Busca incessante

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CAN

Can Divit não conhecia limites intransponíveis. Se era para desbravar terras inóspitas, ele ia sem medo algum. Se o desafio era escalar as montanhas mais altas, fazer o rafting que tanto amava, mesmo que em rios caudalosos, ele assim o fazia. Sem medo. Arriscar sua vida, no entanto, não se equiparava ao que sentia naquele momento.

Agora o que estava em jogo era sua sanidade. Seu coração. Sua alma.

Depois de descobrir o destino de Sanem, ele decidiu seguir sua intuição e fazer aquilo que deveria ter feito desde o início: abandonar o medo de amar e ser amado. Viver com intensidade tudo aquilo que os olhos e sorriso de Sanem prometiam.

Bastava de ter medo de ver-se preso à rotina de um casamento, de um relacionamento. Ele queria ver-se amarrado a Sanem até os confins da terra, até o último exalar de seus pulmões, até o último batimento de seu coração.

Depois de informar Emre que estava saindo em busca de sua mulher, Can fez-se claro para os pais de Sanem que não receberia mais nenhum não ou impedimento de fazer dela sua esposa. Saindo com a benção de Nihat, pai de Sanem, ele pegou o rumo que o levaria até ela.

Estava mais do que aborrecido porque o próximo voo com destino ao Equador só aconteceu dois dias depois que Sanem desaparecera de suas vistas.

Se tivesse um jatinho disponível, não teria hesitado em seguir os passos da mulher fujona que o deixara com apenas uma carta.

A lembrança fez com que seu corpo ficasse tenso, pois nem mesmo isso ele fora capaz de lhe dar um ano antes, quando partira de Istambul sem rumo certo.

Can agora via suas ações no espectro mais tortuoso possível. Agora ele via que agira como um covarde, com medo de enfrentar seus próprios temores. Deveria ter lutado por Sanem tanto tempo atrás. Deveria ter duelado com suas incertezas. Ficado ao lado dela, mesmo que estivessem ardendo em uma maré de desconfianças e mágoas.

Ele optara pelo mais fácil: fugira sem dar chance de desistir.

Nada o faria esquecer o inferno no qual colocara o amor de sua vida.

Nada o faria desejar mais do que apagar de seus olhos a dor e sofrimento por suas ações impensadas.

Sanem era uma rosa selvagem. Crescia em meio às intempéries, sem nunca perder o viço. Mas uma rosa poderia ser facilmente esmagada sob a sola de uma bota. E fora isso o que Can fizera com ela.

— Senhor, o táxi o aguarda. — A atendente sorri e aponta para o local.

Estava saindo do Aeroporto Seymour, na ilha que desembocava para todos os destinos do Arquipélago. Olhando o mapa, Can concluiu que Sanem deve ter se dirigido para Isla Española, destino dos grandes albatrozes que ela tanto amava. A informação do guia indicava que era ali que os maiores pássaros marítimos faziam seu habitat.

Depois de mais duas horas em transportes capazes de deixá-lo onde queria, Can respirou aliviado.

Durante todo o voo da Turquia até o destino final, projetara em sua mente as palavras que deveriam ser ditas a fim de conquistar o perdão e resgatar o amor de Sanem.

"Sinto muito" era muito pouco para a ocasião.

"Morro por você" poderia ser muito intenso, mas verdadeiro.

"Não desista de mim agora" expressava o que sentia.

"Me perdoe e me ame, como amo você" pareciam simples demais.

Sentindo a dor queimar no fundo de seu cérebro, decidiu optar pelo improviso que sairia de seu coração.

Ao chegar à única pousada daquela ilha, adornada por pequenos chalés isolados e em meio à zona de preservação ambiental, Can começou a sentir as gotas de suor brotando de sua pele. Suas mãos estavam úmidas. Seu coração, acelerado.

Pássaro FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora