De longe já se anunciava o rebuliço. Vinha Emília, com o braço no ar, lépida e fagueira:
− Pessoal, olha o que eu achei...
Porém, na varanda da sede do Sítio, Narizinho e Pedrinho nem tchum para ela!
A bonequinha embrabeceu:
− Ah, é – fechando os punhos recheados de macela – pois que seja! Sobra mais para mim!
Havia dois dias que Pedrinho e Narizinho se revezavam entre os novos mini game e smartphone dele. Emília, muito dona de si, foi cantar em outra freguesia:
− Vovó, não é mesmo uma maravilha?...
Mas Dona Benta estava concentrada no noticiário da tevê:
− Depois, meu anjo, depois...
A danada da Emília ainda tentou a sorte com Tia Nastácia. Em vão, a cozinheira estava muito entretida, preparando o almoço e acompanhando os sucessos da rádio:
− ...Eu sou um bolinho de arroz... Meus bracinhos vieram bem depois... Minhas perninhas ainda estão por vir... E eu não tenho boquinha pra sorrir...
− Porque – completou Emília, saindo para o pátio − eu sou um bolinho de arroz!
A ex-marquesa suspirou, pensativa. Rábico só se interessava por comida. Quindim e Burro Falante captariam a magnitude do achado sendo eles próprios grandes raridades?
Não, ela precisava era encontrar alguém que reconhecesse a incrível descoberta que fizera. Estava esboçando beicinho, matutando se valeria a pena ir até a casa do Tio Barnabé, quando ouviu uma risadinha. Depois outra. Baixinhas, baixinhas. Mas eram risadinhas.
− Te peguei!
Visconde, tamanho o susto que levou, recorreu a um verdadeiro malabarismo para evitar que seu tablet se espatifasse no chão.
− Assim, acaba por me matar, Dona Emília – protestou o sábio, recobrando o comedimento. De onde a senhora surgiu?
− Das mãos daquela que atende por Tia Nastácia. Não conhece essa história?
− Evidentemente...
− Ora, veja – interrompeu – então, por que pergunta?!
Mas antes que o cereálico vivente pudesse responder, ela emendou:
− Desalmada! Tia Nastácia e os outros. Todos desalmadíssimos! Narizinho, Pedrinho, Dona Benta... Acredita que nenhum deles quis ver a descoberta que eu, por mim mesma, fiz e que agora fará parte do meu próprio Museu de Curiosidades?!
− Vai ver, não foram suficientemente instigados diante de tanto cabotinismo!
− O quê?
− Ou, então – corrigindo o excesso de sinceridade, afortunadamente, não absorvido − a sua nova aquisição, talvez, não seja tão espetacular...
− É sim, seu bolorento! Minha relíquia é muito melhor do que qualquer... Do que qualquer... Nem te conto!
E botou-lhe a língua.
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A BONECA DA EMÍLIA
Fanfiction~~ Uma singela homenagem ao grande Monteiro Lobato através de sua mais famosa criação: a turma do "Sítio do Picapau Amarelo". Conto inspirado livremente na série de livros infanto-juvenis. ~~