A luz invadia o aposento por uma singela fresta nas opulentas cortinas de seda bege. Lá fora, os murmúrios e passos dos criados já ecoavam, conduzindo o labor nas primeiras horas da manhã. Ao longe, ouvia-se o gorjeio de pássaros aninhados no topo das árvores em torno do imenso casarão, conferindo um ar bucólico ao lugar.
No quarto, repousava um jovem de pele alva e fisionomia delicada. Seus cabelos, negros como o véu da noite, caíam-lhe sobre a fronte serena. O burburinho além das paredes fazia-o despertar vagarosamente.
— Desperta-te, Mateus! — trovejou a voz de seu pai, tentando, sem sucesso, arrancá-lo do torpor.
— Pai... — murmurou, ainda sonolento, deixando escapar palavras inaudíveis.
Mateus rolou sobre a cama, fazendo os cobertores deslizarem para o chão e expondo seu corpo à leve brisa da manhã campestre.
— Acaso esqueceste nosso compromisso?
— Não, meu pai... não esqueci — respondeu em tom desinteressado, enquanto se sentava lentamente.
Seu pai ordenou-lhe que não se demorasse. Mateus assentiu e observou o patriarca retirar-se do aposento. Com relutância, ergueu-se, esfregando o rosto com ambas as mãos, dando leves tapas em sua face e balançando a cabeça para afastar o resto da preguiça. Procurou os chinelos no chão e, após um breve instante, encontrou-os.
Despindo-se, Mateus já tinha em mente o que vestiria para a ocasião. Sobre a cama repousava uma camisa branca de abotoar, um par de calças marrons, um suspensório marrom e seu colete favorito, de tom verde-escuro. Vestiu-se rapidamente e desceu até o salão onde costumavam tomar o desjejum. Ainda na escada, pôde ouvir a animada conversa entre seu pai e um jovem que identificou como seu irmão, Lucas.
— Que tens? — indagou Mateus, ao perceber o olhar incrédulo de seu irmão.
— Nossos compradores não nos tomarão a sério se continuardes a demorar-vos desta forma. — Seu pai o repreendeu.
Mateus torceu os lábios, insatisfeito com o comentário do velho, mas sabia que não era prudente iniciar uma discussão. Sentou-se à mesa em silêncio e começou a tomar seu desjejum.
Terceira vítima encontrada — Autoridades continuam perplexas diante da estranheza envolvida nos casos
Mateus logo se interessou pela notícia, tanto quanto seu irmão, que folheava avidamente o jornal. Tentou tomá-lo das mãos de Lucas, que resistiu, resultando num breve e desajeitado confronto, que findou com o jornal rasgado ao meio.
— Olha o que fizeste, peste! — ralhou Lucas, furioso, lançando-lhe um olhar encolerizado.
Embora gêmeos, Lucas era facilmente distinguível de Mateus: menos atlético, mais baixo e com cabelos ondulados e volumosos que lhe chegavam aos ombros.
— Não sois mais crianças! — trovejou o pai, batendo com o punho sobre a mesa.
— Mas, pai! Foi Mateus quem começou! — protestou Lucas, indignado.
— Pouco importa! Sois homens, comportai-vos como tal.
Após essa bronca, os rapazes aquietaram-se e terminaram o desjejum cabisbaixos, sem mais altercações.
Ao fim da refeição, composta por frutas frescas, pãezinhos preparados pelas cozinheiras e suco de laranja recém espremido, Mateus e Lucas acompanharam o pai até o armazém para supervisionar o carregamento dos sacos de café, que seriam levados ao centro da cidade.
A idade avançada tornava a viagem à cidade uma tarefa árdua para João. Mateus, por outro lado, via as idas ao centro como uma oportunidade de se afastar da vigilância do pai e perambular pelas ruas em busca de novas aventuras e belas moças a cortejar.
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O Amor de Isabelle
VampireLucas e Mateus são filhos de um fazendeiro bem-sucedido no ramo de produção de café. Uma noite sentados em sua varanda, os irmãos conhecem a misteriosa Isabelle, que acabara de mudar-se para o terreno próximo ao deles. Uma violenta paixão arrebata o...