O gosto de sangue na minha boca me fez recuar alguns passos, encarando o adversário duas vezes maior que eu enquanto toco o ponto do meu queixo onde ele havia acabado de acertar o punho. Ao lado do octógono despencando aos pedaços, Shawn grita para que eu reaja, enquanto o homem avança e prepara o próximo golpe.
Esquivei meu corpo no último instante, antes de acabar nocauteada, com alguns dentes a menos na boca. Flexionei meus joelhos e estiquei a perna direita, aplicando uma rasteira que o fez desabar no chão e me deu tempo de remontar a guarda. Um suspiro frustrado escapou de seus lábios ensanguentados enquanto ele se levanta, provavelmente surpreso com o poder de reação de uma mulherzinha. A maioria dos caras com quem eu luto entra nas quatro linhas esperando me nocautear na primeira pancada. Sou a prova viva de que aparências enganam. De que a prepotência e o ego elevado podem ser os piores inimigos de alguém.
Esse, por exemplo, se apresentou para o público com um sorriso pretensioso no rosto, alegando que mulheres não sabe brigar e eu ainda me arrependeria por tentar vencê-lo. Aposto que ele não esperava por nenhum dos três socos ou o chute de direita que acertei em seu estômago, fazendo-o desabar no chão manchado de sangue, se contorcendo de dor. Cerrei meus punhos, sentindo outra vez o prazer genuíno de calar a boca de um machista idiota.
O juiz asqueroso que havia tentado me assediar no vestiário a vinte minutos e ainda está com o olho roxo que lhe dei de presente contou dez segundos antes de, contragosto, me dar a vitória por nocaute. Ergueu meu braço direito e os apostadores gritaram, atirando latas de cerveja para o alto enquanto ganham alguns milhares de dólares nas minhas costas.
O que insistem de desacreditar em mim, provavelmente estão xingando palavrões agora.
-Certo. Mais uma para a conta. Você está bem? -Shawn perguntou, estendendo a mão. Desci do octógono e ele me colocou sentada sobre a arquibancada, conferindo meu maxilar dolorido- Não está quebrado. Ainda dói muito?
-Não. Estou bem.
-Se não estivesse, não diria -sorriu, revirando os olhos. Alcancei a garrafa de água no bolso da mochila e a atirei no meu rosto, recebendo olhares e cumprimentos de alguns dos caras que passaram por nós- Precisamos treinar mais sua velocidade. Hoje, por exemplo, mais dois segundos e ele te apagava.
-Sim. Cuidamos disso amanhã -inclinei meu rosto para selar os lábios dele- Preciso ir para casa. Hoje meu turno começa mais cedo.
-Quer que eu te acompanhe?
-Não. Vai se atrasar para a aula. Te ligo mais tarde.
-Tome cuidado. Amo você.
Assenti, recebendo outro beijo breve antes de apanhar minhas coisas e seguir para saída. Shawn ficaria para fechar o galpão, que pertence ao pai dele, responsável também pela liga amadora de luta do Brooklyn. Eu precisava ignorar meus músculos doloridos, tomar um banho e pegar dois ônibus para o meu último trabalho do dia, em um bar de Manhattan.
As ruas estavam cheias de pessoas voltando para casa depois de um dia cansativo, traficantes começando a vender para almofadinhas engravatados ainda às cinco da tarde, comerciantes e os curiosos que estavam lá dentro assistindo às lutas do dia. Caminhando com pressa após comprar um café barato em uma barraca qualquer, gastei cinco minutos até a minha casa. Shawn me enviou uma mensagem dizendo que Justin, administrador das lutas, já havia lhe entregado meu dinheiro.
Quinhentos dólares.
Depois de um mês inteiro derrubando patetas de dois metros e meio, me matando naquele maldito octógono e carregando o negócio clandestino deles nas costas, porque quase ninguém lá tem condições de protagonizar uma luta descente, quinhentos dólares.
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STRONGER
RomanceLauren Jauregui é dona da Foxes House, uma das maiores academias de luta clandestina dos Estados Unidos. Se ego e prepotência possuíssem forma física, seria ela, sem espaço para dúvidas. Rica, cheia de si, quase sempre inabalável e com tamanha força...