O telefone tocava insistentemente desde a hora que saí da casa da Anne. Audrey estava sentada em meu colo, enquanto andávamos pela cidade dentro de um táxi. Não sei bem pra onde estou indo ou o que estou fazendo, mas preciso de um tempo.
As palavras do Brennan ainda estão em minha cabeça, Harry tem medo de que peçam mais que o necessário. Como se em algum momento eu tenha pedido dinheiro a ele. Cuidei de minha filha nos últimos anos com o meu esforço, com o meu trabalho, nunca fui atrás dele pra nada. Por mim, continuaria assim. Mas eu o deixei voltar pra minha vida, permiti que conhecesse a Audrey, para mais uma vez, deixar que quebre meu coração com seus atos idiotas. Sua carreira virá sempre em primeiro lugar, preciso entender isso, mesmo que não queira acreditar.
A cidade ainda parece a mesma que deixei àlguns anos atrás. As lojas pequenas organizadas umas ao lado da outra, pessoas caminhando calmamente na calçada. Sinto algo quentinho em meu peito, apesar de ter passado por alguns momentos ruins, eu também fui feliz nessa cidade.
Da janela do carro avisto a fachada cor de rosa de uma doceria se aproximando. Lembranças desse lugar me invadem e sorrio involuntariamente. Peço pra que o motorista pare próximo à calçada do lugar, e desço do carro. Audrey observa tudo quietinha ao meu lado. O brilho que vejo em seus olhinhos parecem até os meus, quando eu tinha sua idade. Meu pai sempre me trazia aqui em meus aniversários. Era a data que eu mais esperava durante o ano. Era o único momento que eu tinha com o meu pai que não envolviam os comentários rudes de minha mãe.
Aperto mais a Audrey em meus braços e caminho para dentro do lugar. Lá dentro, o cheirinho doce nos invade e minha boca começa a salivar automaticamente. Me aproximo do balcão de doces e coloco Audrey no chão, ao meu lado. Observo seu encantamento olhando os doces. Ela aponta para alguns no vidro e me olha com expectativa. O mais engraçado, é que ela me pediu exatamente o mesmo sabor de bolinho que eu pedia ao meu pai. Peço para a garota com sorriso doce do outro lado do balcão, que me entrega rapidamente. Peço mais alguns e caminho com a Audrey até uma mesa próxima à janela. Nem acredito que esse lugar ainda está aqui, da mesma forma como me lembrava.
"Pequena Via?"
Congelo no lugar ao ouvir sua voz rouca e forte. Faz um tempo, mas não tem como esquecer. Olho ao redor, à procura da voz e o encontro próximo ao balcão, me observando surpreso.
Meu pai, agora com o cabelo ainda mais grisalho e algumas marcas de expressão em seu rosto, sorri ao se aproximar de minha mesa rapidamente. Eu não sei o que fazer. Meu coração está acelerado em meu peito, e meus olhos ardem um pouco. Mas quando meu pai pára ao meu lado e eu me levanto para olha-lo mais de perto, não consigo me controlar e choro em seus braços, como se ainda fosse uma criança.
☆☆☆
"Quando você chegou? Meu Deus, não acredito que está aqui!" Meu pai diz agitado ao meu lado na mesa.
Consegui me acalmar alguns poucos minutos, e não permiti que se afastasse mais. Me sinto realmente uma criança nesse momento, totalmente indefesa e perdida.
Engraçado como eu não queria ir até a casa dos meus pais desde que cheguei aqui, mas não consigo parar de admirar o meu pai, agora que está aqui ao meu lado.
"Antes de ontem" Deixo de fora a parte que estava na casa da Anne. Por algum motivo não quero magoá-lo.
"Porque não ligou? Eu, eu poderia te buscar e, e podíamos matar as saudades" fala.
"Desculpa, eu vim a trabalho. Não pretendia passar muito tempo"
Meu pai acena a cabeça com minha resposta. Por que estou mentindo, Não sei.
"Não acredito que estou finalmente conhecendo sua princesa. Ela é tão linda! Parece muito com você quando tinha essa idade"
Meu pai afaga a cabeça da Audrey que observa tudo enquanto se lambuza com os doces a sua frente.
"E a mamãe? Como está?" Pergunto timidamente.
Meu pai muda a expressão tão rapidamente, que penso ter imaginado. Observo quando limpa a garganta antes de continuar.
"Sua mãe e eu não.. Não estamos mais casados"
"O quê? Porquê?" Choque me atinge com sua declaração. Eu realmente não esperava essa notícia. Meus pais estão juntos desde a escola, não podem ter se separado assim, tão fácil.
"Eu devia ter feito isso a muito tempo. Teria te privado de muitos momentos ruins" Minha mão vai até a do meu pai involuntariamente. "Eu não devia ter permitido ela te tratar como sempre te tratou, filha"
"Isso já passou, pai.."
"Mas te levou pra longe de mim" Aperto sua mão fortemente.
Sim, minha mãe foi um dos motivos que me fizeram cursar faculdade bem longe daqui. Ela nunca apoiou nenhuma decisão minha. Mesmo já adulta, quando contei da gravidez, eu ouvi novamente que estava agindo feito uma vagabunda. Eu previsava de seu apoio quando terminei com o Harry, e o mais engraçado que só me senti acolhida com quem não tenho nenhum vínculo familiar. Com a Zoe, que se tornou a minha única família.
"E onde está morando agora?" Pergunto.
Meu pai abre os braços para o ar, antes de abrir um sorriso e responder:
"Aqui"
"Aqui? Como assim?"
"Comprei esse prédio quando me separei. Ele tem dois andares, então, moro em cima.. Não é legal?" Sorrio com sua animação. Ainda sem acreditar em tudo o que ele fala. "Esse lugar me lembra bastante você. Me pareceu o certo a se fazer"
Não sabia o que pensar ou falar com sua declaração. O dia todo se parece bem louco, se observar agora. Eu não imaginava encontrar o meu pai no meio de tudo isso. Nem imaginava tudo o que iria acontecer entre Harry e eu.
"Quer conhecer minha nova casa?" Papai nos convida.
E de repente, estávamos na sua pequena cozinha, preparando um jantar para nós três, enquanto conversamos sobre tudo o que nos aconteceu nos últimos anos. Me abri sobre o Harry para o papai, e ele me abraçou carinhosamente. Ele também soube encantar a Audrey rapidamente.
Tal cena, nós três aqui, encheu o meu coração de emoção e a noite se seguiu sem nem me lembrar de como o dia havia começado.
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Mais um capítulo pra vocês!!!!
Seja bem vindo pai da Olívia.
Boa leitura ❤
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Ever Since New York
أدب الهواة"Quanto mais ele sorria, mais eu queria odiá-lo. E no entanto, esse era o motivo pelo qual odiá-lo era impossível" O que fazer quando o dono de seus melhores momentos é também a pessoa que mais te fez sofrer? Olivia e Harry estavam juntos desde semp...