Vivemos em um tempo cujo significado da felicidade se tornou banal e tosco. As relações sociais, políticas, psicológicas, desde a Revolução Industrial, introduziram uma dinâmica completamente nociva para a vida. Um novo contrato social foi estabelecido a partir do momento em que a humanidade se submeteu aos ditames da nova fórmula opressora da vida. Desde do século XIX, um simples operário passava a vida inteira para confecção de objetos que nunca poderia sequer obtê-los em vida. Essa condição criticada e teorizada por Marx, materializa a configuração da sociedade. O antagonismo entre as classes de opressores e oprimidos é o motor, segundo Marx, da civilização. Com isso, enquanto uns passam vidas trabalhando recorrentemente em busca do sustento básico da existência, outros vivem de forma luxuosa e escrupulosa.
Fato é que, as condições de vida no século XXI 'melhoraram'. Leis trabalhistas foram criadas, bem como novas legislações que garantem 'soberania' ao povo em questões políticas, como o advento do voto e da democracia. Entretanto, a desigualdade social foi erradicada? Claramente não. A dialética de classes ainda se manifesta de forma clara na sociedade. Sabe por que? Porque por mais que o Estado se comprometa em apresentar discursos contra desigualdade, nunca lutará de fato contra o antagonismo. Sua condição de opressores, os impedem de se abnegarem de fato de seus postos. Eles têm noção de quão desumano é o sistema, mas não querem se submeter a real luta, para que não percam assim seus privilégios.
Aliás, o sistema moderno é baseado na constante dominação por parte do Estado. O contrato social clássico, proposto por Hobbes e outros contratualistas, é pautado na visão de que o homem e sua natureza destrutiva, se submeta a um Soberano (Estado), em via de que a paz entre os homens pudesse ser alcançada.
Contrariamente, o que vimos nos últimos anos, foram apenas guerras e misérias. O Estado que deveria garantir a paz, apenas se tornou uma instituição de opressão.
Com isso, em via de tal paradoxo, Liev Tolstói idealiza 4 formas de dominação que o Estado exerce ao longo da história para manutenção de seu poder. São elas:
Imposição
-Criação de uma imagem divina e imutável do Estado.
Corrupção
-Manipulação das riquezas do povo: impostos.
Alienação
-Obstrução do desenvolvimento cognitivo e moral dos indivíduos quanto a realidade.
Exército
-Máquinas alienadas que fazem o trabalho sujo do Estado.Entre tais métodos de dominação, o pior entre tais é a Alienação. O Estado, cria, desde da infância uma imagem de plenitude e perfeição da realidade. Desenvolve no indivíduo o patriotismo que faz com o mesmo, defenda e siga todas as decisões do Estado. Com isso, cria-se uma demência cognitiva, na qual o sujeito se submete livremente a realidade opressora. Nesse sentido, com o belo discurso meritocrático, o indivíduo então busca em sua vida alcançar os bons aparatos materiais da vida. Um bom carro, uma boa casa, um bom smartphone, um bom status social e etc. Toda essa imagem é uma construção criada pelo Estado para que o sujeito intercalado em tal cenário almeje apenas tal realidade. Vive-se pois, em uma sociedade de espetáculos constantes, como dizia Guy Debord e pautados em um sistema de industrias culturais ilusórias que apenas ludibriam o indivíduo em uma realidade que não o pertence individualemente.
Por conseguinte, o sonho do oprimido passa a ser o de se tornar um opressor. Sua vivência passa a ser a de almejar a plenitude do sistema. Esse é pois, o paradoxo social vivido. Consequentemente, o conceito de felicidade se tornou envolto em tal contexto. O que prega-se hoje acerca da felicidade, não é nada mais nada menos que apenas uma mera esdruxula ilusão. Que felicidade ilusória e opressora é essa criada pela sociedade moderna?
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Ensaios filosóficos sobre a Existência
SpiritualEm tempos de incerteza e liquidez, perguntamo-nos acerca do real sentido da vida. Qual é a essência do existir? O que fazer em meio a um mundo encoberto de materialismos e ilusões? A felicidade pode ser alcançada? Ou é apenas um devaneio humano? Qua...