Foram dois anos de sua vida. Mas toda vez que ela fechava os olhos agora, imaginava tudo diferente. Cada olhar era faca atravessando seu peito, cada passo para longe era uma respiração tirada de seus pulmões, cada situação diferente era um minuto a menos que Kara queria viver. O simples fato de coexistir, tão perto e tão longe ao mesmo tempo, doía o inimaginável. Então ela simplesmente deixou de olhar. Ela deixou de olhar e imaginar, olhar e desejar, olhar e sentir. A simples ação de olhar era a causadora de seus problemas.
Dois anos é muito tempo.
Você pode ficar grávida e dar à luz, vencer a corrida presidencial e realmente fazer a diferença, se apaixonar perdidamente e depois não saber quem você se tornou sem aquela pessoa.
Dois anos é uma lacuna muito grande no espaço-tempo.
O primeiro amor é o pior de todos, eles diziam. Mas o fato do seu primeiro amor ter roubado seu coração aos quinze anos, segurado sua paixão pelos próximos dois anos seguidos e simplesmente te deixar em um piscar de olhos, torna o pior de Kara realmente pior que a maioria dos primeiros amores. Pelo menos ela imaginava, não era humanamente possível qualquer outro ser humano se sentir tão miserável quanto ela se sentia depois de tudo.
A grande experiência em viver.
Ridículo.
A sua experiência de vida roubou tudo de si. Ela se sentia vazia, com um buraco no lugar do coração. Sentia que seu tempo de adolescência havia sido desperdiçado amando mais do que achava possível. Sentia que havia perdido sua sanidade, seu amor próprio, toda a base de sua vida para os anos que se seguiriam. Ela se encontrava perdida, quebrada, abandonada. Vazia por dentro e um estranha por fora, que sentia saudades de dias calorosos, sorrisos sinceros e olhos verdes.
Por tudo que havia experimentado nesse período, ela se transformou numa sombra do que era antes. E á partir daí, ela parou também de olhar para si mesma. Foi quando os espelhos do seu quarto foram retirados, e Kara aprendeu que era melhor não olhar quando via o reflexo de uma pessoa que não reconhecia quando entrava no banheiro.
Entretanto, ela sabia no que se tornou. E mesmo assim não sabia quem culpar. Alex diria ela mesma, seus amigos diriam Lena, e Lena não diria nada. Sua mente queria culpar o universo por tudo que estava passando.
Elas não conversaram. No auge dos seus dezessete anos, Kara não sabia exatamente o quê estava acontecendo. Não sabia se a situação era o melhor ou pior, se a morena realmente queria estar onde estava agora ou se tudo se encaixaria um dia. Ela sabia da dor, do choro, da sensação de solidão e da falta que a outra fazia. Ela sabia que não teria explicação, apesar de tudo.
Memórias e lembranças do passado a atormentavam. Ela passou a odiar fotos, dias ensolarados e copa de árvores. Resolveu apagar lembranças das redes sociais, mas apenas não conseguia. Seus sonhos a atormentavam, as cartas, as notas, as roupas, assim como tudo que habitava dentro da caixa com um L no armário. Essas coisas a lembravam da história das duas, e estavam ali bem diante do seu rosto para que ela se portasse como se nada daquilo tivesse importado.
Era o segundo período quando ela sentou sozinha na sala de aula. Encarou a lousa, as cadeiras, a mesa que costumava chamar de sua. Tudo era silencioso e monótono, assim como seu interior. E tudo a lembrava Lena naquela estúpida tarde, com aqueles estúpidos olhos e aquele estúpido sorriso.
Kara usava vermelho naquela tarde á dois anos atrás. Era outono, as folhas caídas do lado de fora do prédio combinavam com o seu moletom e ela sorriu para isso. Nem quente e nem frio, a melhor época do ano, ela achava. Até que seus dias favoritos começaram a se tornar mais claros, porque os olhos verdes da morena brilhavam mais embaixo da luz natural. O dia era bom, nenhuma matéria exata para tirar seu bom humor repentino. Kara se sentia diferente, confiante até. Mas quando Lena se aproximou da sua mesa, aquela mesa, ela pensou que nem todos os dias poderiam começar e terminar bem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Drive My Heart
FanfictionUma história sobre como Kara vê seu coração lentamente deixar seu corpo e habitar outro, sabendo desde os quinze anos qual o preço do amor.