slow it down, bitch

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 As paredes brancas cobertas por quadros de família restavam como últimas testemunhas das minhas loucuras envolvendo um fone no ouvido e um aspirador na mão.

 Tocava Love Me Again, do John Newman, logo após Sweater Weather, da The Neighbourhood, e eu dançava sozinha, como se o carpete macio da casa dos Mendes fosse uma pista de dança, sequer ouvindo o rugido irritante do aspirador, tentando gritar mais alto que a minha música. Flexionar as pernas ainda fazia meus músculos doerem, mas havia sujeira debaixo dos móveis e não tive opção.

 Limpei até o último cisco de poeira, cantarolando aquela música e as próximas que vieram. Parei apenas para conferir a mensagem de Sofi, dizendo que ela e a mamãe já havia voltado da consulta. Eram quase três da tarde, eu havia trabalhado no café durante a manhã inteira, treinei por duas horas e ainda tinha uma luta antes das sete. Meu corpo implorava por um banho, comida, algumas horas de sono, e para minha sorte, eu havia me tornado uma especialista em ignorá-lo.

 Me apoiei na mesa de centro para ficar de pé outra vez, engolindo outro analgésico para dores e outro gole da garrafa de água que também deixei por ali. Limpei o suor da minha testa com o antebraço e comecei a guardar os produtos de limpeza quando senti o toque familiar me envolver pela cintura. Ao invés de ficar assustada, como tantas vezes aconteceu, abri um sorriso largo e me encolhi dentro do abraço dele.

-Só queria te deixar sabendo que você me deixa meio perturbado quando dança desse jeito.

-Estava me espionando?

-Admirando -justificou, beijando a curva do meu pescoço- Já acabou?

-Sim -respondi, libertando um último suspiro exausto-

-O que acha de subir? Acho que preciso dos seus serviços no meu quarto.

-Hm, já limpei lá também.

-Não desses serviços.

-Você é tão ridículo -ri, acertando meu cotovelo em sua costela. Empurrei o aspirador para o canto onde estava guardado e o puxei pela mão, em direção às escadas- Cinco minutos

-Dez.

-Cinco.

-Vinte.

-Cinco!

-Ah, que seja -desdenhou, atirando meu corpo contra suas costas- Você sabe que não vamos sair de lá tão cedo.

 Já era quase noite quando chegamos ao galpão e recebi uma bronca de Justin, que estava a um minuto de colocar alguém para lutar no meu lugar. Ambos passamos por ele com um sorriso escancarado no rosto, desdenhando da obsessão dele por pontualidade. Shawn me ajudou com as luvas e o aquecimento em um instante e cumprimentei meu adversário antes de soar a campainha.

 Entre uma maioria de homens com o ego inflado e convencidos de que uma luta contra uma mulher é uma luta ganha, aquele cara foi a exceção. Tivemos um combate duro do início ao fim. Venci por detalhes, um ou outro golpe a mais, o parabenizei com um sorriso no final do último round e desci do octógono, arrancando minhas luvas imediatamente.

 Aplausos, gritos, um e outro suspiro frustrado, ainda o mesmo roteiro de todos os dias. Mais algumas dores, mais hematomas, um pouco de sangue nos lábios e nada absurdo demais. Minha mãe já havia ligado três vezes, provavelmente pedindo para que eu não chegasse tão tarde, e Shawn planejou comprar o jantar em algum lugar para comermos os quatro juntos, aproveitando a minha folga no Four Falls. Eu já estava terminando de juntar minhas coisas no vestiário, depois de uma ducha gelada, quando dois seguranças entraram, barrando a saída.

STRONGERWhere stories live. Discover now