Caixa Múmia

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— Esse lugar nunca muda.

— Por que ele mudaria? É um prédio, eles não saem do lugar.

— Você está insuportável hoje.

Um sorriso torto aparece em meus lábios e eu encolho meus ombros, as vezes as coisas escapavam dos lábios sem que eu percebesse, e quando percebia, já estavam chamando a minha atenção, Alex sempre foi o responsável por isso, enquanto Ana sempre dava risada de seus sermões, como se ele fosse uma mãe brigando com sua criança.

— Hoje eu vou te dar um desconto, mas da próxima você não escapa mocinha! - disse o loiro cutucando minha bochecha.

Afastei sua mão de meu rosto, antes que ele começasse a amassa-lo com suas mãos ridiculamente enormes.

Nós três avançamos até porta que foi aberta por Ana, fazendo uma musiquinha tocar que anunciou nossa chegada.

O caixa como sempre, nos olhou com uma cara entediada como se perguntasse o que os mesmos três adolescentes e quase únicos clientes da loja faziam aqui, sempre no mesmo horário e com os mesmos uniformes.
Em relação aos uniformes não tem muito o que possamos fazer.

Nós nos espalhamos pela lojinha à procura de algo que nos interessasse antes de partirmos para a parte que realmente é divertida, os lançamentos mensais.

Esforcei-me para me interessar em algum disco, sempre estavam organizados em ano de lançamento, cor, e artista. Mesmo com o Caixa Múmia a loja sempre esteve bem arrumada, limpa e organizada e eu nunca vou me acostumar com isso.

A loja de discos raramente tinha mais de dois clientes, o dono era o pai do garoto que está no caixa e pelo que eu saiba ele não cursou faculdade ou tem outro emprego, desde que me lembre de vir aqui ele sempre esteve na mesma posição e roupas, às vezes me pergunto se ele é real ou está vivo.

Sempre ali, com as pernas cruzadas em cima do balcão enquanto lia a mesma revista sobre esportes, nunca vi ele se mexer ou falar.

— E aí? Algo interessante?

Ana diz enquanto coloca suas mãos em meus ombros.

Nos conhecemos a mais tempo do que eu possa contar, bem antes de entrarmos na academia e bem antes de eu entrar no Grupo Oficial de Amigos Que Odeiam Gays Que Querem Usar Sapatilhas De Ponta, ela entrou de vez na minha vida quando eu sai oficialmente de lá, e então nos reaproximamos e eu realmente a conheci de verdade e adorei, além dela ter me ajudado na causa de Alex e seu direito de usar as sapatilhas que ele quer.

Lembro-me daquele dia como se fosse ontem, a escola inteira tinha parado para tentar escutar as discussões que estavam acontecendo nos corredores e como a diretora e os pais dos garotos que Alex havia denunciado estavam putos com tudo aquilo, lembro de ter ficado com medo de algo ruim acontecer com Ana e Alex e então percebi que realmente me importava com eles, quebrando a minha regra número um de não me aproximar de mais ao ponto de importar tanto.

— O que acham de eu colocar silicone o suficiente para ficar assim?

Alex mostra para nós um disco com uma capa bem colorida e vibrante com uma mulher com duas bolas de basquete dentro da sua blusa com decote em V, fico encabulada de como aquilo coube ali dentro e imaginando o que aconteceria se ela espirasse com muita força ou se corresse em uma rua com muitos buracos, provavelmente levaria duas boladas na cara de uma vez.

— Ficaria muito gostosa- digo.

— Mas precisaria de blusas novas pra tudo isso aí- Ana diz apontando para aquelas duas bolas de silicone ridiculamente esféricas e bronzeadas.

➻:Symphony;.➻// M.y!Onde histórias criam vida. Descubra agora