O sol perfurava as nuvens carregadas que se aproximavam, fazendo apenas alguns feixes de luz — não eram o suficiente para alcançar as poucas plantas que repousavam por entre a cidade.
Os ventos fortes que balançavam as árvores eram frios e cortantes, como os de um início de outono.
Nas calçadas, apenas folhetos rasgados e molhados, mas nenhum sinal de atividade humana.
Os prédios altos e abandonados faziam sombras ainda maiores sobre a cidade e as ruas, tão deploráveis que sua natureza de presença humana era um pensamento inalcançável.
Entre tais circunstâncias, apenas uma garota caminhava por entre a estrada principal.
— MAX!
Berrava tal nome há dias — estava cansada e faminta, mas era completamente incansável. Faria de tudo para ver seu querido irmão novamente — mesmo naquela situação.
Até as autoridades já haviam abandonado a cidade, depois que a evacuação já havia terminado.
Tudo por conta da praga.
A praga, ou "assassina", como era conhecida, era um vírus recentemente descoberto, que ameaçava diversas pessoas do mundo, incluindo a própria Diana — a garota que procurava por seu irmão, desaparecido desde pouco antes do surto da praga.
A garota se sentou no meio do asfalto, já abandonado. Olhou à sua volta, e observou os últimos traços de vegetação ainda existentes, imaginando que, no futuro, tudo já estaria morto.
"Alguns, dizem que é o fim do mundo. Outros, um castigo enviado por Arceus — eu, acredito que seja apenas..."
A ponta de sua caneta começou a falhar. Fechou seu pequeno caderno, onde registrava seu dia a dia, vivendo sozinha na cidade abandonada e, pelo menos por enquanto, não atingida pela praga.
O asfalto estava parcialmente quente devido à exposição constante ao sol. Era um calor que não sentira em tanto tempo, já que sempre estava sob as nuvens, procurando por Max.
Até que algo chamou sua atenção.
Aproximou-se de um dos portões de entrada para a cidade, com diversas gramíneas que cercavam as grades — plantas essas que estavam mortas, com coloração escura e cheirando a algo podre.
Sua face lividou-se. Suas pupilas se dilataram. Suas mãos começaram a tremer.
A praga havia chegado.
Aquilo significava que Diana teria que deixar a cidade e ir para longe, aonde os ventos demoníacos do tal vírus assassino não alcançavam. Voltou-se para o meio da estrada, ainda em choque. Observou o alto das montanhas no horizonte — talvez aquele seria o novo lar da garota em algum tempo.
Ela não sabia. O único que se conhecia, afinal, era que o vírus tinha um efeito rápido, tanto quanto seu espalhamento, por isso, Diana não tinha muito tempo.
Ela já esperava parcialmente que aquilo aconteceria, mas não tão rapidamente. Talvez a praga era ainda mais destrutiva do que poderia possivelmente imaginar.
Seus pensamentos só a preocupavam mais ainda — tudo acontecia tão rapidamente, mas aquelas lembranças no fundo de sua cabeça, de sua família em mais um dia normal, pareciam tão distantes, mesmo acontecendo há apenas duas semanas.
Continuava caminhando pelas ruas, tendo rápidos flashes de memória por onde passava. Sua antiga escola, agora completamente violada e vandalizada. A tradicional sorveteria em que costumava ir com seus amigos, agora estava suja e tomada por Pokémon nojentos, se alimentando da comida deixada para trás.
Era estranho não saber onde seus pais estavam, e a cada dia que passava, ela parecia se arrepender ainda mais de sua estúpida decisão de ignorar os sinais de evacuação e ficar para procurar seu irmão.
Finalmente, chegou ao grande portal que levava à portaria de seu antigo prédio, que agora servia de abrigo para ela e Khan, seu elétrico companheiro de quarto — um pequeno Shinx, que encontrou abandonado depois que a cidade foi evacuada.
Ela, ainda inconformada de ter que subir e descer de escada por conta da queda geral de energia na cidade toda vez que queria ir lá fora, empurrou a pesada porta e começou a subir os degraus lentamente.
"Que bela hora para se morar no décimo primeiro andar" pensou.
Depois de uma longa caminhada até o penúltimo andar do prédio, fitou a grande porta retangular feita de madeira de mogno, e lembrou das centenas de vezes que viu sua mãe abri-la depois de chegar da escola.
Era muito bom ter todos por perto. Mas, lembrou-se dos ensinamentos de seu já falecido avô: "A vida é feita de decisões. Quando uma é feita, não se dá para voltar atrás".
