A afirmação ontológica de se enxergar no Outro

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"Eu me odeio...mas talvez eu possa ser capaz de me amar. Talvez minha vida tenha um valor maior. Sim. Eu não sou nada além de mim. Eu sou eu. Eu quero ser eu. Quero continuar a existir nesse mundo! Eu sou digno de viver aqui!"

                                                                                                                                                                                 Shinji Ikari

Em um paradigma de não enxergar razão de existir, o momento ápice da obra Nova Neon Evangelion, Shinji aceita quem de fato ele é. Shinji havia sido abandonado pelo pai quando criança e além disso, sua mãe também havia sido morta. Com isso, sua vida era um fardo e não tinha um sentido definido para Ser. Sua concepção de família era morta e nisso seus vínculos sociais eram frágeis. Enfim, psicologicamente Shinji era um personagem fraco que não via nenhum valor em sua existência.

Paradoxalmente, ao mesmo foi encarregado o peso de salvar a humanidade. Ele teria de pilotar um robô que lutaria contra os 'anjos' que ameaçavam destruir a terra. Mas ele sempre estava em confronto de aceitar sua responsabilidade. O robô representava uma parte psicológica de si; a necessidade de mudança, uma oportunidade. Uma incrível referência a psicanálise Freudiana que, fala do 'Eu' que está em eterno confronto, bem ao conceito de angústia Sartriano. 

Fato é que, a obra busca retratar a condição humana. E genialmente, Evangelion apresenta que todos os outros personagens envolvidos na trama, tinham suas dores e seus dilemas. A frase exposta no início, representa o ideal de uma sociedade: uma sociedade que aceita a dor e o sofrimento do viver mas que busca crescer. Shinji reconhece a si mesmo no outro, no que tange a condição de Ser. Ele aceita quem ele é! Ele renasce!

O convívio social é um reflexo de dores. Somos seres falhos vagando pela Terra. Todos nós abarcamos o Desespero de Ser. Essa é uma condição universal de cada ente. Mas ao reconhecermos no outro nossa dor, nós crescemos. A dor do outro reflete em minha dor.

Com isso, encarar essa dor do existir, é descobrir o valor da vida e descobrir quem de fato somos como seres humanos (Seres da Angústia). A ocupação do outro em mim, faz parte de quem eu sou.

A resposta para a humanidade, é aceitar a dor e o desespero que integra o gênero humano. Ao lidar com tal frustração do existir, coletivamente, podemos, pois, achar o valor de cada ente. 

Nesse viés, na dor do outro, eu encontro minha dor. Só consigo me enxergar por completo pelo outro. Eu existo a partir de mim, mas me confirmo de maneira plena ao ver que a dor outro, se reflete em quem eu lido todos os dias. Viver em sociedade, é conviver com as dores do outro. Esse é o verdadeiro significado do vínculo humano.

O convívio social pleno se dá no momento em que cada um dos entes aceitam juntamente o peso da vida e com isso, se projetam um no outro na busca de um socorro. O convívio social é um socorro ao desespero da vida. Nos entregamos ao outro a ponto de doarmos nossas próprias vidas, pois assim, como Deus é o socorro para o desespero humano, o próximo também é uma projeção de escape.

E o fato de nós agarrarmos ao outro, não nos torna fraco. Quando nos relacionamos, não deixamos de lado a responsabilidade ontológica, mas sim, compartilharmos com o outro as nossas experiências. Com o outro, a construção da existência se torna mais bela. Pois como dizia Sêneca, a fraternidade e o amor são os elementos que amenizam a dor do existir.

Portanto, a afirmação ontológica necessita do outro para se firmar de forma plena. As pre-ocupações heideggerianas não são só de trocas sentimentais e psicossociais, mas sim trocas existenciais. O Ser é aquele construído individualmente e que se confirma coletivamente.

 O Ser é aquele construído individualmente e que se confirma coletivamente

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⏰ Última atualização: Sep 28, 2019 ⏰

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