Dei um tiro no escuro. No escuro, provocado pelo fecho do meu olhar que não quis ver. Pelo cobarde leão que em mim vive e, com medo avança, como a besta feroz que nunca irá sequer parecer.
Avancei, sem heroísmo, nada destemido, guiado apenas pela enorme convicção da incerteza, repleta de inseguranças. Seguia no escuro o tiro que havia acabado de dar, com uma fraca, ainda assim suficiente, luz que me incomodava o olhar fechado, cheio de ilusória esperança.
Dei um tiro no escuro. No escuro onde surgiu uma luz, que se aproximava, tornando-se cada vez mais forte. Sentia no meu olhar fechado, no meu olhar desordenado, que começava a encontrar o norte.
Avancei… E tão forte ficou luz, tanto que encandeava! O meu olhar cegou vendo, apaixonando-me perdidamente, por quem lá estava. Que sorriso luminoso, que iluminou o meu caminho medroso, pelo ainda mais, arrepiante escuro. Mal sabia eu que, ao encontrar tamanha felicidade, encontraria o seu lado mais obscuro.
Dei um tiro no escuro e encontrei o teu sorriso, agora vão. Dei um tiro no escuro, e vi o teu sorriso cair, esvaziando-te em sangue, no chão. Dei um tiro no escuro, em cheio, no teu coração.
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Prosas que rimam
PoesiaPoética prosa, como um rosa sem versos e palavras com espinhos.