Discretamente, Bruno foi chamar os rapazes e fomos todos para a varanda da sala comum para ninguém se aperceber que estávamos a reunir sozinhos. Àquela hora da manhã apenas as pessoas que estavam a guardar a sala estavam acordadas e eram amigas de confiança de Ian, logo não havia problema de toda a gente ficar a saber da nossa conversa.
Ainda tentei convencê-los a chamarmos a Philipa, a Katie e a Sarah, mas nenhum deles pareceu muito de acordo com a ideia. Para eles, quanto menos pessoas estivessem a par do que ia ser falado melhor e, para além disso, não confiavam na Sarah. Custou-me imenso guardar aquele segredo delas, mas não podia fazer nada e também eu começava a ter problemas de confiança em relação à Sarah. Estávamos enclausurados na sala que quase servia de casa na época de exames havia menos de 2 dias e ela já se tinha aproximado demasiado do inimigo.
"Bem, nós estivemos a pensar no que devíamos fazer para sair daqui e, obviamente, esperar que a policia faça algo não é, de todo, uma opção. Temos de ser nós a tratar do assunto. A questão é que não sabemos ao certo quantos são, as armas que têm e as suas intenções, mas temos uma vantagem. Ali o Don Juan..." – introduziu Ian fazendo contacto visual comigo. – "E eu ontem tive uma ideia, vocês os dois estão feridos e isso é a desculpa perfeita para vos por ao pé um do outro, como se criássemos uma ala hospitalar aqui, tu tornas-te mais próxima dele e tentas sacar o máximo de informação possível sem ser suspeito."
Dizer que fui fã daquela ideia é uma redonda mentira. Não queria de maneira nenhuma tornar-me próxima de uma pessoa que foi capaz de atacar um grupo de pessoas inocentes, sabe-se lá com que propósito. Mas tinha de o fazer. Pelo grupo. Se fizesse aquele pequeno sacrifício sairíamos daquele buraco mais depressa e nada me motivava mais que a simples ideia de estar novamente livre.
Sem grandes hesitações, aceitei imediatamente o acordo. Prometi aproximar-me do rapaz de cabelo escuro oleoso e passar-lhes as informações todos os dias. Prometi também não contar a ninguém daquele nosso acordo.
"B, isto é importante! Eu sei que tu e as miúdas contam tudo umas às outras, seja o que for, mas desta vez é diferente. Não podes mesmo desbocar-te!" – insistiu Ian referindo-se a Katie, Philipa e Sarah.
"Se quiseres até assino um contrato!" – retorqui na brincadeira.
Como era óbvio, Ian achou a ideia excelente e foi quase a correr procurar um papel e uma caneta para todos nós assinarmos o 'contrato de confidencialidade'. E foi ai, quando eu, o Bruno e o Luke ficamos sozinhos e em silêncio na varanda que percebi que algo incomodava Luke profundamente, pois estava em pé, encostado à parede branca da varanda a olhar para mim de forma séria. Queria perguntar-lhe o que se passava, porém não queria ter aquele tipo de conversas em frente ao Bruno.
Depois de todos rubricarmos uma folha de papel de um qualquer caderno que tinha o texto 'Aceito não contar nada do que foi falado na reunião de dia 6 de Abril de 2019 às 7:50 da manhã. O incumprimento deste contrato vai resultar em consequências graves para o infrator', Ian dobro a folha em quatro e guardou-a no bolso, orgulhoso do seu pequeno contrato.
"Luke, podemos falar?" – questionei olhando para Ian e Bruno para que eles se fossem embora.
O loirinho sentou com as pernas à chinês diante de mim e sei uma palavra esperou que eu começasse a falar. Sem pensar, peguei-lhe numa mão e introduzi o assunto:
"O que é que se passa? Não concordas com o plano?"
Luke suspirou exasperado, largou a mão da minha e passou pelo cabelo dando-me certezas que algo de errado se passava com ele.
"Claro que não concordo com o plano. Tu não tens de fazer isto. És tu que estás magoada, está fraca e vais ter de lidar com aquele gajo que claramente não é de confiança e se ele te faz alguma coisa?"
Sorri ligeiramente o que tenho a certeza que o irritou um bocadinho e tentei descansá-lo.
"Eu sou crescidinha, Luke. Sei cuidar bem de mim."
"Espero bem que sim, pequenina. Não ia conseguir viver comigo mesmo se algo de mal de acontecesse." – confessou olhando intensamente para os meus olhos.
"Não me digas que estás preocupado comigo?!" – consegui dizer apesar de me sentir vidrada no azul dos olhos dele.
Em lugar de me responder, Luke beijou-me suavemente puxando-me para si pela cintura. Fechei os olhos apreciando cada segundo daquele beijo. Era tal e qual a minha imaginação, foi tão perfeito como eu pensava que seria. Naquele momento parecia que só eu e ele é que existíamos e que não enfrentávamos nenhum problema. Quando dei por mim já estava deitada no chão frio de pedra da varanda com Luke a beijar-me o pescoço. Tudo estava a ser perfeito até ao momento em que o rapaz tocou-me na ferida na barriga provocando-me um esgar de dor que fez com que ele se afastasse quase instantaneamente.
"Desculpa, isto não devia ter acontecido!"
Luke levantou-se, olhou para mim uma última vez e saiu rapidamente da varanda deixando-me sozinha com os meus pensamentos.
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O IDEAL
ActionEste livro conta a história de um grupo de adolescentes que ao ser atacado sem aviso se vê obrigado a tomar decisões difíceis para conseguir derrotar os seus inimigos e acima de tudo sobreviver na sala comum da sua universidade. Quem eram aqueles ho...