Capítulo Um

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Bruna Alencar


Daria tudo para estar em Salvador, curtindo uma praia, tomando uma água de coco e pegando um bom bronze. Quando eu decidi criar minha empresa, não pensei que fosse me dar tanta dor de cabeça. Amo o que eu faço, mas odeio com todas as forças lidar com as pessoas. Ainda mais em um país tão machista. Tenho filiais nas quatro regiões do Brasil, e mesmo assim um monte de marmanjo idiota ainda acha que estou brincando de casinha.

Estou prestes a fechar um contrato milionário, mas os idiotas à minha frente estão mais preocupados com o fato de eu ser mulher. O que mais me deixa chateada, é que não estão levando em conta o fato de eu ter criado um patrimônio milionário, ou da Make Alencar ser conhecida por todos, até pelas esposas deles.

— Quando se darão ao trabalho, de ler os papéis que estão na mesa? — pergunto, já farta dessa palhaçada.
Eles começam a falar entre si, como se eu não estivesse na sala. Cansada dessa situação, pego meu notebook e me retiro da sala de reunião. Já que estão fazendo de conta que não estou aqui, nada mais justo do que me retirar e deixá-los sozinhos.

Meus produtos são voltados inteiramente para mulheres, mas infelizmente tenho que lidar todos os dias com homens babacas. Nessas situações fica fácil de lembrar, o motivo de eu estar solteira a tanto tempo, o que alguns tem de lindos e gostosos, outros tem de idiotas sem noção.

— Pensei que a reunião fosse durar mais tempo. — Carlos, meu amigo e sócio comenta, assim que entro em minha sala.

— Aquilo não poderia nem ser chamado de reunião, do nada os idiotas começaram a debater sobre o fato de eu ser mulher. — falo indignada, geralmente o Carlos fica a frente dessas reuniões, mas como ele teve uma emergência eu tive que ir — Juro para você, estou pensando seriamente em não fechar contrato com eles, não quero manter contato com uns machistas de merda.

— Desculpa, amiga, se eu imaginasse que eles eram assim, tinha dado um jeito de remarcar a reunião.

Meu amigo fala preocupado, e sei que deve estar se culpando por isso.

— Não precisa se desculpar, infelizmente lidar com homens faz parte do meu trabalho. Se quero manter a visibilidade e qualidade da minha empresa, tenho que engolir sapo e fazer a egípcia, mesmo quando minha vontade é de enfiar a mão na cara deles.

Meu amigo cai na risada, Carlos está comigo desde o ensino médio, todo mundo achava que tínhamos alguma coisa, mas eu sempre soube que ele tinha uma quedinha pela Manuela. Hoje, eles estão casados e são pais de uma linda menina chamada Débora.

Quando vejo a felicidade do meu amigo, confesso que bate um pouco de inveja. Ele tem uma linda familia, e eu daria tudo para ter uma também. Mas infelizmente Deus não quis assim, os propósitos para minha vida eram outros.

Eu tinha vinte e dois anos e estava na faculdade de administração, quando pensei ter encontrado o homem da minha vida. Luciano era perfeito, ou pelo menos eu achava que fosse. O homem dos sonhos de qualquer mulher. Começamos a namorar, e eu tinha muitos planos e ele fazia parte de todos. Mas as coisas não são como imaginamos. Com quase dois anos de namoro descobri que estava grávida, não era bem o que eu tinha em mente para minha vida, mas no final fiquei feliz de ter um pequeno pedacinho do nosso amor, sendo gerado em meu ventre.


Fui toda feliz contar para o Luciano, de todas as reações que imaginei que ele fosse ter, nenhuma delas tinha me preparado para o que iria acontecer. Ele surtou e começou a dizer que era para eu tirar o bebê, além de me falar coisas horríveis, que só de lembrar me embrulha o estômago. Ali, todo o encanto se quebrou, e eu tive a maior decepção da minha vida. Não satisfeito em me agredir verbalmente, começou a deferir tapas e chutes, quando eu caí no chão suas agressões tinham um propósito e ele infelizmente conseguiu.

Naquele dia, 17 de setembro de 2011, eu perdi o filho que tinha acabado de descobrir sua existência.
Com a ajuda do Carlos, reuni forças e fui até a delegacia, fiz todo processo de exame corpo e delito e prestei uma queixa contra ele. No país que vivemos, era de se esperar que ele não ficasse preso, o filho da puta não ficou dois dias na cadeia. Afinal, essa era a vantagem de ser filho do governador.


— Bruna — Carlos acena, chamando minha atenção —, posso saber no que a senhorita está pensando?

— Em nada, só viajei um pouco no tempo.

— Eu sei para onde essa viagem te levou. Por mais que os anos se passem, você nunca vai esquecer o que aquele idiota fez, não é mesmo? — Vejo a preocupação em seu olhar.


— Eu até tento, mas não consigo evitar que as lembranças invadam a minha mente. Hoje, se aquele maldito não tivesse matado nosso filho, ele estaria com oito anos. — Deixo a emoção tomar conta de mim, e por um momento me permito chorar — Se eu tivesse o poder de voltar no tempo, pode apostar que eu faria tudo diferente.

— Você não teve culpa de nada, nem o meu radar foi suficiente para detectar o crápula que o Luciano era. Infelizmente não temos controle sobre as coisas, em muitos casos fica impossível de entender, mas Deus sabe de todas as coisas e nada na sua vida é por acaso...

Somos interrompidos com batidas na porta, minha secretária diz que os idiotas estão me esperando para terminar a reunião. No momento não estou com saco, o que eu menos quero é olhar na cara desses machistas de merda. Aproveitando que o Carlos já está aqui, antes mesmo de eu pedir, ele rapidamente se oferece para terminar. E eu agradeço a Deus por isso.

Tento me manter forte, mas às vezes fica impossível de controlar minhas emoções. Lembrar de tudo que o Luciano me fez, ainda me machuca muito, mesmo já tendo passado tantos anos. Desde essa época que não o vejo, logo após sair do hospital eu soube que o pai o mandou para o exterior, e para minha felicidade nunca mais o vi.

Nuances do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora