O Reencontro

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SANEM

Por um momento ela pensa estar louca. Pensa que sua mente está lhe pregando peças, fazendo com que o vento sopre as palavras que gostaria de ouvir. No tom de voz que tanto amava...

Quando as mãos fortes e calejadas tocam os fios de seu cabelo, e depois deslizam pela pele de seus braços, Sanem fecha os olhos, contendo a insana vontade de se virar.

— Sou um albatroz perdido. Preciso do meu par para sinalizar aos outros que o amor vence todas as intempéries. Que supera todos os obstáculos.

Can se aproxima mais e aspira seu pescoço, fechando os olhos, assim como ela.

Sanem sente o medo dardejar sua alma, como se estivesse brincando com sua sanidade. Já se viu quase perdendo a mente uma vez, temia estar fazendo o mesmo agora. Entregando-se às lembranças e anseios de seu coração.

Um soluço escapa de sua garganta, fazendo com que Can a abrace mais apertado.

— Eu estou aqui, Sanem. Estou aqui, minha vida. Não fuja de mim. Não faça o que fiz... Não repita meu maior erro.

Sem saber mais o que fazer, ela se vira para olhar em seus olhos atormentados.

Sua mão sobe, trêmula, para tocar a rosto barbado, fazendo com que os dedos puxem os fios que lhe são tão característicos. O cabelo de Can está solto ao vento, da mesma forma que estiveram quando voltou de sua longa jornada.

Seus olhos pesarosos mostram muito mais do que as palavras querem expressar.

— Quem está aqui à minha frente? — pergunta, temerosa.

Ele recosta a testa à dela, aspirando seu perfume mesclado à maresia.

— Can Divit. O mesmo que ficou fascinado pela pequena garota esperta e atrapalhada que perturbava meu juízo. O mesmo que se viu enredado em uma teia de paixão incontrolável e viciante.

Can afastou o rosto e a encarou, com uma súplica no olhar.

— Dizem que somente damos valor a algo depois que o perdemos. Perceber que você poderia me cortar de sua vida fez com que uma dor sobrepujasse tudo aquilo que me impedia de realmente ver você. Minha Sanem. A doce mulher que compartilhava sanduíches em qualquer estabelecimento, porque o luxo nunca fora o seu anseio. A mesma mulher que fez questão de se enfiar em uma academia, vestida com luvas de boxe para fazer questão de mostrar seus direitos sobre mim... A que ficou presa a uma janela, sem explicação alguma...

Uma lágrima solitária desliza pelo rosto de Sanem.

— Nenhuma punição no mundo será suficiente para mim, por ter me 'esquecido' da importância que você tem na minha vida. Por ter ignorado o que meu coração gritava, enclausurado em uma neblina de pavor. O medo de perder você, fez com que meu cérebro bloqueasse sua essência, para que eu me protegesse dos sentimentos que você me desperta.

— Can...

— Eu não sou digno do seu perdão, Sanem. Não sou digno do seu amor tão puro e visceral, mas posso fazer por onde provar o meu valor. Posso rastejar para ter o direito de respirar o mesmo ar que você respira. Posso me transformar naquilo que você quiser...

Colocando a mão sobre o rosto dele, mais uma vez, ela diz:

— Eu nunca quis transformá-lo, Can. Porque me apaixonei por quem você é. Eu senti medo de perdê-lo, por não me encaixar com seu estilo de vida e escolhas. Eu nunca deveria ter tentado enclausurar o vento... Manter um albatroz em cativeiro.

— Você não pode me colocar em cativeiro, porque já estou, Sanem. Estou rendido a você desde o instante em que a senti em meus braços, que meus lábios tocaram os seus... Desde o momento em que percebi que minha vida nunca mais seria a mesma sem você ao meu lado. Um albatroz não pode ser afastado do ar, mas pode voar acompanhado de sua companheira. Em um voo perfeito e bem-osquestrado.

Pássaro FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora