Capítulo Três

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Bruna Alencar

Meu fim de semana foi maravilhoso, depois de pegarmos um bronze, combinamos com os rapazes de ir para uma balada. Alice e eu fomos para o meu apartamento, como roupa não é um problema, minha amiga se arrumou por aqui mesmo. Tinha muito tempo que eu não me saía.
Dançamos, nos divertimos e beijei muito. Eu não sabia, mas estava morrendo de saudades de uma noitada como essa.

Agora estou aqui, deitada na minha cama, tentando lembrar bem quem sou. O maldito despertador tocou às oito da manhã, minha vontade era de jogá-lo na parede, mas logo lembrei que o despertador é o meu celular, então logo esse ideia passou. Pego meu tablet na mesa de cabeceira para conferir minha agenda da semana, se me lembro bem, não tenho muita coisa para fazer na empresa.


Essa noite sonhei com o Luciano, e há muito tempo que isso não acontecia. No sonho, esse maldito aparecia na minha frente, com a cara de pau de implorar pelo meu perdão. Sei que perdoar seria o mais correto, mas o meu peito está carregado de mágoa, e infelizmente ainda não sou capaz de perdoar o que me fez. Pego meu celular e envio uma mensagem para minha amiga, diferente de mim, ela resolveu estender a noite e foi dormir com o bonitão da praia, que se chama Marcelo.


Contra a minha vontade, levanto e tomo um banho, só assim meu corpo vai começar a reagir e perceber que já estamos em um novo dia. Mesmo que minha vontade seja de ficar na cama, tomo um banho frio, estamos na primavera e já vivemos uma amostra grátis do inferno, um calor que só Deus.


Opto por um macacão vermelho, ele é aberto na costas e tem um pequeno e discreto decote. Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo e pronto, nada de maquiagem e superproduções. Na cozinha, ligo a cafeteira para preparar minha primeira dose diária de café. Nunca pensei que chegaria a esse ponto, mas posso dizer que sou viciada nesse líquido preto e delicioso. Abro o armário e vejo que está na hora de ir ao mercado, só tenho comida para os próximos três dias.


Enquanto espero o café ficar pronto, pego meu celular e me espanto com o número de ligações não atendidas, e todas são do Carlos. Rapidamente retorno, e espero que não seja nada grave.

— O que aconteceu, Carlos? — pergunto assim que meu amigo atende.

— Isso são horas de estar dormindo, Bruna? — pergunta do outro lado da linha.

— Agora pronto, não sabia que era proibido dormir até às oito da manhã. — digo, fazendo meu amigo ri. — Mas vamos ao que interessa, quem morreu para você me ligar cinco vezes?

— Acredito que não tenha visto os sites de fofoca, não é mesmo?

— Você sabe que odeio essas coisas, então obviamente não perdi meu tempo acessando.

A cafeteira apita, me sinalizando que meu café já está pronto. Enquanto falo com meu amigo aproveito para me deliciar com o líquido quente e delicioso. Todo mundo sabe que odeio esses jornalistas, eles insistem em publicar matérias tendenciosas sobre mim, sempre colocado em dúvida o meu potencial para gerir a empresa. Sempre que sai matéria sobre mim, sou a última a saber, pois só vejo se alguém me mandar o link da notícia.


— Vou mandar para o seu WhatsApp o link, já te adianto que não vai gostar nada do conteúdo. E antes de fazer qualquer coisa, lembre-se que tem um nome a zelar e não faça nenhuma besteira. — Pelo seu tom de voz, já sei que é alguma merda — Agora vou desligar, irei brincar um pouco com a Débora antes de ir trabalhar, beijos e até mais tarde.


Logo que ele desliga chega o bendito link. Respiro fundo antes de abrir, porque pelo tom que meu amigo usou, esses idiotas devem ter publicado alguma merda e já estou farta desses abutres de merda. Depressa vejo que a matéria é da mesma jornalista que processei há um ano, todos sabem da minha relação conturbada com a imprensa, mas enquanto realizarem matérias tendenciosas ao mesmo respeito, não medirei esforços contra eles. A bicha é tão afrontosa que ousa falar de mim novamente, acho que terei que fazer uma visitinha pessoalmente.


Bruna Alencar, empresária conhecida por ter um coração de pedra é vista aos beijos em uma balada no centro de Fortaleza. Será que alguém derreteu o coração de gelo da Bruna?
Custa-me acreditar no que estou lendo, essa mulher passou de todos os limites. Lembro bem que, no processo ficou estritamente proibido de que ela tocasse em meu nome, eu sei que no nosso país a justiça é totalmente fraca, mas se ela pensa que isso vai ficar assim, está muito enganada. Gosto de ficar na minha, mas essa mulher despertou o pior de mim. Não preciso de dinheiro, mas vou arrancar até a roupa do corpo dela, isso ela vai ver.


