STRONGER

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-Eu estava me planejando para que isso acontecesse a alguns bons anos atrás... -senti o olhar triste de Sinu sobre as minhas malas e ela se escorou no batente da porta, erguendo os lábios em sorriso um discreto- Depois do ensino médio, você conseguiria uma bolsa em alguma universidade importante e se mudaria para Washington, ou para Miami, talvez para uma república de garotas em Manhattan. Ligaria todas as noites para contar sobre os seus novos amigos e tudo o que está aprendendo, viria nos fins de semana e sairíamos juntas para programas de garotas. Vez ou outra talvez eu até recebesse ligações da polícia, dizendo que você finalmente perdeu a cabeça e fez uma dessas besteiras que adolescentes fazem... dirigir bêbada, fazer sexo em local público...

-Mãe!

-Ok. Me desculpe. É que você se tornou tão responsável que eu sinto que pulei alguns estágios da maternidade, por nunca ter precisado te dar uma bronca séria, depois daquela sua fase... -rimos juntas. Ela ajeitou os óculos na curva do nariz e se sentou na beirada na minha cama- Eu só precisava te dizer que detesto toda essa situação. Nada disso deveria ser responsabilidade sua. Você só tem vinte anos e já abriu mão de tantas coisas para nada faltasse nessa casa... -minha mãe estendeu uma mão, afagando meu ombro esquerdo- Se tornou uma mulher tão rápido que eu me pergunto onde foi parar aquela garotinha que ia dormir no meu quarto, com medo das tempestades.

-A senhora sabe muito bem quem a levou embora -murmurei, em um tom de voz que só eu mesma consegui ouvir. Me virei e cruzei minhas pernas sobre a cama, encarando-a de frente- Vai ficar tudo bem, mãe. Você vai fazer essa cirurgia e as coisas vão se acertar de novo.

-No final das contas, o quanto isso vai ter te custado, Camila?

-Não importa -balancei a cabeça- Não me preocupo comigo. Todas as escolhas que eu faço é só pra garantir que você e Sofi vão estar bem. E se vocês estão, também estou.

-E quando foi a última vez em que decidiu alguma coisa pensando apenas em você mesma, minha filha? No que seu coração dizia?

-Isso é besteira.

-Camila, você costumava sonhar tanto -a parte que eu mais odiava das conversas com a minha mãe era exatamente essa- Queria se formar, viajar o mundo inteiro, conhecer pessoas novas, se apaixonar por alguém... e eu te vi desistindo de tudo isso sem poder fazer nada, porque você não tinha cabeça para mais nada além de consertar o estrago que ele fez -se tornou o lema da minha vida depois que Alejandro foi embora- Me pergunto onde foram parar seus amigos, sua paixão pela música, o seu amor pela Taylor Swift, a vontade de aprender francês e a obsessão por estudar fotografia, a curiosidade sobre a lua e todas aquelas constelações; o seu desespero para ir à Times Square todos os anos, para ver a bola descer... eu nem me lembro da última vez em que vi seus olhos brilharem por alguma coisa. Não pense que eu sou uma ingrata e não sei reconhecer que, se hoje temos uma casa e comida na mesa, é mérito seu. Mas a verdade é que o tempo passou e você se esqueceu de viver a sua própria vida, Camila -contra aquela acusação eu não tinha o mínimo argumento- Está trabalhando naquele bar onde ninguém te respeita para conseguir o dinheiro dos meus remédios, e sem dizer nada sobre essas lutas... você nem mesmo aceitou namorar o Shawn apenas porque vontade própria e nós duas sabemos disso. Ele é um rapaz incrível, nos ajuda da forma que esse seu orgulho permite, Sofia o adora, eu o adoro e, quando percebeu isso, o resto se tornou só um detalhe.

 Eu soube exatamente do que ela iria me acusar quando ficou em silêncio outra vez.

-Você não o ama, Camila. Não da forma como gostaria, deveria ou pensou que poderia amar.

-Não vamos discutir isso, mãe. Eu gosto dele, tudo bem?

-Quando se apaixonar de verdade, vai entender que é muito mais do que se sentir segura e ter alguém para tirar sua cabeça dos problemas.