Cabo de Guerra

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Apaixonar-me foi algo que para mim parecia tão improvável, e quando aconteceu se mostrou ridiculamente fácil. Ao mesmo tempo, terrivelmente errado...
Conheci Hoseok quando ambos tínhamos quinze anos e mesmo estando há quase dez mil quilômetros de distância, este fato tornava-se ínfimo quando ponderávamos a conexão que possuímos um com o outro. O garoto de madeixas coloridas cruzou o meu caminho em uma rede social, e desde então minha vida nunca mais foi a mesma.
Eu frequentemente gastava minhas únicas horas de descanso do dia para me comunicar com ele, pois o fuso horário não era de todo colaborativo. Olhava suas fotos em todas horas em que não podíamos conversar, e ficava a devanear quando finalmente poderia realizar todas as coisas que já havia imaginado com ele.
Foi preciso algumas perguntas aleatórias para que ambos ficassem curiosos quanto ao rumo daquela amizade. Parecia, aliás, algo deveras natural estamos próximos um do outro.

- Olá. - falei para a webcam assim que terminara meu jantar, sabia que lá nos Estados Unidos seria por volta de oita da manhã. - Como está sendo seu dia, Hope?

Esperança; acreditar que sempre há uma saída.

- Hope? Cada dia um novo apelido. - disse com um sorriso enquanto se apoiava na mesa de seu computador e continuava comendo uma bala de gelatina coberta de açúcar - Até agora foi tudo bem, na escola as mesmas pessoas chatas de sempre e as mesmas matérias exaustivas. A melhor parte, como sempre, é quando falo com você.

- O garoto americano dos livros tem uma vida mais interessante que a sua, já estou começando a achar que toda literatura estadunidense seja propaganda enganosa. - respondi de modo brincalhão.

- Pode até ser mais legal, mas nenhum garoto americano tem um amigo como o meu. Você é único, Taehyung.

A verdade era que Hoseok me compreendia de uma forma que nem meus pais ou qualquer outro coreano conseguiam e sempre me atestava que o mesmo acontecia com ele - isso me enchia de alegria. Eu gostava de ser seu amigo e confidente, pois sabia que uma parte de mim já era dele e que isso era recíproco. Seria capaz de qualquer coisa para fazê-lo feliz.

À medida que o tempo passava, a vida foi costurando em mim fragmentos de tudo o que eu tentei reprimir, pedaços de mim mesmo que eu havia deixado pelo caminho. E aos poucos fui caindo em uma armadilha sem perceber. Mesmo longe, eu e Hoseok amadurecemos juntos, e mesmo sendo poucos meses mais velho, aos dezessete anos parecia muito mais bonito que os outros garotos que eu já tinha visto, e a cada dia eu reparava mais.

Eu não devia pensar naquelas coisas, não devia sentir meu coração bater mais rápido cada vez que ouvia sua voz. Eu não tinha motivo para reparar que a cada nova foto seus braços se tornavam mais fortes, que suas coxas já ganhavam forma por causa das horas na academia do seu bairro, e que sua voz havia adquirido um tom mais grave, modificando-se assim as músicas que cantava ao tentar me ninar, e de modo peculiar, isso me atraía ainda mais. Eu não tinha noção do perigo.

E, definitivamente, não havia necessidade de prestar tanta atenção em sua boca ou no modo como suas covinhas apareciam quando ele sorria. Não havia porque eu querer morar naquele abraço que sequer conhecia.

Era tão errado pensar naquelas coisas justo com aquele que se tornara um amigo tão bom pra mim! Éramos do mesmo sexo, afinal. Então isso é errado, certo?!

Ainda assim, a cada dia eu me via mais perdido dentro de meus sentimentos e desejos fora do comum. Além de coreano, eu era um homem, e a vida que eu almejava conhecer era estritamente abominada pelo evangélico.

Com o passar dos anos, acabei compreendendo que eu estava atraído - e pior ainda - apaixonado por Hoseok.

Eu não podia nutrir tais sentimentos, ainda mais vivendo em um lugar como a Coréia, um país muito conservador, onde mulheres são silenciadas e homossexuais não existem visto que quebra a imagem da família perfeita.

Eclosão [VHOPE]Onde histórias criam vida. Descubra agora