your only way out

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-São basicamente três peças de metal que nós vamos introduzir nas regiões comprometidas da coluna cervical - Erick Harper me explicava pacientemente, apontando com o laser da caneta para os pontos específicos em um esqueleto humano- Se tudo funcionar, em três meses de fisioterapia ela já vai poder ir retornando, aos poucos, à rotina que costumava ter. Atividades domésticas, caminhadas matinais e tudo isso -sorriu- Eu sei que é muito dinheiro, Camila, e posso até colocá-la na fila de espera para realizarmos pelo plano do governo, mas isso levaria algum tempo.

-E quanto mais tempo, menos chances -murmurei, já tendo decorado a frase que mais martelou na minha cabeça durante as últimas horas- Eu vou dar um jeito -garanto- Não faço a mínima ideia de como, mas vou... pedir um empréstimo... -massageei minhas têmporas, sentindo a mão esquerda dele afagar meus ombros- É perceptível que eu estou completamente perdida?

-Está escancarado. Eu já te disse que você é jovem demais para tantas responsabilidades.

-Não é como se eu tivesse alguma alternativa além de lidar com tudo -abri um sorriso sem ânimo, me levantando para cumprimentá-lo- Obrigado por me receber. Estou roubando seu tempo, mas precisava saber mais um pouco.

-Estou sempre à disposição. Qualquer coisa, você tem meu número.

-Claro. Boa noite, doutor.

-Boa noite, Camila

 Eu não sei números exatos sobre quantos pensamentos podem cruzar a mente de um ser humano normal em menos de 24 horas, mas sou a prova real de que muitos. Absurdamente muitos. E desde quando Sinu me disse aquele número grande e minha cabeça deu voltas, considerei as ideias mais absurdas possíveis para conseguir malditos vinte mil dólares e devolver a qualidade de vida dela.

 Vender a casa, vender os móveis, vender meus órgãos.

 E ainda que eu recusasse milhões de vezes a deixar que aquele nome estivesse entre tais pensamentos, Lauren Jauregui me parecia a possibilidade menos fantasiosa. Então agradeci ao fato de eu agir sem pensar quando estou irritada, o que me levou a rasgar o cartão dela ontem, caso o contrário, meu desespero já teria me feito cometer uma besteira.

 Depois do meu turno no café, passei a tarde inteira treinando, sem em momento algum discutir com Shawn sobre aquilo, ou com Sofi e minha mãe, quando passei em casa para tomar um banho antes de pegar os ônibus para Manhattan. Parei no escritório de Erick antes do trabalho, o médico da nossa família a muito tempo, e ele me explicou exatamente o propósito da cirurgia, como ela vai funcionar e o porquê de tanta pressa.

 Eu entendi mais do que gostaria e sai caminhando de lá com o dobro de peso dentro do peito, desdobrando minha mente de formas humanamente impossíveis para tentar encontrar uma maldita solução. Lauren Jauregui. O nome surgia e eu a empurrava para longe. Nada de pouco dinheiro por muito trabalho. A tentação daquela proposta me instigava e eu a negava obsessivamente.

 Entrei, como sempre, pelos fundos do bar, me troquei, me maquiei sozinha no banheiro dos funcionários e me ofereci para ajudar Harry a organizar as bebidas que haviam acabado de chegar, tentando a todo custo evitar Normani e a dezena de perguntas que ela faria ao notar minha tensão. O Four Falls abriu às sete em ponto e eu tentei manter meu foco ali dentro, para não acabar ficando louca.

-Duas cervejas, uma dose de whisky e um sangria -entreguei a comanda à Harry, que a pregou sobre o balcão, manejando as garrafas com habilidade-

-Mila, que você detesta esse lugar todo mundo já sabe, mas hoje sua cara está mais fechada do que o de costume -comentou, em um tom brincalhão- Está tudo bem?

STRONGERWhere stories live. Discover now