A BONECA DA EMÍLIA

V - Por fim, uma descoberta

Pega de supetão, Emília viu Rute desaparecer diante de seus olhos. Ficou tão embasbacada com o sumiço da nova amiga que nem percebeu a entrada dos velhos.

− Ei, Emília – questionou Narizinho – com quem você estava conversando?

− Com a Rute! Ela estava bem aqui agorinha...

− Sem essa – protestou Pedrinho. Não tinha mais ninguém aqui!

− Tinha!

− Não tinha!

− Agora chega – disse Narizinho. Emília a gente não ouviu mais ninguém. Só você!

− Alto lá! Vocês estavam me espionando?

− Mais ou menos – falou Pedrinho cauteloso.

− E esse empalhado aí?

− Não fale assim com o Visconde. Ele estava preocupado com você, Emília – suavizou a menina do nariz arrebitado. Todos nós estávamos. Aí a vovó contou que você estava aqui com uma amiga.

− É. A Rute estava aqui comigo!

− Rute? Quem é essa, Emília?

− A boneca de pano que eu fiz...

− Você fez uma boneca?!

− Com o tecido da roupa nova do Imperador. Eu até mostrei para o Visconde...

− Agora explica-se por que eu não vi. Era o tal tecido mágico...

− Mágica contra mágica! Dessa vez, o pirlimpimpim se voltou contra você, Emília.

− Verdade, Pedrinho – balbuciou Emília, com os ombros caídos. Queria que vocês conhecessem a Rute. Ela era braba, mandona, mas tinha bom coração...

− A gente acredita, Emília – disse Narizinho, alisando os retalhos da cabeça da amiga. Afinal, foi você quem fez...

− Olha só! Enquanto a Rute não volta, – emendou Pedrinho, quebrando um breve silêncio – a gente podia fazer alguma coisa legal. O que você acha, Emília?

− É, pode ser... Mas, eu não vou atrapalhar?

− Que isso?! Emília, Emília. Não estou reconhecendo você...

− É que a Rute me ensinou uma coisa. Por mais que eu goste de aventuras, sei que tenho de respeitar a solitude de cada um. Mesmo que eu não tenha uma para chamar de minha...

− Se me permite discordar, Marquesa – reparou Visconde − creio que a senhora tem, sim. Sua solitude aparece quando a senhora se solta no mundo da imaginação!

− Quer dizer que – com os olhos de retrós brilhando − a Rute existe mesmo?

− Tal e qual, cada um de nós!

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"Entrou por uma porta, saiu pela outra. Quem quiser, que conte outra."