Verão 夏天

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Em meio a árvores derrubadas e galhos dispersos pelo chão, Sheng Huang se encontrava ao solo, de joelhos ele se apoiava em sua espada, o jovem cultivador olhava enfurecido para seu pai, o mesmo o encarava de volta, sua negação estava estampada em seu rosto.

"Como espera se tornar um cultivador de renome se mal consegue ficar de pé Sheng Liang"

Ser chamado por seu nome de nascimento apenas fez com que Sheng Huang ficasse mais irritado, com um urro ele se ergue, e voou na direção de seu pai, a luz emitida de sua espada pode ser vista de longe, mas mesmo tanto poder pode ser parado em um único golpe, a disparidade entre Sheng Huang e seu pai era iminente e mais uma vez o jovem discípulo se viu derrotado no chão, seu golpe ainda conseguiu causar um corte no rosto de seu pai, superficial mas doloroso o suficiente para não passar despercebido. O jovem se sentou no chão, sem fôlego e sem energia ele viu seu pai recolhendo algumas coisas e se sentando à sua frente, o olhar de reprovação fora substituído por um olhar de preocupação, Sheng Huang não percebeu que em seu último golpe ele perderá o controle novamente, o homem levou a mão direito sobre o ombro do filho, e mais uma vez lhe pediu ponderação, desvio de Qi poderia lhe levar à morte, ou até causar grandes males a pessoas próximas, apenas ele poderia prevenir isso, o homem não queria perder o filho para as trevas.

Sheng Huang encarava o chão, e foi deixado por seu pai para repensar seus atos, o homem pediu para que ele voltasse para a meditação e tentasse achar em si uma maneira de controlar-se e partiu novamente para a seita. O jovem cultivador permaneceu na mesma posição, até ter forças para se levantar e pegar sua espada, ele se apoiava nas árvores que ainda estavam de pé, ele era de todos o mais dedicado, reconhecido como o melhor dentro dos outros cultivadores, mas mesmo assim estava longe de ser reconhecido como mestre, ele estava com o orgulho ferido de não ter conseguido derrubar seu pai nem sequer uma vez, se viu possuído por uma frustração que aos poucos parecia o destruir por dentro, em um excesso de fúria ele conseguiu partir uma árvore ao meio com o poder de sua espada, reuniu suas últimas forças para voltar para seita, embainhou Jingjing e começou a caminhar com dificuldade, mas cada passo se tornava mais pesado, como se ele mal tivesse força para sustentar o próprio corpo foi quando o topo das árvores se agitou, os galhos balançavam e um vento estranho soprou pela floresta, logo após uma suave melodia pareceu tomar conta de todo o local, não era a mesma que ele ouvirá no outro dia, era mais calma, mais lenta e com notas mais suaves.

Mais uma vez Sheng Huang se viu seguindo quase hipnotizado aquele som, ele começou se arrastando por entre as árvores, mas aos poucos era como se suas dores sumissem e ele passou a andar com facilidade, até que enfim ele chegou no mesmo lugar, sentada no mesmo galho a mesma jovem com sua flauta. Suas roupas estavam diferentes e ela estava descalça, a jovem estava sentada de frente para ele dessa vez, ainda enfeitiçado ele apoiou as costas em uma árvore e aos poucos foi deslizando por ela até se sentar aos pés da mesma, admirando tão bela fada, que com tão formosa melodia o fizera esquecer de sua dor e de suas angústias, ele apenas fechou os olhos desejando que tal melodia não terminasse.

Em meio a seus sonhos, Sheng Huang pode sentir algo sobre sua mão esquerda, parecia outra pequena e suave, quente e macia, também pode ouvir alguém pronunciar baixo uma oração aos deuses, mas a melodia ainda fluía por seus ouvidos. Ao abrir os olhos e despertar de seu sono, se viu em um lugar estranho, no teto de madeira não lhe parecia familiar, o tatame que estava deitado lhe era um pouco desconfortável, o cheiro de incenso não era o que sua mãe costumava a colocar.

*Cheira a Acácia. *

Sheng Huang se levantou devagar, podia ainda sentir seu corpo dolorido, ele estava despido da cintura para cima, seu robe estava dobrado ao lado de onde ele dormia, sua espada estava por cima de suas vestes, os adornos de seu cabelo estavam sobre um pequeno aparador, algumas ataduras e faixas cobriam seu corpo protegendo alguns de seus ferimentos. Ao olhar melhor percebeu que estava em uma Fang Jian que não lembrava em nada os de sua seita, algumas folhas de estudo e caligrafia estavam espalhadas pelo chão, pergaminhos e algumas escrituras estavam organizados em uma prateleira, sobre uma mesa baixa estavam alguns panos bem dobrados, mas o que mais chamava-lhe atenção era uma flauta, o objeto de bambu, pintado e ornamentado, decorado com um laço vermelho e um pequeno ornamento de Jade na ponta, estava sobre um pequeno apoio de madeira em um cômoda baixa também de madeira escura. Seus olhos foram preenchidos com a última de suas lembranças, ele estava sentado, sobre as raízes de uma árvore admirando a beleza e a música da fada que ele mais uma vez pode encontrar, teria ela o trazido até ali?

A Flor Mais Bela da PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora