Horas depois, Visconde juntou-se a Narizinho e Pedrinho na varanda.
− Por acaso, vocês viram a Senhora Marquesa?
− Não – respondeu Narizinho, com ar triste. A gente ficou jogando até a Tia Nastácia chamar para o almoço.
− A vovó disse que nós perdemos a noção do tempo...
−Às vezes, é isso mesmo que acontece. – ponderou o Visconde. Enquanto não terminei um e-book, não tirei os olhos da tela. Mas, depois, bateu-me uma preocupação...
− Vocês brigaram? – questionou Narizinho.
− Pela sua cara, Visconde – analisou Pedrinho – boa coisa não aconteceu.
− Sim. Houve um princípio de celeuma que eu gostaria de dissipar antes que virasse uma cizânia.
Os primos entreolharam-se, confusos e cismados. Saltaram da rede.
− Vem com a gente, Visconde – disse Narizinho, tomando a frente.
− Enquanto a gente procura a Emília, − reivindicou Pedrinho − você explica melhor essa história de celeuma com cizânia.
Os três reviraram o Sítio de pernas para o ar, mas nem sinal da bonequinha.
− Calma, Narizinho, não precisa chorar. Logo, logo ela aparece – disse Pedrinho, oferecendo o ombro. Todavia, ele já dava sinais de lacrimejar.
Foi nesse exato momento que Dona Benta apareceu, com a chave do mistério:
− Vocês não estão ouvindo a falação? Emília está na biblioteca, com uma amiga!
− Amiga? Quem será? Será que...
Em dois tempos, Narizinho e Pedrinho já se espremiam para espiar por uma frestinha da porta. Visconde permaneceu dois passos atrás. Ainda estava encafifado por não saber qual seria a reação de Emília ao vê-lo, ainda mais estando ela acompanhada.
− Chega aqui, Visconde! Deixa de ser pamonha!
− Xiu, eu quero escutar – censurou Narizinho.
E ouviu:
− Ai, Rute! Você tem cada uma...
Dentro da biblioteca, Emília era só gargalhadas:
− Nunca me diverti tanto com alguém. Quer dizer... Já, sim. Quando a Narizinho, o Pedrinho e até o chato do Visconde tinham tempo para mim, a gente vivia uma aventura atrás da outra...
Colados à porta, os três espiões engoliram seco.
− Quem diria que, mesmo feita de pano, ela tem mesmo um coração – pensou o sabugo, sentindo-se ainda mais infeliz pelo mal-entendido de antes.
Sem saber quem estava à espreita, Emília continuou a matraquear:
− Eu sei que a gente ainda não se conhece direito, mas... Hoje você salvou o meu dia! Ah, amanhã sabe aonde a gente podia ir? Lá no Ribeirão! Quem sabe a gente não dá uma volta pelo Reino das Águas Claras, e...
− Ai, só de ouvir já estou exausta! Acho que eu preciso dar uma dormidinha...
Cataploft! Ao invés de Ruth bocejar, foi Emília quem abriu a bocona:
− Pode levantar sua preguiçosa resmunguenta! Nem mostrei os outros belongues!
− Não quero ver mais nada da sua canastrinha!
− Por que não? – abrindo mais a boca, agora com espanto. São itens raríssimos!
− Ai, ai! Você vai me dar algum desses pertences?
− Nem que a Mocha tussa!
− Egoísta!
− Interesseira!
− Dorminhoca!
− Mandona!
Emília, atucanada, não tinha como abrir ainda mais a boca, os olhos, os braços:
− Eu?!
− Você! Maria-mandona! Quer saber do que mais, dona Marquesa-Condessa-de-Rabicó-com-Três-Estrelinhas? Cansei de ficar ouvindo a senhora ficar choramingando pelos seus amigos. Você vai ter que decidir: ou eles, ou eu!
Emília botou a mão na cintura:
− É, né, bebé. Mamar numa bezerra você não quer? Nunca, nunquinha eu trocaria os meus amigos da vida toda. Por ninguém!
− Que assim seja! Pode ficar com o meu tchau! Faz de conta que a gente nunca se conheceu! Pirlimpimpim!
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A BONECA DA EMÍLIA
أدب الهواة~~ Uma singela homenagem ao grande Monteiro Lobato através de sua mais famosa criação: a turma do "Sítio do Picapau Amarelo". Conto inspirado livremente na série de livros infanto-juvenis. ~~