Péssimo Pai

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Theo. 2080

  Theo não tinha irmãos, muito menos muitos primos, tios, parentes espalhados que só aparecem em dias de festa, ou, quando o cerco aperta para eles. Theo era filho único, com pais ainda casados, só com um porém:

— Ei - Mark, parado na frente do quarto do filho, o chamou pela segunda vez. Theo tirou o fone Bluetooth e encarou o pai. Com sua habitual camisa regata branca, seu short jeans que perdia sua cor, cheirando álcool, olheiras, cabelo desgrenhado e com um péssimo humor.

Mas se esforçando para fazer daquele dia diferente:

— Se me prometer não me lançar contra a parede novamente, eu te levo ao laboratório hoje - Não esperou resposta de Theo, se virou com a latinha em mãos e saiu.

Theo voltou-se para o celular e sorriu: havia se lembrado do dia em que ele sabia sim que era diferente. Tinha sido dois dias atrás, com apenas duas testemunhas: Theo e Mark, o garoto furioso com o pai, o lançou contra a parede de seu quarto, o mantendo-se grudado na parede, sem tocar os pés no chão ou muito menos encostar em seu pai.

— Esse - Mark descia de volta ao chão lentamente, ao mesmo tempo que Theo ia abaixando as mãos e encarava o pai Furioso. — É o poder da mente!  Sim, sim?! Meu filho possue telecinésia! Isso sim!

Theo encarou as próprias mãos, mal sabendo como havia feito isso, mas sabia que tinha realmente acontecido. Mark estava animado e ao mesmo tempo bêbado, já não sabia se tinha sido real, ou parte do álcool agindo dentro dele.

— Está bem - Disse lentamente mark, dando passos até a porta. — Uma droga de telecinésia - disse mais para si mesmo, do que para alguém.

Theo tinha certa curiosidade de visitar o trabalho do pai. Além daquele cara bêbado ser seu pai, ele era um dos diretores da empresa. Pesquisas estranhas aconteciam por lá, e Theo lembrava de ouvir o pai falando de um certo programa que ia acontecer.

— Theo? - Perguntou uma voz doce e preocupada, depois Sofia apareceu no quarto do filho. — Está tudo bem? Eu vi seu pai saindo daqui.

— Está, ele vai me levar ao trabalho dele mais tarde, seu turno é a noite - Theo viu uma expressão de surpresa no rosto da mãe. Sofia sorriu incrédula.

— Bom, isso é bom - Se sentou na cama. — Ele se veste bem para ir para o trabalho, e fica com sua roupa de todos os dias para ficar em casa. Mesmo tomando banho fica com o maldito cheiro do álcool... Se isso é real, ele está tentando melhorar.

— Seu melhor amigo morreu em um acidente de carro, não é.

— Sim, tudo por causa da irresponsabilidade e do álcool. Bom, vou preparar um lanche para você levar!

— Não precisa, eu sei fazer e já tenho dezessete anos, idade suficiente para fazer as mínimas coisas sozinho - Theo abraçou a mãe.

— Toma conta do seu pai.

Mark bebeu uma única cerveja naquele dia, se esforçou muito para não pegar a carteira e ir na cervejaria mais próxima. Parte de seu dia tinha sido um sucesso, tinha chamado o filho, bebido uma única cerveja e não estava agindo como um babaca com ninguém.

— Ele parece bem - Disse um pouco surpreso, Rodolfo, vizinho de mesmo andar de Sofia.

— Sim - Disse Sofia olhando as duas pessoas que mais amava entrarem no elevador. Theo deu tchau a mãe e Mark apenas assentiu meio tímido.

No elevador não se ouviu nenhuma palavra, Mark pegou seu carro no estacionamento do prédio e saiu rumo a sua empresa.

— Estamos testando uma máquina que conserva o corpo humano ainda em vida para um sono longo de dez anos, ainda está em fase beta.

Theo resolveu dar chance ao assunto do pai.

— E tem pessoas para a fase beta?  - Theo deu de ombros. — O que? Só vão saber que vai dar certo dez anos depois?

— Temos algumas pessoas, jovens e adultos para a fase beta, sabia? Não desvalorize o trabalho dos caras - Mark arriscou um sorriso para o filho. — Hoje vamos tirar eles dos tanques. Por isso te chamei. Mas, meu trabalho não é esse. A não ser supervisionar um programa com os ratos e dos tanques.

— Chato - Disse Theo, alongando o "T" "O". — Você disse tirar eles?!

— Sim, foi isso que falei - Desceram do carro, após deixar o carro no estacionamento e viram um caminhão sair, entraram no prédio e pegaram o elevador para o último andar. — A fase beta precisou de cinco anos, tivemos voluntários, pessoas que sabiam os riscos, podiam morrer ou sair dos tanques cinco anos depois com a mente toda bagunçada! Sabe, esperando encontrar carros voadores e Androids.

— Nem tanto, mas a tecnologia evoluiu bastante - Theo saiu do elevador com o pai e viu um dos funcionários falar com um casal, para depois Mark e ele entrar em uma outra sala.

— E aqueles caminhões?

— Estão os tanques, esperamos eles chegarem na instalação para ver através de uma transmissão ao vivo a retirada dos tanques - Mark falava orgulhoso para Theo.

Theo passeava os olhos pela sala. Enquanto o pai estava em frente de quatro enormes monitores, ele observava a estante cheio de livros clássicos, objetos adquiridos em leilões e várias outras coisas. Usou seu dom para pegar um livro do Drácula e admirar a qualidade da capa após décadas de sua publicação.

— Theo!

Theo achou que a transmissão havia começado, deixou o livro no lugar e se voltou para o pai. Mas, Mark tinha o semblante de pura preocupação diante do que estava vendo nos monitores.

Um de seus funcionários, George, havia atirado em um dos cientistas do programa alfa. Para logo depois atirar no segundo. Havia uma mulher, sendo atacada por um rato e Mark sabia que não era apenas qualquer rato normal. Theo desviou os olhos do massacre. Enquanto Mark viu os policiais entrarem e pararem George, para depois,  André, se matar.

— Filho, vou te pedir uma coisa - Mark ia dando alguns passos para trás, enquanto se aproximava do filho. Antes: havia pegado uma injeção de tranquilizante pesado, para pessoas que iam para o tanque, escondeu e agora ia na direção do filho.

— O que pai?

— Você vai para o tanque.

— O que está me pedindo é loucura, deve ter várias etapas para poder entrar no- Theo não conseguiu prosseguir com o que ia falar, paralisado com a injeção no pescoço, olhava o pai chorar.

— Quem sabe eu poça tomar a cura, não ser pego, isso é ruim - Colocou-o em uma maca e chamado alguém para buscá-lo. — Leve ele, está autorizado para usar o tanque e coloque o alarme para daqui uma década, nem mais, nem menos.

Um rato era o que significava um extermínio, dezenas dele eram necessário para o programa dar certo, mas, a data para o início era daqui um mês, então Mark sabia que tinha ido por água abaixo. Um rato, aquele rato, não era qualquer rato.

Olhou novamente para as telas, viu os cadáveres se mexerem como se tivessem levado uma carga muita alta de eletricidade e se levantarem anormalmente, se jogando contra os policiais. Com Theo em segurança, ele deveria tentar pelo menos não deixar o rato sair daquela sala e conter a mulher ferida. Era correr o risco muito alto.

Correu para a sala, vendo a tempo o rato sair da sala e adentrar para outros cantos, ele não podia mais impedir. Entrou na sala, vendo os policiais mortos e os mortos-vivos babando sangue e de olhos vermelhos indo em sua direção. Antes, viu a mulher ferida se levantar e passar pelos mortos-vivos sem ser percebida, com os olhos vermelhos, a pele com as veias escuras a amostra.

— Você fez isso comigo?!

O Triunfo da Morte: Livro Um.Onde histórias criam vida. Descubra agora