38 andar. Estão aguardando você.

A reação Adversa do Caos  - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora