Drive My Heart

3.0 Broken Wings

Faltavam apenas duas semanas para a formatura e Lena realmente não conseguia entender como sua vida tinha se tornado aquilo. Ela imaginou que seria tão diferente. Imaginou as festas com Sam e Jack, os planos que faria com Kara, as compras que faria para sua nova casa pelos próximos quatro anos. Imaginou que estaria celebrando e rindo, e não sentada á mesa de jantar com sua mãe e irmão a encarando como que ela tivesse criado uma segunda cabeça.

Mas a vida é cheia de surpresas, dizia Lex.

'Lena, querida.' Lílian começou. E assim como todas as semanas antes, o medo na voz da mulher era perceptível. Ela tinha medo daquele pequeno avanço acabar se perdendo, e sua filha voltar ao patamar de seis meses atrás. Lena tinha tanto a agradecer á sua mãe, mas não conseguia. Durante todo o luto por seu relacionamento, a mais velha foi de chocada e respeitosa á preocupada e intrometida. Após horas de ligação e informações trocadas com Eliza e Jeremiah, a relutância em falar com a filha era na verdade medo de sua reação.

'Sim, mãe.' a morena empurrou um punhado de brócolis para o canto do prato, e Lílian imitou a ação em solidariedade pela dor da filha.

'Sem apetite de novo?'

'Só não quero comer essa noite.' ela respondeu em tom ameno, indicando que ainda estava aberta á conversa. Com os lábios apertados, a mais velha colocou um pedaço de batata cozida na boca ganhando tempo para pensar.

'Quem sabe um café da manhã fora possa te animar amanhã? É sábado, podemos ter panquecas de chocolate. O quê você acha, Lex?' olhou para o filho com um sorriso esperançoso.

'É uma ótima ideia, mãe. Você adora panquecas de chocolate, não adora Lee?' 

'Eu não como panquecas de chocolate desde que tinha doze anos.'

'Então será uma deliciosa lembrança do passado, não?' Lílian tentou.

'Talvez.' Lena empurrou um pedaço de frango gelado e seu olhar se perdeu no meio da mesa, lembranças de uma Kara quebrada na aula mais cedo a inundaram novamente. Ela tinha identificado o olhar de dor, e a morena sabia que era a causadora daquilo tudo. Assim como Kara era para Lena. Ela só queria atravessar a sala, tomar a loira em seus braços e dormir como se tudo não passasse de uma fase ruim. Mas seus pés a levaram para a sua mesa, sozinha e isolada no canto extremo da sala. Entre ela e a janela, a loira. Ela acabou por aprender a chorar apenas com o olho direito, cansada porém consciente o suficiente de que seu choro faria doer ainda mais na outra.

Lex se pegou pensando na menina sem vida á sua frente. Ele queria sua Lena de volta, a menina que tinha mais vida que todos naquela casa combinados. Suas ideias já haviam esgotado, as ideias de livros já haviam esgotado, as ideias de sua mãe já haviam esgotado, até mesmo as ideias do terapeuta tinham esgotado. Nada consertara aquela versão quebrada de sua irmã, e aqueles olhos verdes brilhantes continuavam vermelhos e ele se viu curioso.

'Em que você está pensando?' ele perguntou distraidamente enquanto terminava sua refeição.

'No que eu sempre penso, Lex.' respondeu emburrada. Sua mãe suspirou ainda na mesa, decidida a fazer alguma coisa naquela noite.

'Talvez você possa nos contar sobre isso dessa vez?' Lena trouxe os olhos vermelhos para a mãe e pensou sobre como responder nessa situação. A sua resposta curta era hoje não. Hoje não, amanhã não, para sempre não. Fingir que nada estava acontecendo ajudava Lena a levar seus dias. Nada estava acontecendo, Kara não estava acontecendo, a vida não estava acontecendo. Mas depois de ver a loira em toda sua dor mais cedo naquele dia, algo simplesmente mudou. Era como se fosse suportável e insuportável ao mesmo tempo, e ela podia ver Kara se afogando em sua própria dor.