Ela girou a maçaneta, fazendo um ruído desconfortável para seus ouvidos. Colocou suas botas sujas de lama ao lado da porta e seguiu até a sala. Aquele era provavelmente o lugar mais bem higienizado de toda a cidade — Diana era bastante insistente quando se trata de deixar sua casa sempre limpa e organizada. Mas, naqueles tempos, isso era um pouco difícil.
Khan deitava sobre uma almofada empoeirada sobre o sofá, balançando sua cauda em forma de estrela amarelada de um lado para o outro. A garota, sem se controlar de fofura, passou a mão sobre sua testa, e os seus pelos azuis trataram de se arrepiarem, e o pequeno gato rapidamente despertou-se de seu cochilo. Ele ronronou ao ver o rosto de Diana.
— Oi, amiguinho. — Ela olhou para o lado, e percebeu o potinho de comida vazio, bem como o destinado à água, do seu lado. — Está com fome, hm?
Ele pulou no chão, se espreguiçando sobre o carpete antigo, e se dirigiu ao lugar aonde sempre se alimentava, esperando Diana vir da cozinha para servir pequenos vegetais cortados, sobras da dispensa de seu apartamento.
O bichinho comeu tudo rapidamente, deixando mais claro ainda sua necessidade de alimento.
Ela observou Khan, rindo levemente, e aguardou até que terminasse de se servir.
— Ei, Khan... — disse ela, se aproximando e segurando-o de forma que pudesse olhar em seus olhos — eu preciso da sua ajuda. Você já sabe, né? É o de sempre.
O pequeno Pokémon gato automaticamente entendeu o recado, se aproximando levemente da TV antiga, do outro lado da pequena mesa de centro.
Diana se sentiu feliz por poder contar com ele. Seguiu com ele até o lado do dispositivo. Ela o moveu levemente, de forma que a parte de trás, onde os circuitos estão localizados, fosse visível. Ela segurou alguns cabos encapados, e os aproximou de Khan, que liberou algumas cargas elétricas.
Rapidamente, a TV voltou a funcionar — bem mal, na verdade — mas já era um grande avanço.
— Tá funcionando, tá funcionando! — gritou Diana, conseguindo identificar algumas palavras em meio aos inúmeros chiados. — Continue energizando os cabos!
Ela se sentou no sofá, como amava fazer antes daquele cenário, que mais parecia pós-apocalíptico, se iniciar, quebrando completamente a rotina de todos.
"Várias cidades foram evacuadas, e a praga continua a se espalhar. Não há qualquer pista, até então, que favoreça o desenvolvimento de uma possível cura. No momento, nenhum humano foi diagnosticado com o vírus, mas sua nocividade para este já é comprovada."
Ela conseguiu apenas ouvir estas palavras vindas do aparelho de televisão.
"Caso veja algum sinal da praga, contate as autoridades imediatamente... os sintomas já identificados em Pokémon para testes em laboratórios resultaram em um grande aumento de adrenalina e surtos psicóticos."
A partir daí, nada mais conseguiu ser escutado.
— Nada, de novo... — ela parecia desanimada, e, ao mesmo tempo, cheia de fadiga.
Khan se desanimou ao ouvir suas palavras, também. Ela esperava ter no mínimo alguma informação sobre o destino das pessoas evacuadas, para que conseguisse se aliviar sabendo que seus pais estariam bem — ou ter até alguma notícia sobre seu irmão.
Ela se jogou no sofá novamente. Khan a acompanhou, pulando do reque que sustentava a televisão na mesa de café, e depois repousou novamente sobre o sofá.
— A praga já chegou aqui, Khan. — Ela parecia conversar sozinha, visto que o companheiro Pokémon não poderia responder o que dizia. — Isso significa que temos que sair o mais rápido possível, mas até hoje não sabemos para onde papai e mamãe foram. Agora, teremos que nos virar sozinhos, indo para um lugar bem distante. Eu estava pensando naquelas montanhas nevadas que estávamos observando aquele dia, lembra?
O Pokémon pareceu se animar com a ideia.
— Mas parece muito longe... — ela quebrou todo o clima, pensando melhor em outras possibilidades. — diria que alguns dias de caminhada.
Ela virou-se, encarando a parede na direção ao lugar a que se referia.
Diana foi ao seu quarto e começou a arrumar roupas e mais roupas e colocou dentro de uma grande bolsa, junto com um kit com coisas para higiene pessoal.
— Partiremos pela manhã.
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The Plague
Aventura- Apenas duas semanas do desaparecimento do irmão de Diana, uma jovem garota como qualquer uma, há um surto de um perigoso vírus, que mata lentamente tudo aquilo que toca. Apenas com a companhia de seu recém-adotado Shinx, apelidado de Khan, ela ter...