Ephemeral; KSJ

Faixa 4: Pedrinho

"Se criou num tipo de persona, livre e bem confortável com sua nudez." - Tulipa, sobre a faixa 'Pedrinho'

 Sempre ao ouvir 'Pedrinho', eu me lembrava de você, parecia ser você.
Chegando de fininho, andando confortavelmente como se estivesse descalço num tapete fofo, levava a vida de um jeito leve e às vezes, falava coisas que nunca tínhamos imaginado mas que precisávamos pensar sobre.

Era sábio, pensava bem, se portava bem.

 Chegou de fininho também no banco em que eu estava sentada, trocava risos e histórias inacreditáveis.
Como Pedrinho, você é criativo e autoconfiante, de fato um cara cortês.
Parece com Pedrinho, que parece comigo, mas bem resolvido com sua nudez.

 Você também é resolvido assim, como se suas roupas fossem o lacre da tua alma.
É bem resolvido em tirar esse lacre, me mostrou seus sentimentos, paranoias, sons favoritos, animais que estranhava, comidas que você odiava.

 Me mostrou o mais profundo de ti, mesmo sem me conhecer direito e até hoje me pergunto - porque tive vergonha de te perguntar - se você tinha bebido algo aquele dia em que nos conhecemos.

 Pedrinho tirou da cartola uma flor e à presenteou num domingo de sol.
Você não tinha cartola, nem flor, e morrendo de medo do cachorro da casa de frente pra praça, colheu uma daquelas florezinhas roxas que senhorinhas insistem em plantar em seus quintais, numa sexta-feira de feriado, depois de uma chuva passageira.

 Nós, como Pedrinho e a garota, depois de algumas horas viramos amigos queridos e acabamos dividindo o mesmo lençol. Era estranho como essa faixa parecia nós.

 Ela jurava para Pedrinho que a cantiga não falava de amor e eu paguei minha língua em também jurar que não era amor mas, querido, esse som acho que... Me lembrou você.
Me lembrou aquele dia, a florzinha que não durou nem dez minutos na minha orelha, seus pés balançando no banco da praça, nosso papo profundo, seu licença e um copo d'água que virou 'bom dia, dormiu bem?'.

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