Cap 2 - alguém diferente

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    Meus pés descalços se esparramam no chão, eu havia jurado não chorar mais, era isso que mulheres bem resolvidas faziam.

Elas nunca choravam.

Desejei que tivesse uma pedra de gelo no lugar do coração para que não doesse tanto, mas noto que nada doía mais que minha cabeça ensanguentada.

— Não... — sussurou devagar como se alucinasse sua própria morte.

— A bela adormecida acordou! — Kethelyn afirmou assoprando suas unhas escarlates e brilhantes.

A morena a encarou seriamente e se virou a JJaie que avaliou antes de abrir a boca.

— Ele te espancou muito? — cobrou por satisfações afinal ele era o cafetão.

Suspirei tocando a nuca e senti o sangue seco grudado aos meus fios de cabelo.
Olhei de volta ao chefe — Eu preciso de um banho!

O homem barbudo acendeu seu cigarro e sorriu de forma solene — Catarina, vamos recordar as regras, você deve me pagar tudinho e sabe isso custa todos os anos da sua vida. Você está presa aqui, acha que por um acaso alguém vai lhe salvar como eu fiz? Não se iluda, ninguém que vem a esse lugar é flor que se cheire, já está na hora de se tornar adulta.

Ele sempre quis me manipular com esse papo que nunca sairei daqui.

Mas, é verdade.

Me forcei a concordar acenando um sim, evitando atrito, mesmo que me sinta injustiçada já que seu expediente era 24 horas por dia e não tinha folga, descanso, apenas sexo, sexo, sexo.

O mesmo pediu para que as outras saíssem do quarto para que ficasse a sós comigo.

— Se não demonstrar respeito, serei forçado a te fazer me respeitar.

— Eu me sinto como uma escrava nesse lugar. Eles me tratam como se eu gostasse disso, como se eu fosse uma delas.

— E você não é? — ele rebateu.

Nunca cheguei tão perto do meu limite, senti como se eu fosse uma aberração sem salvação...

— Temos um cliente pra você, ele quer uma garota com cara de virgem mas que seja uma verdadeira vadia. Ele é podre de rico, renomado e quer discrição! 

Olhei para o lado procurando um vestido que não fosse de prostituta, mas era impossível achar um decente!

— Não fique magoada, Cat — puxou seu rosto na direção do dele — Você nasceu pra isso e vai morrer nisso, não pode escapar, aceita que dói menos. E se arruma agora porque ele está chegando.

Sufoquei o choro e sorri, uma lágrima escorreu e puxou outra, droga. Percebi que as meninas estavam vindo rapidamente fui ao banheiro.

Diante do espelho eu fiz uma reza do pai nosso, cobri o vermelho do tapa de ontem e sorri por alguns segundos me convencendo que eu acharia a minha paz.

O decote estava escapando pelo vestido, sacudi meus cabelos e lambi os lábios saindo do banheiro em direção às escadas.

Estava tudo movimentado, acabei me perdendo em tanta gente já que a boate estava lotada, foi aí que alguém tocou minha bunda ousadamente, me afastei esbarrando em um loiro simpático.

— Me desculpe, eu não te vi — disse se distanciando, assim me encontrei com o chefe e seu convidado.

— Aqui está ela!

— Sua galinha de ouro, não é? — O moreno disse me olhando de cima a baixo com uma expressão de surpresa, ele era atraente como aqueles caras de revista. Usava um blazer alongado, e estava de óculos escuros mesmo estando de noite.

— Sabe que eu não me gabo de quem me rende mais grana...

— É claro. Como se chama? — perguntou a mim.

— Catharina.

— Ora, não seja tímida Cat. — JJaie me empurrou contra ele, eu caí em seus braços. Diferente da maioria ele tinha cheiro de menta fresca com algo a mais que era difícil de descrever, meu nariz se encostou em seu pescoço e eu gostei do cheiro de gente chique.

— Me chamo Lion, é um prazer em conhecê-la.

Ao menos ele é educado.

— O que te fez pagar uma prostituta barata?

— Você tá mais pra uma de luxo — pigarreou abrindo a porta do seu carro maserati preto.

Quando eu coloco o cinto de segurança eu o olho com preocupação — Você não é... Tipo o Grey? Porque eu não sei se estou apita pra BDSM...

— O quê? — ele começou a rir de mim como se eu fosse tosca, engatando a marcha.

Depois disso ele ficou em silêncio e eu permaneci olhando para a rua, fazia tempo que não saia para um bairro tão longe daquele cabaré decadente.

— Onde estamos indo?

— Para um lugar.

— Ah...

Mordo a boca, e se ele fosse um louco? E se quisesse um ménage? Ele é bem sucedido porque não teria uma esposa?

— Posso pergunta qual lugar?

— Você já perguntou, Cat.

Ele me chamou pelo apelido de puta, encostando a mão livre do volante na minha coxa.

Exasperei.

De repente entramos em um condomínio de luxo e absurdamente fechado, fiquei impressionada. Nunca tinha visto casas de tão alto padrão como essas, sério essa gente deve usar a merreca que eu recebo pra pagar a manicure.

Ouvi ele dar uma leve risada, deve ser pelo meu queixo caído.

— Você vai me levar pra sua casa? — perguntei.

De todos os clientes que já passaram por mim, nenhum me levou pra sua casa, porque é muito pessoal e íntimo. Agora esse cara milionário ou bilionário não sei ao certo, quer me comer na casa dele?

Até me animei.

— Não. É a casa uma casa de festas.

— Aahh...

— Meu pai ganha muito dinheiro, até mesmo ilegal e sabe o que não resta a fazer é torrar e torrar. Por isso não é um problema pagar por sua companhia e me disseram que o JJaid vende você como se fosse ouro.

— Soa meio mesquinho quando você fala... — falo meia incerta lhe oferecendo um riso falso e sem graça, ele percebe.

Eu não posso dizer nada que o perturbe ou faça desistir de mim, deve ser legal conhecer a casa de alguém mega rico que quer torrar e torrar.

Cruzes, eu pareço uma interesseira.

Quando ele estaciona me olha sério e junta as sobrancelhas — Temos muito a falar, Catharina. Primeiramente, eu quero dizer que sua mãe ora todo dia por você e o Rony ainda te espera voltar ao mesmo hotel depois de dois anos...

Como ele soube? Como sabe quem sou?

A vadia mais cara de AlzebainOnde histórias criam vida. Descubra agora