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Aquilo já estava virando rotina nos finais de semana. Eu, na casa da Alessa, assistindo um filme com a cabeça apoiada em seu ombro.
Um ano a conhecendo, um ano admirando ela mais e mais até que essa minha "admiração" se tornou um sentimento mais forte. Eu estava tentando flertar mas aquele era o mais longe que eu conseguia chegar no quesito flerte: colocar a cabeça no seu ombro.
Eu nunca fui fã de riscos. Sempre que eu sentia um risco eu preferia me afastar da situação. Eu aprendi que risco é quase sempre sinônimo de problemas e problemas sempre devem ser evitados se possível, mas às vezes eu me perguntava, será que ela era um risco que valia a pena?
Eu pensava muito nisso, muito mais do que eu gostaria de admitir, mas também, como não pensar? Ela era perfeita! Seu perfume cítrico me invadia por eu estar com meu nariz muito perto de seu pescoço, seu cabelo preto- que caía em cachos perfeitos até a altura do ombro- estava jogado todo para o lado direito para que ele não atrapalhasse minha vista do filme de ação que estávamos vendo. Honestamente, eu não estava prestando atenção no filme desde que Alessa começou a mexer no meu cabelo. Ela era tão... intoxicante.
Eu só voltei a prestar atenção no que estava acontecendo quando ela fez um sinal para eu me afastar e se levantou.
Eu dei um pequeno suspiro quando eu me afastei, e torci para ela não ter percebido.
- Ei, Alana, eu vou para a cozinha pegar uma água- ela disse, sem mostrar sinal de ter percebido minha demonstração de vergonha alheia gratuita em forma de expiração- você quer alguma coisa?
Me levantei.
- Eu quero uma água também, mas eu desço com você para pegar.
Ela deu um sorriso de lado enquanto nós andávamos.
- Você só não confia em mim levando dois copos de vidro cheios escada acima, não é?
- Talvez eu só esteja indo pela sua companhia.
- Faria mais sentido. Nós duas sabemos que você é a estabanada da nossa relação- ela riu e colocou seu braço sem o saco de pipoca sobre meu ombro.
- Bem, não fui eu que acabei de derrubar um pote de pipoca inteiro no chão- eu murmurei, ciente de que eu provavelmente estava vermelha.
Como ela conseguia me deixar vermelha só colocando o braço por cima do meu ombro?
- Não foi um pacote inteiro, foi meio- ela tentou se justificar, chocando nossos quadris como uma forma de me empurrar, já que suas mãos estavam ocupadas.
Se eu achava que eu estava vermelha antes, naquela hora eu tive certeza.
Nós chegamos na frente do armário da cozinha e ela precisou tirar o braço do meu ombro para pegar um copo.
Enquanto eu enchia o meu, eu percebi ela olhar para a despensa.
- Você quer comer biscoito?-ela perguntou.
- A gente acabou de comer um saco de pipoca!
- Meio saco, na verdade- ela corrigiu- a outra metade caiu no chão.
Eu considerei e acabei assistindo. Era final de semana, e a minha mãe não estava ali para brigar comigo. Acho que eu merecia.
Nós subimos, mas antes que eu pudesse me sentar, eu escutei meu celular tocando do quarto e sabendo que minha mãe era a única pessoa que me ligava, eu saí correndo para lá porque se eu não atendesse rápido ela ia me matar.
- Está tudo bem?- Alessa perguntou quando eu voltei para a sala.
- Sim.- eu respondi, pegando dois biscoitos do pacote que ela não tinha me esperado para abrir- Era a minha mãe. Ela quer que eu desça em cinco minutos.
Ela fez biquinho, e eu não pude deixar de sorrir. Ela ficava tão linda quando ela fazia isso, embora ela provavelmente me empurraria se eu falasse para ela.
- Mas já? Não são nem seis horas ainda, fala sério.
- Eu sei, mas hoje é o aniversário dos meus primos e eu sou obrigada a ir.
Ela deu de ombros e entrou comigo no seu quarto para eu pegar meu casaco e bolsa.
- Tecnicamente,você não é obrigada a nada.
- Fala isso para a minha mãe.
- Eu falaria, mas eu tenho medo de ela me considerar uma má influência e não deixar mais você vir para cá- ela disse, rindo.
- Isso não pode acontecer de jeito nenhum- eu disse com um sorriso- você sabe que eu estaria perdida sem você.
Ela sorriu, mas não falou mais nada.
- Eu consegui convencer ela a irmos direto da sua casa para lá para que eu não tivesse que sair mais cedo daqui para me arrumar em casa- eu falei para preencher o silêncio- Preferi não testar os limites dela depois disso.
- É uma pena- ela disse, enquanto chamava o elevador- Isso explica porque você veio tão arrumada hoje! Eu até me senti deslocada de regata e calça jeans.
Eu sabia que ela estava brincando. Uma das coisas que eu aprendi sobre Alessa durante aquele ano foi que ela nunca estava desarrumada, ela era estilosa e ela sabia disso, mas mesmo assim eu falei:
- Como se isso fosse um problema! Você fica linda de regata e calça jeans- eu desviei meu olhar para as minhas sandálias- e de qualquer outro jeito, honestamente.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, até que o barulho de sino indicar que o elevador chegara. Antes que eu pudesse entrar, Alessa me barrou, entrando na minha frente.
- Espera aí, você está suja de biscoito- ela disse, apontando para a própria bochecha.
Meio sem graça, eu tentei limpar.
Saiu?
Ela franziu a testa e chegou mais perto de mim.
- Não. Deixa que eu tiro.
Ela colocou a mão na minha bochecha, moveu o polegar para o canto da minha boca e nós ficamos ali, congeladas naquele momento, por um tempo.
Então ela se aproximou e me beijou.
Eu entrei em pânico no primeiro segundo, mas depois eu relaxei e a beijei de volta. Foi estranho, mas não ruim. Um estranho bom. Talvez tivesse sido melhor se eu estivesse mais preparada.
Eu me toquei que o elevador tinha ido embora e cliquei no botão para o chamar de novo.
- Esse foi o meu primeiro beijo- eu disse, olhando para qualquer lugar menos para ela- eu não sei direito o que eu deveria estar fazendo.
Ela sorriu e delicadamente segurou meu queixo.
- Você não precisa saber o que fazer, é mais para sentir. Se você você quiser- ela deu aquele sorriso de lado que sempre fazia meu coração bater mais rápido- a gente pode tentar de novo.
- Por mim tudo bem- eu disse e sorri enquanto ela se aproximava de novo.
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Milhões de Estrelas
RomanceAinda ignorando Alessa, a primeira garota por quem se apaixonou, Alana decide fazer um internato em Nova York. Infelizmente, o destino a odeia e Alana a reencontra nesse mesmo internato, o mesmo lugar onde ela conhece Ília, sua colega de quart...