Recomeços

Capítulo 3 - Júlia Lima

Quase nem posso acreditar que estou em casa,  com meu irmão lindo. Estou tão eufórica que nem escuto direito os avisos sobre aterrisagem que a aeromoça em toda sua eficiência fala. A única coisa que escuto é que cheguei, no lugar de onde nunca deveria ter saído. E é hora de reparar os erros.

Assim que o avião pousa, pego minha mala de mão e vou quase correndo em direção as esteiras de bagagens. Chego lá antes das bagagens começarem a rolar e parece que a espera é interminável. Depois de 15 minutos pego minhas duas malas  e vou em direção ao lugar onde as pessoas ficam esperando os passageiros desembarcar.

Meu olhar vaga pelas pessoas e pousam na pessoa que mais amo nesse mundo: Heitor. Permito me poucos segundos para ver meu irmão,  que veste um short jeans gasto e uma blusa preta colada em seu corpo bem mantido por uma rotina rigorosa de malhação. Ele está lindo e cada vez mais parecido com nosso pai que tinha olho claro e pele branca.

Dou um sorriso, largo as malas e vou correndo ao encontro dele, mas de repente toda a intensidade que tenho vivido por dois anos vem até mim e o choro que venho prendendo vem com tudo para cima de mim. Na hora que percebe meu estado o Heitor suspende a piadinha do dia e resolve agir sério para me consolar:

Hei menina linda, o que houve? - Suas palavras só me fazem chorar ainda mais - Hei júlia olha para mim - Heitor me larga um pouco e me faz olhar para ele levantando  meu rosto com o dedo indicador - Hei o que houve?  Vamos pro carro? Lá conversamos com calma.

Assinto com a cabeça e apenas o sigo,  quando ele , sem me largar pega minhas malas põe em um carrinho e me leva em direção ao estacionamento. Chegamos ao Sportage de meu irmão e ele me conduz ao banco do passageiro e abre minha porta. Vai até o lado do motorista, entra, liga o ar condicionado e me olha com atenção:

_ Pronto  Júlia. Agora vamos conversar. O que aconteceu? - Respiro fundo, encosto no banco do carro e fecho os olhos. Eu sei que naquele momento se olhar para ele vou começar a chorar.

- Pedi o Divórcio do Fábio - Começo e ele me interrompe:

- Isso é notícia velha, maninha. O que o babaca te fez? - Suspiro e ainda sem abrir os olhos peço que ele não me interrompa enquanto eu narro minha história. Percebo ele tenso, mas concorda. Como eu amo meu irmão!

- Como estava dizendo, pedi o divórcio há uma semana e desde então estou em um hotel - Vejo Heitor ficar vermelho de raiva ao meu lado mas respeita meu tempo, assim continuo - Não voltei antes porque precisava fazer o que era o certo. E o certo Heitor, é denuncia-lo a polícia. Fui Vítima de abuso físico e verbal por um ano e meio e... - Nesse momento ele me interrompe e posso ver que está realmente furioso:

- Dois anos? Você foi violentada por DOIS malditos anos e você ainda estava com ele? Não pensou ao menos em me ligar para que eu pudesse te ajudar - Tudo aquilo é demais para mim e começo a chorar novamente, na mesma hora, ele me abraça e posso sentir suas lágrimas se misturando as minhas enquanto ele continua - Me diz, Júlia. Preciso saber. Se eu não sirvo nem para defender minha irmã, para que eu presto? Como eu não notei?

- Não Heitor - Me afasto e olho para ele - Não tem nada a ver com você, não voltei antes porque eu me sentia envergonhada, com medo de que ele cumprisse as ameaças, que eu fosse ficar só. Enfim... vergonha de dizer aos meus amigos e familiares que não posso me defender e não soube escolher bem meu companheiro.

- E o que te fez cair na real? - Pergunta

- Por incrível que pareça,  você. Você me mandou um e-mail com fotos de nossos pais e a partir daí fiquei pensando se eles estariam orgulhosos de mim. Então decidi que quero ser a pessoa que eles gostariam que eu fosse. Vou estudar,  terminar minha faculdade de administração e ser feliz. É isso que nossos pais queriam e é isso que vou fazer - Digo decidida - Agora podemos ir para casa?