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Luke olhava para o meu frágil corpo ainda a tentar assimilar o que lhe tinha acabado de sugerir. Depois de um longo suspiro, pousou-me lenta e cuidadosamente no chão frio e inóspito da sala comum e observou o mais jovem do grupo, tentando estudar a sua estratégia.

Philipa correu ao meu encontro, aflita e com as lágrimas nos olhos. Dava-me festinhas na cabeça e sussurrava-me ao ouvido: "Vai ficar tudo bem, apenas mantém-te acordada amiga. Só mais um bocadinho, B." Eu acenava ligeiramente que sim com a cabeça e com um enorme esforço tentava ver Luke a executar ou não o plano que me passara como um clarão repentino pela cabeça.

"Porra, Keaton isto não era para ser assim e tu sabes bem!" – reclamava um dos homens mais longe de mim a passar as mãos pelo cabelo nervosamente.

Nenhum deles parecia especialmente experiente naquele tipo de assalto. Quase todos exibiam faces pálidas, posturas rígidas e olhavam indefinidamente para os vários estudantes sem saber o que deviam fazer a seguir. Apenas Keaton, o líder, se mantinha calmo e sereno como se estivesse apenas a ver um filme no cinema, como se aquilo não fosse a vida real. E foi toda aquela inexperiência e falta de coordenação que eu esperava que Luke visse e aproveitasse em nosso favor. E ele assim o fez. Enquanto os homens discutiam entre si deixando de nos prestar atenção, tomando-nos por um bando de pássaros feridos e indefesos, Luke saltou para cima do mais novo e arrancou-lhe a arma das mãos e sem pensar disparou sobre a perna do rapaz que caiu de imediato no chão a gemer de dores agarrado à coxa.

Num movimento quase sincronizado, os restantes membros do grupo desativaram a tranca de segurança das suas armas e apontaram-nas para Luke.

"Deixem-nos em paz ou mato-o!" – ameaçou o loirinho sem sequer piscar os olhos. Era apenas uma ameaça falsa e vazia, ele nunca seria capaz de tirar a vida a alguém, contudo eles não sabiam disso.

Era claro como água que nenhum deles esperava que ripostássemos e, por isso, não faziam a mais pequena ideia do que responder.

"Saiam daqui já!" – gritou novamente inquieto.

Luke não tinha tempo a perder, tinha duas pessoas ensanguentadas no chão por sua causa e não estava disposto a que nada de mal lhes acontecesse, nem mesmo ao inimigo. Era nítido nos olhos dele o pânico de poder ter morto alguém.

Derrotado, Keaton fez um gesto com a mão para indicar ao resto do grupo para sair da sala comum sempre com as armas apontadas aos alunos, deixando para trás o membro mais novo, a queixar-se de dores horríveis na perna direita e a berrar desesperadamente para que não o deixassem ali sozinho e desprotegido, no meio de adolescentes com as hormonas completamente descontroladas, que ele não fazia ideia do que eram capazes. Mas ninguém se pareceu preocupar com ele e foram embora sem olhar para trás.

Assim que deixou de os ver, Luke entregou a arma a um rapaz japonês franzino e correu para junto do atacante.

"Achas que ainda te aguentas um bocado? Eu prometo que não te deixo morrer, mas ela está a precisar da minha ajuda!" – a voz dele estava alterada e descontrolada. – "Eu sou o Luke, podes confiar em mim."

O rapaz ensanguentado alternava o seu olhar entre Luke e eu, até que acenou que sim com a cabeça e murmurou:

"Vai, eu fico bem."

"Luke, não te preocupes. Eu fico de olho nele." – não vi quem falou, mas reconheci a voz como sendo de Sarah, uma das minhas melhores amigas. O que não reconheci foi a calma latente na sua voz, desde que a conheço que Sarah se stressa com tudo e mais alguma coisa e num momento de grande aperto como aquele nem uma nota de nervosismo sobressaia na sua voz.

"Obrigado Sarah, certifica-te que ele não adormece e faz um torniquete em torno da perna dele. Ian, Mike, tragam-na para a mesa lá do fundo, com cuidado!" – ordenou Luke. – "Vamos ter que lhe tirar a bala."

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