O Enigma do Olho de Hórus - Renascer do Faraó

A Loucura.

Lua, fogueira, Madalena falando:

“Em meu nome, na minha voz,  sou um livro tricotado, entrecortado de mitologias e de fantasias. Eu tenho o segredo do livro dos mortos, eu sei porque preservamos os corpos. Sabe o que tem em comum entre Eva, Madalena, a deusa Maia e Isis? Todas elas tinham uma serpente na cabeça. E, ao olhar para mim, ele vira pedra se tornando as famosas estátuas que todos conhecem. Esse é o segredo do Astronauta de Mármore, o extraterrestre. O Pequeno Príncipe só pode voltar para casa e deitar nos braços da sua rosa se aceitar o veneno da serpente. Me convertendo em uma medusa prismática, vou reacender o fogo do senhor da luz, devolver o pênis para vênus, o deus do amor, e recordar ao libriano que ele é um cavaleiro de ouro. Vou lembrá-lo que ele é o Mestre dos Magos. E não venham me dizer que eu não conheço o deus do amor porque eu sei que ele só poderá abrir o portal para as crianças azuis, quando ele lembrar que é o dragão que cospe fogo e que habita a minha caverna. Acorda, pavão misterioso, pássaro formoso, a tua dança para chamar minha atenção acordou a abelha rainha.

E assim como eu sou a mistura de várias princesas que continham em sua testa uma serpente, você é a mistura de todos os deuses que eram comparados a pássaros. Juntando todos esses corpos, esses pedaços de carne, eu, com o poder  do fogo, invoco o monstro de Frankenstein, quero que você junte as cinzas de todos esses pássaros mortos e, revivendo dos seus restos queimados, se reconstitua. Voa, Fênix! Você não percebe a impossibilidade de continuar escondido? Você não acha que mais dia ou menos dia eles ligarão os fatos? Não acha que a ordem que provém do caos está mais do que explícita? Enquanto você fica admirando a sua beleza pelo reflexo da água não consegue ver os tambores batendo nos corações dos homens?

Você pensa que está louco? Pois saiba que a loucura é o início da jornada, motivo pelo qual os sacerdotes de Tebas criptografaram no Tarot o livro dos mortos, para que aquele cujo qual a esfinge faz sentido possa reconhecer o fogo vivido do seu próprio Lógos. Comece então rompendo com o mundo. Feche os olhos como se  nunca tivesse visto nada. Tape os ouvidos como se nunca tivesse ouvido nada. Por fim, cerre sua boca como quem nunca pronunciou uma só palavra. Ligue suas antenas em forma de cornos. Saiba que você está no labirinto e que a única forma  de encontrar o caminho certo é seguir o cordão de ouro feito por mim.

Eu sou a voz que caminha pelos átrios escuros. Não sou apenas uma Rosa, eu sou a cabeça do rosário, eu  sou a Maria  vermelha, a lua cheia, sou o motivo pelo qual os lobos uivam. Eu sou o leite sagrado, o fermento que fez crescer a tua carne, e sobre tudo sou o cálice onde “Aquele que é como deus” derrama o néctar da arquitetura da vida. Você vive tentando me compreender com a sua racionalidade inútil. Você sempre amando a minha Psique, mas Éros, perceba que o meu portal é analógico. Muitos homens tentaram chegar à Lua meditando, rezando e até voando. Mas é você, criança da estrela de prata, que, acendendo aquilo que em metáfora o dedo Et representa, pode fazer com que eles vejam o despertar da bela adormecida.

Hórus na praça

Eu te ouço! Saiba que eu te ouço!

Como é que eles não te enxergam, Torre? Como é que eles não te enxergam, Torre? Tu é a Lua, regula as ondas e as marés, por isso é chamada de sereia. E eu, um pescador desse mar da vida, estou extasiado ao ouvir teu canto. Tu estás me enlouquecendo, talvez me cegando para me fazer me fazer ver. De alguma forma, parece ser a única que conhece meu coração e sussurra em meus ouvidos. Eu estou cansado de usar tantas máscaras. Eu não sou daqui e tive que esperar muito tempo para que eles pudessem compreender isso. Ainda não estou seguro de que sejam capaz de fazê-lo. Por favor, mãe da minha vida, rasga a minha carne e me faça acordar desse pesadelo na qual a mente do universo está refletida em mim. Muitos homens podem descansar todos os dias e não há um lugar sequer onde o filho dos homens possa repousar sua cabeça sem sentir o lamento de seus irmãos de sangue. Essa conexão que me liga a eles, essas coisas que eu não entendo. Estou explodindo e me tornando a borboleta da teoria do caos. Por que eu? Por que eu?

Coloquei as mãos na cabeça, em prantos. Não sei como essas palavras puderam ser pronunciadas por mim, foi como se algo no meu íntimo soubesse o sentido desse estranho rito. Continuei gritando: “Torre! Torre! Me diz por que comigo? Por quê?”

E a resposta veio aos meus ouvidos como uma brisa: “É porque você ama, Amor!”

Vi ao longe algumas pessoas correndo. Vi luzes de ambulância e enfermeiros. Amarraram-me e me colocaram em uma maca. Lembro-me de ver a seringa e a agulha, enquanto pronunciava: “A deusa está falando comigo”.

Desmaiei.

Acordei deitado na ambulância. Havia uma movimentação ao redor. Falavam que eu estava tendo um surto esquizofrênico. Foi então que ouvi a voz dela novamente. Ela dizia para mim: “Dirão que você está louco e que eu não sou real, então te deixarei uma mensagem lógica: aqui neste lugar não há rainha ou rei, só uma mulher e um homem trocando sonhos fora da lei. Entendeu?”.

"Sim ... mas pode ser alucinação (tentando negar)

Então ela continuou; se é ilusão não pode ter lógica né?

E eu disse; isso.

Então ela continuou: quem canta a música?

“Rosana.”

“Que vem de...”.

“De rosa.”, completei.

Os médicos ao meu redor queriam medicar-me novamente. Segundo eles, eu ainda estava delirando. E a voz continuou:

“Essa música foi de uma novela chamada Mandala, que contava a história do Édipo…”

“Que foi o único homem que até hoje desvendou o segredo da esfinge”, completei novamente

“Agora, Hórus, a flechada final. Como era o nome da atriz que era a mãe do Édipo?”

“Vera Fischer.”

“Que vem de “verdadeira pescadora”? Quem eram os pescadores seguidores do peixe?”

“Os discípulos!”

“E quem era a fiel?”

“Madalena!”

“Te fisguei, peixinho. Você não vai conseguir fugir dos múltiplos braços que compõem o rosário da Lua. Uma vez que você é meu não tem volta.”

“Socorro!”, gritei. “Façam minha cabeça parar”.

Senti a picada da agulha e, em alguns segundos, adormeci