A Sombra

Quando a vida era boa

Felipe um garoto de seus 14 anos, sempre feliz, de cabelos castanhos e longos até a nuca e que todos os dias brincava no campo á cinco quadras da sua casa. Um garoto observador que vivia em seus "por quês" e "o que és" e não podia ficar sem fazer uma pergunta,um dia sequer;certo dia chegou para sua mãe e perguntou:

-Mãe, o que é a sombra?

A mãe respondeu enquanto lavava a louça do almoço:

- É a parte em que a luz não bate e forma a sombra.

-Por que a sombra é preta?

-Porque...não é branca...né?

-Dá para explicar?...

-Ela gosta dessa cor...-A mãe retrucou enquanto ria.

-Grande ajuda...

-Felipe!-Gritou uma voz, vinda da janela.

-Lino! Já estou indo!

-Ta se esquecendo do campeonato de futebol?

-Quase... Vamos lá!

-Se você não viesse o time estaria perdido!

-Por que?

-Porque ia faltar gente no time!

-Mas eu sou reserva!

-Por isso mesmo! O balofo do Bochecha escorregou e quebrou o dedão do pé!

-Que coisa...Enquanto ele estiver assim...posso ficar no lugar dele?

-Claro! Pra que você acha que eu te chamei? Você é bom no gol?

-Sou.

-Ta bom então, é só ficar perto da trave e não deixar a bola passar.

Felipe estava distraído. Olhando a sombra e pensando na conversa que teve com a mãe.

- Legal...

-Presta atenção em... Presta atenção!!!

-Sim, senhor!- Falou Felipe no susto.

-Então ta...E não me chame mais de senhor...Faz eu me sentir muito mais velho.

-Não chamo mais.

-Treine bem,pois é o penúltimo dia que poderemos treinar consecutivamente, depois, é só de sábado, alias, você viu que doideira? A Marta quer jogar no time, só porque é amiga dos dois "Pelés da Rua", não significa que ela pode jogar, UMA MENINA? Pirou!

No outro dia na escola, Felipe estava pensando consigo mesmo:

- "Oh... Que interessante...Mais um dia tedioso de escola...".

Era dia de aula de inglês, matéria em que era ótimo, mas não se interessava nessa aula.

- "Daí eu volto para casa 12:30, pra ficar com a vovó até a hora de dormir."

A mãe trabalhava de segunda a sexta-feira das 8:00h da manhã ás 8:00h da noite, o pai havia falecido quando Felipe ainda era um bebê então ele ficava com a avó durante todo esse período, de manhã até a noite desde pequeno. Ele havia se apegado muito a avó e gostava dela.

***

Não foi um dos melhores dias de aula, porém não foi o pior. A professora de português faltou e arranjaram a professora mais terrível da escola para substituí-la e para completar o dia tirou 5 na prova de matemática. Porém como já foi mencionado, não foi tão ruim, pois tirou 9,5 na prova de ciências e conseguiu uma vaga no campeonato de futebol "Escolas Unidas".

Após a escola ele ia jogar futebol e se esforçou mais do que o normal nesse dia, pois estava substituindo o Bochecha no gol e teria mesmo de se esforçar para não decepcionar o time; aquela era a única chance dele de se efetivar como titular no time e não ficar de reserva num canto da quadra olhando seus melhores amigos jogando uma boa partida de futebol no fim de semana. Teria que jogar muito bem para que seus amigos decidissem mantê-lo na defesa e o Bochecha ficar na reserva, o Bochecha sempre riu da posição dele no time e agora ele teria o gostinho da vingança, pois seria o Bochecha que agora ficaria de reserva, há, há, há, seria seu momento de glória! Seria o dia inesquecível!

***

A caminho de casa, em sua bicicleta ele percebeu que com o enorme calor a sua sombra estava extremamente forte e podia se ver cada detalhe de sua forma, até parecia que o chão era um preciso espelho negro, era um dia calmo e não havia com que se preocupar, o vento batia levemente em seus cabelos e eles esvoaçavam na brisa da tarde, era uma deliciosa sensação de segurança e leve emoção, mas ele não pensava nessa sensação, e sim, no que é a sombra, seria somente onde a luz do Sol não bate? Pra quê a cor preta? Ele não olhava para frente, sua atenção estava toda voltada para sua sombra, nem ele entendia o por que quis saber sobre a sombra, mas estava curioso. De repente um grande impacto e tudo ficou escuro...

***

Quando acordou estava numa sala branquinha e muito estranha e um garoto tão estranho quanto ao quarto e extremamente magro o observava, assim que Felipe abriu os olhos, o garoto exclamou:

-Mãe! Ele acordou!

Uma senhora mais estranha ainda veio correndo e falou:

-Você está bem garoto?

Felipe respondeu:

-Acho que sim...AI!...Que dor...Acho que quebrei alguma coisa!

A mulher o olhou, olhou e retornou a olhar, até que chegou a uma brilhante conclusão:

-Aaaaahhhhh ééé...Coitadinho... Você quebrou a perna!

-Como?...Aonde?...Porque?...O time de futebol vai me matar! Só me lembro de estar andando de bicicleta daí tudo escureceu e de repente vim parar aqui!

-A, sim, mil perdões!O meu marido o atropelou... Ele veio trazendo você e disse que não foi culpa dele e que estava andando devagar quando virou a esquina e deu de cara com a sua...

-Minha bicicleta! Cadê ela?

-Me desculpe, mas ela amassou toda, esta lá na garagem da minha casa...

-O quê?Como vou voltar pra casa? E... Eu tenho que ir pro hospital!!!! – Exclamou Felipe levantando o lençol e vendo um gesso branquinho em sua perna.

-Querido, está com a perna quebrada! E você ESTÁ no hospital, ligaremos para seus pais e depois o levaremos para sua casa e pagaremos o conserto de sua bicicleta, está bem?

-Tudo bem então...Rua da Esperança 22-22...

Depois da estranha mulher ligar várias vezes para a casa de Felipe para avisar o responsável e ninguém atender, ela o levou para casa.

Felipe chegou em casa já á noite e percebeu que sua mãe estava em casa, mas não sua avó, a mãe se dirigiu a ele, segurou forte seus ombros, o sacudiu e gritou:

-ONDE ESTEVE? Uma coisa terrível aconteceu...