IV - Olha quem fala!

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Horas depois, Visconde juntou-se a Narizinho e Pedrinho na varanda.

− Por acaso, vocês viram a Senhora Marquesa?

− Não – respondeu Narizinho, com ar triste. A gente ficou jogando até a Tia Nastácia chamar para o almoço.

− A vovó disse que nós perdemos a noção do tempo...

−Às vezes, é isso mesmo que acontece. – ponderou o Visconde. Enquanto não terminei um e-book, não tirei os olhos da tela. Mas, depois, bateu-me uma preocupação...

− Vocês brigaram? – questionou Narizinho.

− Pela sua cara, Visconde – analisou Pedrinho – boa coisa não aconteceu.

− Sim. Houve um princípio de celeuma que eu gostaria de dissipar antes que virasse uma cizânia.

Os primos entreolharam-se, confusos e cismados. Saltaram da rede.

− Vem com a gente, Visconde – disse Narizinho, tomando a frente.

− Enquanto a gente procura a Emília, − reivindicou Pedrinho − você explica melhor essa história de celeuma com cizânia.

Os três reviraram o Sítio de pernas para o ar, mas nem sinal da bonequinha.

− Calma, Narizinho, não precisa chorar. Logo, logo ela aparece – disse Pedrinho, oferecendo o ombro. Todavia, ele já dava sinais de lacrimejar.

Foi nesse exato momento que Dona Benta apareceu, com a chave do mistério:

− Vocês não estão ouvindo a falação? Emília está na biblioteca, com uma amiga!

− Amiga? Quem será? Será que...

Em dois tempos, Narizinho e Pedrinho já se espremiam para espiar por uma frestinha da porta. Visconde permaneceu dois passos atrás. Ainda estava encafifado por não saber qual seria a reação de Emília ao vê-lo, ainda mais estando ela acompanhada.

− Chega aqui, Visconde! Deixa de ser pamonha!

− Xiu, eu quero escutar – censurou Narizinho.

E ouviu:

− Ai, Rute! Você tem cada uma...

Dentro da biblioteca, Emília era só gargalhadas:

− Nunca me diverti tanto com alguém. Quer dizer... Já, sim. Quando a Narizinho, o Pedrinho e até o chato do Visconde tinham tempo para mim, a gente vivia uma aventura atrás da outra...

Colados à porta, os três espiões engoliram seco.

− Quem diria que, mesmo feita de pano, ela tem mesmo um coração – pensou o sabugo, sentindo-se ainda mais infeliz pelo mal-entendido de antes.

Sem saber quem estava à espreita, Emília continuou a matraquear:

− Eu sei que a gente ainda não se conhece direito, mas... Hoje você salvou o meu dia! Ah, amanhã sabe aonde a gente podia ir? Lá no Ribeirão! Quem sabe a gente não dá uma volta pelo Reino das Águas Claras, e...

− Ai, só de ouvir já estou exausta! Acho que eu preciso dar uma dormidinha...

Cataploft! Ao invés de Ruth bocejar, foi Emília quem abriu a bocona:

− Pode levantar sua preguiçosa resmunguenta! Nem mostrei os outros belongues!

− Não quero ver mais nada da sua canastrinha!

− Por que não? – abrindo mais a boca, agora com espanto. São itens raríssimos!

− Ai, ai! Você vai me dar algum desses pertences?

− Nem que a Mocha tussa!

− Egoísta!

− Interesseira!

− Dorminhoca!

− Mandona!

Emília, atucanada, não tinha como abrir ainda mais a boca, os olhos, os braços:

− Eu?!

− Você! Maria-mandona! Quer saber do que mais, dona Marquesa-Condessa-de-Rabicó-com-Três-Estrelinhas? Cansei de ficar ouvindo a senhora ficar choramingando pelos seus amigos. Você vai ter que decidir: ou eles, ou eu!

Emília botou a mão na cintura:

− É, né, bebé. Mamar numa bezerra você não quer? Nunca, nunquinha eu trocaria os meus amigos da vida toda. Por ninguém!

− Que assim seja! Pode ficar com o meu tchau! Faz de conta que a gente nunca se conheceu! Pirlimpimpim!

A BONECA DA EMÍLIAOnde histórias criam vida. Descubra agora