Um

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Eu tinha uma vida ótima. Meus pais eram super amorosos, morávamos em uma casa cheia de amor e alegria e eu era feliz. Verdadeiramente feliz.

Até que não era mais.

Minha mãe ficou muito doente e faleceu sem me dar a change de me despedir. Meu pai, depois de muito pensar após a morte de sua esposa, chegou a conclusão que eu precisava de uma mãe. E eu o apoiei inteiramente nisso, ele merecia ser feliz como era antes. Mas como eu saberia que depois de se casar com o demônio, ele morreria frio e sozinho enquanto dormia, e me deixaria num completo e total inferno.

-- Wonwoooooo!-- acordei com o lindo som do grito de Seungkwan-- O café já tá pronto?

Levantei do chão e tentei limpar minhas roupas. E não fiquem preocupados, normalmente eu não durmo no chão. Eu tenho um quarto, que era um sótão cheio de poeira, mas era um quarto na visão da minha madrasta. As vezes eu durmo em frente da laleira pra me aquecer. Eu disse que eu tenho um quarto, não uma cama quentinha.

-- WONWOOOOO!-- Soonyoung gritou ainda mais alto que Seungkwan e eu desci correndo.

Fui ao celeiro pegar ovos e leite para fazer o café da manhã daqueles mimados.

Tínhamos vários criados, cozinheiros e empregados, que eram meus amigos a cima de tudo. Mas depois da morte do meu pai, não conseguíamos dinheiro o suficiente para pagar os serviços deles. Então, um por um, eles foram me deixando sozinho nessa casa com a minha madrasta e meus dois irmãos postiços. E com o passar do tempo, eles foram me tratando menos como uma pessoa e mais como um robô, que limpava, cozinhava, arrumava a casa e não ganhava nada em troca.

Acabei de por a mesa no exato momento que os três chegaram a sala de jantar. Meus irmãos postiços, Seungkwan e Soonyoung, enchiam meu saco, mas nada que eu não pudesse suportar, agora ela... Ela era o demônio em pessoa e fazia de tudo para fazer da minha vida seu inferno particular.

Sai da sala de jantar na mesma hora e fui para cozinha pegar a comida. Parei antes de entrar na sala e respirei fundo.

Mais um dia no inferno.

Entrei na sala de jantar, finalmente, e organizei a comida na mesa. Estava prestes a sentar na mesa para comer também quando fui interrompido.

-- O que está fazendo?-- minha madrasta falou.

-- Me sentando.

-- Está todo sujo de cinzas-- Seungkwan disse rindo enquanto eu tentava limpar meu rosto-- Isso dá um bom apelido.

-- Cinderela?-- Soonyoung sugeriu.

-- Não seu idiota, não combina com ele-- o loiro botou a mão no queixo, pensando-- Já sei, já sei! Wonderela!

-- Eu só queria me sentar e...-- falei mas fui cortado.

-- Você faz a comida, nos serve e acha que tem o direito de sentar na mesa?-- a madrasta riu.

Tirei o prato e os talheres que tinha colocado para mim e fui em direção a cozinha. Tentei colocar o prato na bancada, mas eu estava tremendo muito por causa do choro que nem percebi que tinha começado. Me assustei com o barulho do prato quebrando e chorei ainda mais.

Depois de 40 minutos, eu parei de chorar, me recompus e estava indo em direção ao sótão-- ou mais conhecido como meu quarto-- quando ouvi alguém tentando tocar piano, muito mal por sinal. Dei uma espiada na sala e vi Seungkwan tocando piano horrivelmente e Soonyoung tentando desenhar minha madrasta, tentando e não conseguindo.

Dei uma pequena risada e a madame-- como minha madrasta gostava de ser chamada-- me olhou feio. Mas em menos de um segundo ela sorriu maldosamente e derrubou "por acidente" sua xícara de café no carpete.

Quase soltei um palavrão. Sabe o quanto era difícil lavar aquele carpete?

-- Wonderela, pode limpar isso aqui?-- falou autoritária.

Estou cansado se fazer tudo o que ela pede, estou cansado de aceitar a minha vida dessa forma e estou cansado de ser bom toda hora.

Tenha coragem e seja gentil, Wonwoo.

Foram as últimas palavras que minha mãe me disse antes de morrer. Mas porque? Eu nunca tratei ninguém mal na minha vida e olha como me tratam? Eu apenas estou cansado.

-- Não-- eu falei e os três olharam pra mim de olhos arregalados.

-- O que você disse?-- ela me olhou desafiafora-- Repete.

-- Eu não vou limpar pra você, sabe porque? Porque você não me paga, me trata como lixo e nunca se importou com ninguém além de você mesma!-- gritei frustado-- Um dia eu vou fugir dessa casa-- cheguei mais perto dela e falei baixinho-- E você vai sentir a minha falta.

Ela olhou para os dois lados e Seungkwan e Soonyoung sairam da sala. A madame levantou do sofá e andou devagar até mim enquanto ria.

-- Você quer fugir? Fuja-- apontou para porta-- Pegue um cavalo e saia dessa merda de casa!-- gritou--Mas esse reino é muito pequeno-- pegou no meu queixo e aproximou a minha cara da dela-- E se você se atrever a fugir, tenha certeza que eu vou te encontrar. Se acha que esse é o inferno, é porque não sabe do que eu sou capaz de fazer, garoto-- tirou a mão do meu queixo e deu um tapa estalado na minha bochecha.

Se sentou no sofá de novo como se nada tivesse acontecido e pegou o livro que minha mãe sempre lia pra mim.

-- Que livro bonito-- alisou a capa com suas longas unhas-- Parece ter um grande valor sentimental pra você. Era da mamãe, não era?-- assenti com a cabeça-- É uma pena mesmo-- e sem nenhum ressentimento, tacou o livro no fogo da laleira.

E eu fui obrigado a ver o último pertence da minha mãe queimar no fogo do inferno que eu estava passando, sem poder fazer nada.

-- Não chore aqui, querido-- disse analisando suas unhas-- Vai sujar o carpete.

Sai correndo daquela casa, peguei um dos cavalos do celeiro e cavalguei com ele o mais rápido que pude. Eu só precisava me afastar de tudo isso, da minha madrasta, dos meus irmãos e daquela casa que antes costumava ser tão feliz.

Será que um dia a minha vida iria mudar?

єяα υмα νєz мєαиιє Onde histórias criam vida. Descubra agora