Tomo todo café de uma só vez, pego minha bolsa, celular e a chave do carro. Acho que não tem problema em fazer-lhe uma visitinha. Ela pode achar que não, mas encontrou uma adversária forte para seu joguinho idiota.


Entro no meu Honda Fit e sigo em direção ao prédio do jornal, esse é nada mais nada menos, que um dos maiores sites de fofoca do país. Na primeira vez que fui questioná-los, me disseram que não iriam tirar a matéria do ar, pois eles tinham o direito, era liberdade de expressão.

Não medi esforços e contratei o advogado mais caro, além de ficarem proibidos de tocarem no meu nome, me pagaram cinquenta mil reais de indenização. Como não preciso do dinheiro, doei todo para uma instituição que cuida de crianças soropositivo.


Não demoro a chegar, entrego a chave do meu carro ao manobrista e sigo para a recepção, rezando para que consiga encontrar com essa mulher. Caminho até a recepcionista, ela me dirige um sorriso e diz:

— Bom dia, senhora, em que posso ajudar?

— Bom dia, gostaria de falar com a Victória Bueno.

— Claro, vou verificar se ela pode te atender. — diz, mexendo em seu computador.

— Não vai perguntar o meu nome, senhora? — pergunto confusa.

— Não é necessário, impossível não reconhecer a toda poderosa, Bruna Alencar.

Ela diz com um enorme sorriso, e apenas aceno, sem saber o que responder para a menina a minha frente. Situações assim, não são incomuns de acontecer, mas em todas as vezes fico sem saber como agir ou o que falar.

— Pode subir, senhora, é só ir até o décimo andar que ela já estará à sua espera.

— Muito obrigada, tenha um bom dia.

Caminho até o elevador, sinto o olhar da recepcionista me acompanhando, preciso lembrar de entregar para ela um kit de cosméticos. Eu sempre tenho alguns no carro, quando encontro pessoas simpáticas como ela, gosto de presentear com um dos meus produtos. O elevador não demora a chegar, e tenho o desprazer de dar de cara com a vaca. Ela é alguns centímetros maior do que eu, seus cabelos são loiros falsificados e tem um corpo ok. Não posso dizer que ela é feia, mas também não é uma Grazi Massafera.


— Que surpresa, a que devo a honra da poderosa Bruna Alencar no meu escritório?

— Podemos pular essa parte de falsidade, você sabe muito bem o motivo da minha presença. Não venha se fazer de sonsa, Victória.
Vou direto ao assunto, não tem motivos para ser simpática com essa mulher.

— Você deve estar se referindo a matéria, não é mesmo?

— E teria outro motivo para olhar para essa sua cara falsificada? — Ela arregala os olhos, assim que termino de falar — Acho que você esqueceu o processo que levou, estou começando a pensar que gosta de me dar dinheiro, não é mesmo?

— Estou fazendo apenas o meu trabalho, se não quer ser notícia, é só não sair por aí beijando ninguém. Aposto que se ficar em casa, as pessoas vão esquecer da sua existência, e assim as matérias sobre você não serão necessárias.

— Agora entendi tudo. — digo, batendo palmas — Tudo isso é inveja. Você tem inveja da mulher que me tornei, então acha que vai conseguir denegrir a minha imagem com essas matérias sensacionalistas. Tudo isso poderia ter se resolvido, eu não me importaria em te dar umas dicas, afinal não é todo dia que nasce uma mulher como eu.


— Não seja ridícula, Bruna.

— Ridícula está sendo você, acho bom não postar mais nada sobre mim, ou então terei que arrancar até essa roupa brega que você está vestindo.

— Não sou de perder a cabeça fácil, mas essa mulher me enlouquece — Tenha uma boa tarde, Victória mal-amada Bueno.


Dou-lhe as costas e entro no elevador, que para minha sorte estava a minha espera. Essa mulher sempre fez questão de testar a minha paciência, já tive a chance de encontrá-la outras vezes, e sempre foi desse jeito. Só queria entender o motivo de tanto ódio, sendo que nunca fiz nada para ela. Não sou nenhuma famosa, então nada mais justo do que ela procurar furo desse pessoal que vive dando margem para suas matérias tendenciosas.


Nuances do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora