- capítulo único.

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A pedra jogada por Michael pulou na água, gerando um som quase inaudível por causa da distância, e ultrapassando o recorde de Robert. Ele havia se esforçado.

A dupla havia conjurado uma espécie de imitação do Lago Lynn em meio a um bosque isolado (era a imaginação deles, afinal). E como dois adultos maduros, competiam no famoso esporte de jogar pedras o mais longe possível na água. De certo ficarem parados, vestidos em suas básicas roupas de caçadores de sombra, poderia parecer chato, mas Robert faria absolutamente qualquer coisa ao lado dele. Até mesmo arremessar uma pedra mais longe do que fizera minutos antes.

— Uma hora vamos acabar com todo o estoque de pedras na margem. — Disse Michael, como uma forma de provocar o outro. Era mentira, as pedras poderiam continuar aparecendo para sempre se eles assim desejassem. A grande vantagem de não estar mais no mundo dos vivos era poder estar exatamente no lugar em que quisessem. — Ou atirá-las na outra margem. Isso poderia acabar com a graça.

Robert mantinha o rosto sério e ligeiramente irritado ao ver que seu arremesso não havia ultrapassado o novo recorde estabelecido pelo outro, porém quando virou-se para respondê-lo sua expressão suavizou-se quase que contra sua vontade. Empurrar uma montanha usando apenas um braço seria mais fácil que não parecer um completo bobo ao olhar para aquele homem. 

A aparência de seu cativante parabatai era exatamente como se lembrava. Rosto simétrico (muito bonito, sim), de feições serenas, cabelo castanho bastante rebelde e enrolado, apesar de não tão comprido e um olhar absolutamente hipnotizante. Robert poderia ficar olhando-o continuadamente, apenas para ter certeza de que era realmente ele (e não um sonho) mas isso seria bastante esquisito. Já havia perguntado como ele via-o, e a resposta fora que o enxergava mais ou menos com a aparência que possuía nas datas próximas ao Uprising, quando Michael morrera. Logo, suas idades estavam alinhadas novamente depois de tanto tempo.

— Então parece que terei de admitir a derrota. — Respondeu em tom falsamente aborrecido, mas não aguentou e começou a rir baixinho. Eles eram homens adultos e estavam brincando de atirar pedras no lago. A saudade que sentira durante todos aqueles anos fora tanta que ao seu lado participaria de qualquer jogo estúpido que aparecesse. Michael riu também, entendendo o quão ridículo toda a situação soava. Ao ouvir aquele riso, Robert não aguentou mais e atirou-se sobre ele, sem importar-se com seu peso no outro.

Com o empurrão, Michael foi para o chão, sem incomodar-se em tentar recuperar o equilíbrio. Puxou Robert junto, é claro. — Idiota maluco. — Reclamou.

— Não vou pedir desculpas. Não posso resistir à qualquer oportunidade de tocar em você. — Foi a justificativa para o ataque repentino. Sentaram-se próximos.

Michael sentou-se mais perto para segurar seu queixo com os dedos de uma mão. — Sou tão irresistível assim?

— Talvez. Ou talvez seja porque eu te amo tanto… —  Em um movimento rápido, agarrou seus cachos escuros e puxou-o para um beijo.

A surpresa do outro com o gesto, apesar de ter correspondido rapidamente, foi agradável e ao mesmo tempo desconcertante. De fato, vê-lo agindo de maneira tão… não-hétero, provavelmente era bastante estranho. Mas as leis e os julgamentos não podiam alcançá-los ali. Eram livres.

Sentir as mãos alheias em si e a boca do outro encaixando-se à sua era ao mesmo tempo tão surreal e tão perfeito. E saber que possuíam a eternidade para fazer isso para sempre era indescritível. Bom demais para ser possível.

Michael afastou-se, encarando-o por uns segundos, antes de aproximar-se novamente, desta vez indo para seu pescoço. Não haviam feito nada assim antes, e Robert arrepiou-se, para então baixar a mão para suas costas. — Você quer brincar, é? Parece que sou eu o irresistível.

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⏰ Última atualização: Aug 21, 2019 ⏰

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