De frente para o amor - Série 'Irmãos D'angelos'

Capítulo 02.

Um pigarro soou próximo a nós dois e Enzo e eu desviamos os nossos olhos, ambos encarando o casal que nos olhava com sorrisos gigantescos e constrangedores. Eu corei, lançando um olhar de alerta para Alessia, antes de desviar os olhos da minha amiga e seu marido, simplesmente ajeitando a bolsa no colo para disfarçar meu constrangimento, uma olhada discreta me mostrou Enzo, nada constrangido entretanto, ele simplesmente fechou a cara para a irmã mais nova que arqueava a sobrancelha em sua direção. Nada abalava a confiança dos D'angelos e isso era um fato impressionante sobre essa família.

Percebi uma conversa silenciosa ocorrendo entre eles, e eu podia apostar que Enzo estava silenciosamente amaldiçoando Sissa. Ela podia ser bastante insiste quando queria e se estivesse perturbando Enzo com a metade de empenho com que me perturbavam eu tinha certeza que Enzo estava quase ficando louco nas mãos da minha amiga.

— Podemos? — Ele indicou sua sala impacientemente e revirou os olhos quando Sissa passou por nós dois, olhando-nos com a expressão travessa e um riso nos lábios. — Não comece. — ordenou antes que ela abrisse a boca e Alessia bufou, sentando-se elegantemente sobre uma das poltronas da sala. 

Minha amiga tinha mudado consideravelmente desde o casamento e a proximidade com Enzo. Havia uma certa natureza nela que não estava presente antes, quando ela renegava o dinheiro da família e se abstinha de qualquer coisa que viesse do próprio lar. Alessia parecia mais à vontade sendo quem ela sempre foi: uma mulher rica e poderosa, mesmo que ainda não houvesse perdido o seu jeito de menina travessa.

Logan lançou à nós dois um olhar compadecido, dando dois tapinhas no ombro de Enzo e leve aperto no meu, quando passou por nós. Enzo torceu os lábios, dando um olhar incrédulo ao vê-lo se sentar ao lado de Sissa e eu mordi minha bochecha, tentando me manter séria o bastante para não rir da sua expressão sofrida. Apesar de tudo, Enzo parecia mais leve e feliz. Era diferente do homem de expressão fechada e descontente que eu via para todos os lados.

Mesmo agora, lançando certos olhares infelizes para a irmã, eu podia ver mais claramente o amor e carinho que eu sempre soube que existia. Enzo nunca foi para mim o que foi para Sissa, independente do meu coração partido, eu sempre vi nele a bondade e gentileza que nenhum dos seus irmãos foi capaz de enxergar ou aceitar existir. Enzo era puramente um homem ferido que buscou auxílio e refúgio no trabalho incessante e na distância das lembranças. 

Parte de mim sempre soube que Enzo talvez nunca fosse capaz de me amar, mas nem por isso deixei de desejar esse amor. 

— Andrea, suspensa as ligações. — Ordenou ele com a voz grossa e imponente antes de fechar a porta de vidro e sentar-se à sua mesa. Ouvi cada um dos seus passos pesados conforme ele se aproximava da cadeira em que eu estava sentada e a rodeava para sentar à minha frente, então senti como se o ar ficasse mais pesado e o neu corpo reagiu imediatamente quando Enzo passou por mim deixando um rastro do seu perfume. 

Eu jamais poderia esquecer o cheiro dele, simplesmente porque era seu perfume natural. Enzo não era dado à fragrâncias, mas eu adorava o cheio de limão da espuma de barbear, o cheio do sabonete e da sua pele misturados e a forma como ele deliciosamente cheirava quando estava mais quente e agitado. Não suado, mas algo que se intensificava em sua pele quando estava agitado. 

Balancei minha cabeça, espantando os pensamentos do torso nu e os pelos dourados que eu me lembrava de ter traçado os dedos ao longo de uma noite inteira. Minha pele formigava com a lembrança e eu me amaldiçoava a cada vez por jamais conseguir esquecer a sensação do toque de Enzo sob a minha pele.

É como se ele tivesse me marcado de forma tão intensa que mesmo sob o toque de outros homens, eu procurasse pelo dele. Nenhum, infelizmente, era igual. Todos podiam me dar prazer e luxuria, mas não a reverência apaixonante que senti naquela noite.