Axel

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Passamos pelo jardim da casa, a grama estava tão alta em algumas partes que conseguia chegar até a altura do joelho.

Suspirei.

Eu definitivamente odiava o ar livre. Preferia mil vezes estar em casa com um pai que vive tanto no automático que mais parece um vegetal do que ali.

A porta da frente estava caída no chão da varada. Passamos por cima ela, chegando a uma enorme sala com teto alto e duas grandes escadarias que levavam para o segundo andar. Havia um quadro enorme ali, onde as escadas se juntavam no topo, estava coberto de poeira, mas parecia a imagem de um homem barbudo.

Na verdade tudo ali estava coberto de poeira, resultado dos anos de abandono.

Estava esperando Noah começar com uma piada sobre isso a qualquer momento, do tipo, "aqui tem tanta poeira que até a poeira tem poeira".

Ri do meu próprio pensamento, dando graças a Deus que ele não havia começado com essas piadas horríveis ainda.

O lugar estava completamente escuro. Um ruido de alguma coisa arranhando vinha do segundo andar, provavelmente um galho contra a janela.

– É. Esta menos pior do que imaginei. – ouvi Noah comentar. Ele se virou para Castiel. – Trouxe?

O zumbi loiro tirou de dentro da mochila algumas lanternas e distribuiu entre a gente.

– Vamos explorar. – Noah disse enquanto se dirigia por um corredor lateral escuro, seguido de perto por Dannell.

Emily foi logo atrás deles, o que não me deu outra opção a não ser segui-los junto com Castiel.

Passamos por uma enorme sala vazia, que provavelmente era a sala de estar a julgar pela lareira cheia de poeira e as enormes prateleiras vazias que cobriam quase todas as paredes.

– Sabe, dizem que essas casas antigas são cheias de passagens secretas. – Emily comentou.

– Será que tem alguma aqui? – Noah perguntou.

– É bem provável. Essa casa deve ser do século passado. Eles usavam essas passagens como rota de fuga, abrigo anti-bombas ou para esconder coisas valiosas.

Continuamos seguindo pelo corredor até chegar ao final, onde ficava a sala de jantar, passamos por ela e entramos na cozinha, que era a última na qual aquele corredor levava.

Havia alguns armários de madeira ali. O cheiro de mofo era incrivelmente forte, e eu tinha certeza que havia baratas ali, afinal, eu tinha a incrível sorte de conseguir sentir o cheiro desses pequenos demônios de longe.

Abri um deles, como era de se esperar estava lotado de incríveis nadas e lotes de poeira, havia também alguns frascos de vidro vazios. Franzi a testa quando vi uma barata passar por ali.

Eu sabia. Que nojo.

– Olha isso! – Castiel chamou a atenção de todos. Ele indicou uma portinha de madeira entreaberta que dava para um buraco na parede, de dentro eu conseguia ver uma corda que vinha de cima.

– O que é? – Dannell perguntou.

– Ah, isso é um elevador de carga. Era bem comum em casas de gente rica, eles usavam para mandar comida ou roupas para serem lavadas. – Emily respondeu.

No mesmo instante Noah colocou sua cabeça ali, junto com a lanterna, iluminando o lugar para que ele pudesse ver a passagem que ia até o subsolo.

– Então aqui tem um porão. – ele disse. – Onde será que fica a entrada?

Emily deu de ombros.

Noah começou a puxar a corda, fazendo com que o mini elevador começasse a subir.

Todos fizemos cara de nojo quando, junto com ele, veio uma carcaça de um rato morto e algumas baratas pequenas.

– Ah, que nojo. – eu disse.

Resolvemos deixar o rato morto ali e saímos, voltando por todo o caminho até a sala da entrada.

– Eu tive uma ideia.

– Lá vem. – murmurei enquanto revirava os olhos para Noah.

– Vamos tentar achar a entrada do porão, vai ser bem mais assustador contar histórias por lá.

– Acho que as historia de terror vão ser bem menos assustadoras que as baratas gigantes que devem viver lá em baixo.

Ouvi Dannell rir.

Noah resolveu me ignorar, já que continuou a falar sua ideia de que seria mais rápido se a gente se separasse e fosse procurar, quem achasse alguma coisa interessante chamava os outros.

– Ou caso uma parede desabe. Mas nem precisa gritar, tenho certeza que a gente vai conseguir ouvir. – ele sorriu.

– Essa é a pior ideia que eu ouvi sair da sua boca em anos. – eu disse.

– Dessa vez eu tenho que concordar com ele. – Emily cruzou os braços. – A gente nem sabe se tem alguém usando esse lugar de casa. Esse é tipo de cenário perfeito para um assassino psicopata mascarado atacar.

Castiel riu.

– Que isso gente, é óbvio que ninguém viria se abrigar aqui. A casa é "mal assombrada". – ele falou enquanto fazia sinal de aspas com as duas mãos. Provavelmente estava sendo irônico, ou não. Não conseguia entender o humor dele algumas vezes.

– Sim, e nem isso serviu para afastar um bando de adolescentes na noite de Halloween.

– Gente, olhem aqui. – Dannell chamou a atenção de todos e apontou pela janela. – Aquele ali não é o Arthur Jackman?

Todos nós aproximamos dela, e de fato, aquele era o Jackman, com seus dreads curtos levemente levemente descoloridos nas pontas. Ele estava com mais três garotos.

O grupinho do Carter.

– Bullying? – vi Emily franzir a testa.

Eles empurravam Arthur em direção a casa, e a julgar pelo sangue que descia do seu nariz, aquilo não era uma reunião de amigos.

– Acho que sim. – respondi. – Vamos ajudar ele.

– Como? Esqueceu que o Carter pode fazer da nossa vida um inferno a hora que ele quiser? Ele é filho do prefeito.

Carter era aquele tipo de pessoa que se achava o dono do mundo, que todos deveriam se submeter a sua vontade e lamber seus pés só por ele ser filho de alguém importante.

É claro que o pai dele não tinha culpa, já cheguei a conhecer ele quando minha mãe ainda estava viva e posso dizer com toda a certeza que o filho dele era tudo menos o orgulho da família.

Ele já até chegou a levar uma suspensão quando foi pego fumando em baixo de uma das arquibancadas do campo de futebol. O que quase faz seu pai mandar ele para um colégio militar.

E agora ele estava ali com seu grupinho fazendo bullying com um aluno transferido. Eu particularmente nunca cheguei a ter uma longa conversa com Arthur, mas temos aula de biologia juntos e sei que ele é uma boa pessoa que, definitivamente, não merecia o que o Carter estava fazendo.

– Relaxa, eu tenho um plano. – ele se virou para Castiel. – O que mais tem na sua mochila?

FronteirasOnde histórias criam vida. Descubra agora