Nas margens do rio Amazonas

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— Dizem também, que eu não sou obrigada a ouvir uma barbaridade dessas, dentro de um ônibus que não deixam nem mesmo eu fumar - Eu respondi irritada, não fumar me irritava, viajar de São Paulo ate o Mato Grosso de ônibus me irritava, mas nada me irritava mais que essa senhora, ela embarcou conosco na rodoviária, e desde então a única coisa que escutamos foram lendas sobre um maldito boto rosa.
Na primeira parada, Maria desceu comigo para comprar algo que comer, a menina de cabelo preto e pele branca estava com os olhos castanhos cansados, seu corpo magricela andava devagar pelos corredores da loja de conveniência, talvez se usasse menos cocaína fosse mais bonita, ou pelo menos, seria mais arrumada.
— Aquela mulher, Samantha, nos vamos jogar ela pela janela - Ela me disse, a mulher parecia uma índia, mas eu não saberia ao certo se era ou não.
— E você? Comprou comida ou farinha de trigo?
- Engraçada, eu comprei pão e uns frios, espero que os meninos gostem, nenhum quis levantar, talvez ainda estejam de ressaca da ultima festa, a festa que nos colocou naquele maldito ônibus — Maria desgastava meus ouvidos com aquelas palavras.
Antes de subirmos para mais algumas horas de viagem, deixamos nossos pulmões calmos, fumando pelo menos três cigarros cada.
Trinta e seis horas no inferno até chegar em um lugar que eu nem queria ir.

Quando acordei, Jonathan e Maria estavam claramente transando no fundo do ônibus, estávamos só nos quatro e aquela índia, que graças a Deus estava dormindo. Me dei conta que olhei por pelo menos dez minutos os atos do casal, enjoada e um pouco excitada, procurei ao redor onde estava Felipe, do outro lado, babando enquanto dormia, ele era tão lindo, sua pele negra e olhos escuros sempre me deixavam sem graça, ele tinha um jeito único, mas nunca me deu bola, eu nem saberia dizer por qual motivo ele anda com a gente, de longe, era o mais legal, e topava tudo.
Corri para o banheiro apertado do ônibus, o pequeno espelho mostrava meu cabelo enrolado totalmente bagunçado, minha pele morena estava ressacada pelo calor que já fazia, apenas passei água em meu rosto e no meu cabelo, o prendi, e vesti um cropped, ficando com o mesmo shorts, quando sai do banheiro, todos estavam prontos para descer, finalmente chegamos.
A cidade toda cheirava a mato e carvão, o calor tão insuportável que eu sentia vontade de me despir, todos estavam pegando a bagagem, quando a índia passou por mim.
— Vocês são uns irresponsáveis, horríveis, o que querem aqui?
— Vou te contar um segredo, tia — Eu encostei meus lábios na orelha dele, e sussurrei de forma irônica: — Grande plantação de maconha.
Ela murmurou algumas ameaças, que naquela altura, eu já não ouvi.
A pousada que nos ficamos, era próxima a rodoviária, dois quartos e apenas um casal, Maria e Jonathan, eu e Felipe, o casal que nunca aconteceu. Maria me chamava de idiota, como sempre fez, ela dizia que era só eu me esfregar que ele cairia na minha mão, e as vezes, eu só queria responder, que nem todo mundo era uma vagabunda como ela.

Cinco horas de sono não foram o suficiente, mas Maria queria conhecer o centro da pequena cidade, e todos fazem o que ela quer. Quando sai do banheiro com a toalha enrolada sobre meu corpo, Felipe estava no quarto.
— Ow, eu sinto muito — Ele disse envergonhado.
— Bom, esta tudo bem. — Eu me sentei na cama ascendendo um baseado, a cada tragada eu sentia mais paz dentro de mim, passei para o Felipe e me troquei, virada de costas, torcendo para que ele estivesse me olhando, para que ele quisesse meu corpo.
— Eu não quero ver se estiverem transando, não quero ver —  Disse Maria, entrando no quarto com os olhos tampados, quando voltei o olhar para o Felipe, ele continuava na mesma posição, vestido e sem nenhum volume aparente.

As duas primeiras horas no centro da cidade se baseou em fumar erva e beber cerveja, nem mesmo uma cachaça que prestasse tinha nessa cidade, a cada lugar que eu olhava, via crianças homens e mulheres a me encarar, como se nunca tivessem visto uma paulista fodida na vida. Eu brindava sozinha a isso.
— Maria achou doce, ta afim? — Jonathan apareceu atrás de mim ao dizer, eu me assustei, mas logo concordei, nunca não aceitaria lsd.
Quando me aproximei do grupo, eles estavam fazendo a compra com um rapaz que me parecia também indígena, ele sorriu como se me conhecesse, e me entregou o quadradinho que logo coloquei na boca, sem pensar.
— Produto indígena, viagem quadridimensional - disse Felipe e eu apenas sorri, nos afastamos um pouco do grupo para pegar outra cerveja, nunca tínhamos assunto quando estávamos sozinhos, eu esperava que a droga mudasse isso.
Maria se aproximou.
— Então, aquele índio gostoso ta afim de você, ele é bonito, e disse que banca nossa cocaína se você aceitar ir em tipo uma rave na margem do rio Amazonas.
Eu não usava cocaína e Maria sabia, mas concordei em ir, e apenas em ir.
Não demorou muito para chegarmos no local, pessoas dançavam ao som de eletrônico, e eu logo me juntei a elas, a brisa da droga e o som se encaixavam, e eu não conseguia pensar em mais nada, eu era inteira naquele momento.
A todo momento que abria os olhos, me deparava com o mesmo rosto, ele era negro, alto, seus lábios pareciam me convidar para um beijo lento, seu chapéu branco era divertido, e depois de muito flerte a distância ele se apresentou, seu nome era Gustavo, e ele também não era da cidade, ele me agarrou pela cintura ficando atrás de mim, e nossos corpos se uniram, e nos tornamos um.

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