Faixa 5: A Ordem das Árvores

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 Eu já nem me lembrava mais da última vez que nos vimos. Já faziam muitos dias, semanas, talvez um mês?
 Mas minha agonia que me prendeu no sofá depois de uma longa manhã sentada na frente de um computador, logo foi embora quando vi seu nome aparecer na barra de notificações, eu nem imaginava que uma notificação me faria despertar dessa forma.
 Cliquei, abri nossa conversa e lá estavam elas, suas mensagens implorando pra que eu já estivesse livre e caso eu estivesse, pra me arrumar rápido porque você estaria na portaria em menos de 30 minutos.

Eu sentia algo bom chegando, talvez fossem as suas borboletas me rondando novamente.

 Quando desci, lá estava você, sempre apresentável e bem vestido, com um sorriso no rosto que me deixava cada vez mais entregue a ti. Nos abraçamos e eu senti o cheiro bom do seu perfume fraco que traziam energias de um banho recente, você odiava fragrâncias fortes e que impregnavam no corpo.
 Entramos no carro e você me perguntou pra onde iríamos, eu sugeri um parque que ficava perto de casa, assim não ficaria tão ruim pra voltar.
 Conversamos sobre nossos dias, confusões no trabalho, você falou dos seus pais e até me disse que sentiu minha falta. E eu sorri dizendo que também senti a sua, mas me fingindo de difícil pra não parecer desesperada.

Eu senti tanto a sua falta que pensei até que já tivesse se esquecido de mim, exagerada, eu sei, mas foi você que me deixou assim.

 Chegamos no parque, compramos sanduíches com suco e procuramos uma grama sem formigas -porque você não gosta de insetos- e continuamos conversando.
 Esperamos um pouco e de tanto conversar acabamos deitados na grama, olhando pro céu doente da cidade e como sempre, colocamos nossas paranoias em dia. Falando em dia, o nosso já estava acabando, o sol foi se pondo devagar e um laranja forte coloriu o horizonte coberto de prédios.

O parque era a salvação da rotina constante e preocupante da cidade, e talvez, você fosse como um parque pra mim.

 Senti você segurar minha mão, tão suada de nervoso por ter você ali.  Você me olhou e por puro impulso começamos a rir um da cara do outro. Senti teus lábios tão perto que pareciam a primeira vez.
 Nossa situação era engraçada, não sabíamos o que queríamos mas queríamos um ao outro. Me disse que gostava muito de mim e que se sentia bem comigo, que queria me ver mais vezes e seu papo foi interrompido por passarinhos que pousaram do nosso lado pra comer migalhas de cachorro-quente largado por alguém.

Pássaros, me fizeram lembrar de uma faixa. Me fizeram ligar a faixa à nossa situação.

  Veio na cabeça pássaros e árvores que se complementavam e se protegiam. Ordem de pássaros e árvores que tinham histórias bonitas.

 Nossos poucos momentos que se tornavam muitos pelo simples fato de ser você. Não importava se você ia ou voltava quantas vezes fossem, ainda ia te esperar, te acolher e ouvir sobre todos os seus problemas existenciais que te apavoravam, sentir seus abraços, cheiros no pescoço e sorrisos próximos aos meus lábios.

"Toda paineira carrega um bem-te-vi"
"Tem sempre um colibri que gosta de jatobá"
"Beija-flor é casa de ipê"

Você me disse que eu sempre vou ser sua casa.
Pois então minha casa sempre vai ser você.

Porque se a ordem das árvores não altera o passarinho.
A ordem do seu ir e vir da sua cidade até a minha, não altera nada do que eu sinto por ti.

Estarei sempre aqui, esperando você voltar, como pássaros voltam aos seus ninhos.

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