34. aquele com dor

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Luana POV's

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Ele estava lá, parado me olhando como um cão sem dono. Vi seus olhos marejarem e senti os meus fazerem o mesmo. Eu não queria vê-lo mais, mas ainda assim não podia vê-lo triste, isso acabava com meu coração. Senti esse maldito órgão apertar como se lhe faltasse algo, eu sabia muito bem o que era esse algo, era ele, me faltava ele, eu já não o tinha mais. Respirei fundo e sai do elevador minhas mãos suavam e eu estava tremendo, eu sabia o que estava por vir e não estava preparada pra isso. Respirei novamente me sentando num sofá da recepção, fiz um sinal pra ele e ele se aproximou. Um no se formou na minha garganta, ele parecia abalado, parecia mal, mal de um jeito que eu nunca havia visto antes. Meu coração queria ele de volta, quase pude sentir ele querendo sair e abraçar o Pedro, mas meu cérebro não permitiu, fui forte e esperei as palavras saírem da boca dele.

- me desculpa - ele se sentou na minha frente e colocou suas mãos sobre as minhas - eu errei e eu sei disso - os olhos que antes ameaçavam chorar, agora deixaram algumas lágrimas escorrerem pelo seu lindo rosto - eu bebi demais, eu sei que não é desculpa isso, eu só queria pedir desculpas, eu queria que você pudesse me perdoar. Eu perdi a noção das coisas e achei que era você, não enxerguei direito no escuro e errei. Assim que vi o seu rosto parada na porta eu me senti um lixo, eu senti que nunca seria bom o suficiente pra você, que de algum jeito eu vou acabar perdendo você e nunca mais irei te ver, isso acabou comigo, eu passei a noite em claro pensando no que dizer pra você, pensei em milhares de desculpas, milhares de opções, mas nada justifica o que eu fiz. Eu sei que não mereço o seu perdão e muito menos você, mas eu te amo, amo como nunca amei alguém na vida. Eu amo desde o dia que nos conhecemos e vou amar até o dia do meu último suspiro. Você talvez não sinta o mesmo mas não me importa, eu faria qualquer coisa pra voltar a, eu voltaria para o momento que você precisou sair e eu não fui junto, eu devia ter ido, eu devia estar lá, devia estar sempre com você, te proteger, te apoiar, mas eu não fiz isso e agora perdi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, perdi a razão de eu levantar sorrindo apenas por saber que você está comigo. Eu não mereço você, não mereço que você me perdoe e eu sei disso, sei o quanto machuquei a você e isso me machucou. Eu nunca quis ferir você de nenhum jeito, eu me arrependo tanto de ter sido um babaca.

Seus olhos estavam vermelhos e as lágrimas agora não eram poucas, eu sentia ele, sentia que ele estava tão machucado quanto eu, senti seu coração querendo chegar perto do meu. Senti nossos corpos. Nós não éramos mais dois, éramos um. E isso doía, doía porque sabíamos que não era tão fácil. Precisávamos dar tempo ao tempo, precisávamos de cura. Antes seríamos a cura um do outro, mas agora éramos tóxicos. Ficar assim perto dele me machucou ainda mais, queria abraça-lo, mas não podia. Queria dizer que o amo, mas não sabia se ainda era real.

Tirei minhas mãos das suas e mais uma vez respirei fundo. O que eu ia falar a seguir iria nos machucar, mas já esperávamos por isso. Nós dois sabíamos o que viria a seguir.

- Pedro... - ele sorriu segurando as lágrimas insistentes e eu levei minha mão ao seu rosto secando algumas das mesmas - a gente precisa de um tempo. Eu preciso. Preciso pensar antes de tomar alguma decisão precipitada. Não quero cometer algum erro, não com você.

Ele assentiu e novamente segurou minhas mãos. As suas estavam frias e suadas, elas tremiam, ele tremia. Podia sentir seu coração batendo forte.

- eu preciso ir - falei me soltando dele e vi seus olhos me acompanharem até a saída.

Parte de mim queria voltar e abraça-lo queria poder toca-lo, queria sentir seu cheiro, queria que aquilo não fosse um adeus. A outra parte sabia que feridas demoram para cicatrizar e que elas nunca mais voltam a ser as mesmas. Entrei num táxi e fui para o aeroporto. Olhei minha mão e nosso anel ainda estava lá. Eu não havia tirado. Passei o dedo sobre ele pensando numa noite que ele me pediu em namoro, em como eu estava feliz e agora como estava tudo diferente. As lágrimas finalmente acharam um um jeito de rolarem pelo meu rosto, meu coração estava acelerado e eu tremia. Olhei pela janela uma última vez. Ele ainda estava lá, na entrada do hotel olhando o carro de afastar dele. Eu sabia que ele estaria lá, estaria esperando por mim. Já eu não sabia se voltaria pra ele novamente. Tirei o anel sentindo meu coração quebrar.

Não havia mais um nós.

às cegas - tio orochiOnde histórias criam vida. Descubra agora