Turbulência

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Já passavam dois dias desde que Mila estava internada, os médicos encontraram um método de abrandar o veneno. A sua maior preocupação agora era de salvar o bebé de seis semanas.
-- Esta notícia apanhou-nos a todos de surpresa, Kilson-- Disse Joana, tocando-lhe na mão.
-- Não se esconde um filho de um pai -- Replicou.
-- Secalhar ela não sabia -- Irrompeu a mãe de Mila, Berto.
Recentemente, tinha trocado de sexo e quando o fez, aproximou-se mais da tia de Kilson, o que levou a que este tivesse atitudes preconceituosas com o sogro, entre as quais, insistia em chamá-lo de Berta. As mesmas contribuiram para o afastamento de Mila. Kilson olhou-o furioso, levantou-se e saiu, disparado, do hospital.
Já passavam cinco anos desde a morte de seu pai, vítima de cancro.
Sempre que batia no fundo dirigia-se ao cemitério e num tremor e encostava-se ao caixão.
-- Lembraste quando contaste-me que uns skinheads mataram o avô?... Achas que foi a concorrência que fez isto à Mila? Estou a ignorar este pensamento, não quero trazer uma guerra que está enterrada no passado, mas pai... Chorou.
Uma moça esbelta com olhos cor de noite (daquelas em que a lua está tímida) e de turbante vermelho, num fato azul-escuro, cruzou olhares com ele num dia normal na empresa. Não a podia deixar ir, apareceu em lágrimas e saiu da entrevista, em lágrimas. Ofereceu-lhe um café e por cinco minutos ouvia-se, somente, o seu soluçar, o som da chuva e o silêncio no café.
-- "Não sou muito de namorar blacks" foi o que ele disse. -- Adiantou Mila.
-- És linda demais para estares a chorar por alguém assim.
E depois desse primeiro encontro, improvisado pelo universo, Mila e Kilson eram o que são hoje, com uns alto e baixos como em qualquer outra relação.
Depois deste flashback voltou para o hospital,  João teve os louros, correu para a casa do chulo mesmo com a polícia a impedir a sua entrada. Virou a casa do avesso e agora estava em custódia policial, mas encontrou o antigoto.
-- A Mila está salva! -- Disse Joel agarrando-lhe nos braços e olhando-o radiante.
Kilson estava emudecido desde que ouviu o nome de João. Mila estava a conversar com os pais, então Kilson dirigiu-se para a polícia, onde João estava.
-- Kil!Kil!Kiiiil! -- Gritaram, desta vez, Jacira e Jandira, Lucas, Denilson e Nelson.
-- Eu não vou matar...Nin...guém! Vão para casa, não têm aulas?-- subitamente calou-se e depois disse:
-- COMO VOCÊS ENTRARAM NO MEU GUINI? -- E travou o carro, quase chucou com outro.
-- Sabemos quem envenenou a Mila!-- Disse Jandira.
-- O João encarregou o cota Léo e prometeu-lhe guito, mas não sabemos se ele é o assassino. -- Disse Jacira e, de repente, encheu-se de lágrimas.
-- O Léo não é assim tão parvo, deixou um vídeo para caso que algo corresse mal e deixou entre os CDs que... Eu roubei -- Disse Nelson baixando a cabeça.
-- Não conseguimos falar com o Jilson, os pais dele disseram que ele saiu para brincar. -- Terminou Jacira.
Kilson olho-os sem saber o que dizer para os consolar, mas depois de um breve suspiro disse:
-- Vamos para hospital, eu vou mandar alguém procurá-lo,  garanto-vos que ele está em segurança. Vocês têm quê? Treze anos? Já ouviram falar da história "Mariana Kriola?" -- Disse sorrindo, as covinhas apoiavam um ar de otimismo.
Já eram 20:00 os pais dos meninos permitiram que ficassem no hospital até à 00:00 desde que os trouxessem para casa.
Entre as cadeiras e sofás do hospital Kilson começou a contar a história.

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