Depois de inaugurada, há pouco mais de um ano, começou uma luta judicial para que, os canais de televisão que praticassem Blackface, fossem punidos. Mas, mais do que isso, para que houvesse uma lei que implicasse o pagamento de uma multa ou fiança a tudo o que envolvesse racismo, começando pelo uso da palavra nigga.
Já muitos empregados na empresa tinham contactado a rede social, Twitter, a exigir que, todos os usuários que usassem a palavra nigga e não fossem negros ou que fizessem comentários racistas tivessem a conta suspensa e ao fim de um determinado número de avisos, bloqueada.
Estava a ser um braço de ferro, Kilson, um dos seus sócios, exaltou-se em tribunal:
-- Pare de agir se Portugal fosse um país só de brancos! -- Gritou e bateu com os punhos na mesa.
-- Longe da Separação! Unidos pela revolução! À Inteligência Revolucionária!-- Gritavam e batiam com os braços no peito, cruzavam e descruzavam-nos. Estavam presentes estudantes, civis, até mesmo figuras públicas como: Yolanda Tati, Conguito, Miguel Paraíso, a youtuber Luana Santos e até a escritora Luna, da parte exterior do tribunal, pois fora interdita a entrada de todos, para evitar interrupções.
O juiz olhou-o com um ar cínico e artificial, fingia-se à nora, quando já ele mesmo confessou numa crônica do jornal Público: "Portugal um país de brancos?Nada disso, mas não sei o que esperam num país em que são imigrantes". A maioria das pessoas que integra administração e esta luta são afrodescendentes, ou seja, são de origem africana e nascidas Portugal.
Estava a ser uma luta cansativa e de muitas lágrimas, a empresa esteve perto de fechar, mas Joana, a mais recente integrante da família teve a ideia de espalhar o caso por Espanha, Brasil, e teve um pequeno impacto nos Estados Unidos, houveram diversas petições para que esta legislação (e punição) se realizasse. Contudo, faltava a gota triunfal... Joana e o pai não têm as melhores relações de pai e filha, defendem ideais diferentes. Ambrósio esperava ver a filha a trabalhar numa das suas firmas de advogados, no Canadá ou na Polónia, mas a sua primogénita puxou a veia da mãe. Desde dia um, Darlene explicou-lhe que por ser mulata teria privilégios por ter um tom de pele claro e sempre exigiu à filha que apoiasse negros que fossem prejudicados por esse privilégio.
Esta premissa não entrou à primeira na cabeça da moça, mas quando a meia-irmã foi retirada do estrelato na peça de teatro no secundário, porque se recusara a alisar a sua afro, apercebeu-se. O pai trabalhava na união-europeia, era tudo o que sabia, porque era proibido falar de trabalho em casa, em família. Por amor, fez a vontade à filha e mais aperto, menos aperto, fez com que um dos departamentos da UE obrigasse Portugal à criação de uma legislação e maior respeito pelos negros no seu território (e mais instituições SEF flexíveis).
A ferro e fogo que os canais de televisão protestaram para que não pagassem o preço do seu desrespeito, mas já nada podia ser feito.A guerra estava ganha.
O dinheiro pago por estes canais televisivos (RTP e TVI) foram utilizados para a criação de ONG anti-racismo mais sólida passou também, a ser obrigatório no ensino secundário a abordagem de temas raciais em todas as escolas e no mínimo, um teste. Claro que foi festejada esta vitória mas, durante a celebração, Mila ajoelhou-se e caiu inconsciente no chão...
-- Mila, Mila, Mila, amor acorda, ei aperta a minha mão se estás consciente! -- Disse numa bruta aflição o seu ex-namorado, João.
Kilson o seu atual esteve perto de agredi-lo.
-- Madje, porque não lhe deste? -- Disse Joel, enquanto acendia o cigarro.
Estavam junto ao hospital, no parque de estacionamento, Kilson não podia estar perto de João, porque este também não facilitava. Mila e João já não estavam juntos desde que ele entrou para a empresa, mas mesmo assim à mínima chance tentava reaproximar-se.
-- Wi eu não posso lhe tocar, estou cada vez mais perto de me reconciliar com ela. Só agora é que comecei a somar pontos...
-- Pois... Também houve muita burrice tua, quem organiza um jantar e entorna calulu no par? Oh calma... tu! -- Disse Joel às gargalhadas.
Lucas, Nelson e Denilson vieram numa velocidade em duas bicicletas, a segunda partilhada entre os dois últimos.
-- A Mila, a Mila, a Mila?! -- Perguntavam em coro e ofegantes, Nelson e Denilson.
-- Ela vai morrer? -- Perguntou Lucas, com os olhos esbugalhados, puxando o casaco de Joel, quase em lágrimas, quase...
-- Oh! Ndengues calma! A Mila vai ficar bem, vocês conhecem-na de onde? -- Perguntou Kilson.
-- Ela é monitora no projeto Agir -- Disse Denilson.
-- Devias saber isso... -- Comentou Joel, mas Kilson só o olhou com os olhos em bico.
Já dentro do hospital, a médica pediu para conversar em privado com os familiares. Kilson saiu do hospital em fúria. Passou por Joel sem trocar uma palavra, Joel colocou-se à sua frente e disse:
-- Então?
-- A Mila foi envenenada, o antigoto leva algum tempo a chegar, o veneno já atingiu 59% do corpo dela...É letal... Eu...
Joel olhou-o incrédulo, sem palavras.
-- Eu vou perdê-la...
Cristina e Joana chegaram com Jacira e a sua irmã, Jandira. Estava uma enorme confusão.
-- Calma! -- Disse Joana -- Não sabemos quem envenenou a Mila, mas já temos o antigoto. Está com um tal de Leonardo, no BSA.
-- Que estamos à espera?! Vamos!! -- Disse Kilson batendo palmas.
-- Ele está morto... Chegaram a ele antes de nós... -- Disse Cristina, impassível.
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Marcas de Bairro
AvventuraDenilson, Jilson, Jacira, Nelson e Lucas são crianças afrodescendentes que vivem no Bairro Santo António também conhecido como BSA ou Bairro Sem Água. Embarcam numa aventura com o chulo Leonardo, mas antes, quase voam para junto do nosso Black Jesu...