Bruna Alencar
Alice tanto me encheu a paciência, que me convenceu de ir em um show sertanejo. Não sou muito fã desse tipo de música, mas como ela não parava de falar, acabei aceitando acompanhá-la nesse bendito show.Minha semana passou voando, estamos iniciando os preparativos para o lançamento da minha nova coleção de hidratantes corporais. Levamos quase um ano, buscando a combinação perfeita, e finalmente na próxima semana será o grande dia. Deixei Carlos a cargo disso, ele tem total autonomia para fazer qualquer coisa. Quero apenas que ele me diga o dia, local e horário do evento.
Na segunda passada, fiquei encantada com o rapaz que me atendeu na cafeteria. Ele disse que não era novo, mas eu nunca tinha o visto por lá. Então, além do meu amor por café, tive outro motivo para ir a cafeteria todos os dias, mas infelizmente não o encontrei.
Não comentei com a Alice sobre isso, do jeito que ela é doida, é capaz de descobrir até o endereço do rapaz, e mesmo que isso seja tentador, achei melhor esquecer essa história.
Daqui a pouco Alice deve chegar, combinamos que ela me pegaria no um apartamento e daqui seguiríamos. Opto por um jeans rasgado, uma blusa de couro com um decote generoso, e tiro da aposentadoria minha bota de salto quinze. Deixo meus cabelos soltos, uma maquiagem leve e pronto, agora é só sentar e esperar minha amiga.
Não demora e chega uma mensagem da Alice, dizendo que está me esperando lá embaixo. Pego minha bolsa, celular e desço as escadas. Minha vontade de sair de casa é tanta, que estou até descendo sete andares de escada. O show começa as onze da noite, vou fazer apenas uma média e depois venho embora, não ficarei até o dia amanhecer.
— Uau, você está uma gata amiga. — grita de dentro do carro — Tenho certeza de que vai sair de lá com algum gatinho, será impossível alguém resistir a essa beldade.
— Não estou indo para ficar com ninguém. — falo, entrando no carro — Você sabe que só estou indo, porque a senhorita ficou no meu pé. Então acho bom que esses cantores sejam bons, porque se não forem eu dou na sua cara.
— Aff, esse seu estresse é falta de sexo, já te disse isso. — Revira os olhos, e minha vontade é de te bater.
— Vamos logo, antes que eu desista, Alice. Vou nem te falar, qual motivo do meu estresse.
Durante o caminho conversamos coisas aleatórias, minha amiga está mais animada que todos os dias e tenho certeza, de que ela aprontou ou vai aprontar alguma besteira. Às vezes fico me perguntando, onde será que ela deixou o parafuso, pois ela não tem o juízo certo. Somos tão diferentes, é difícil acreditar que somos melhores amigas.
Não demora e chegamos no local, na entrada já consigo ouvir um DJ animando as pessoas. A música é alta e contagiante. Mostramos nossas pulseiras e o segurança libera rapidamente nossa entrada. O lugar está cheio, as pessoas dançam e conversam, não demora muito e Alice se joga na pista, dançando como se não houvesse amanhã. Pego um refrigerante e observo, sei que deveria estar me divertindo, mas só penso em como eu daria tudo para estar em minha cama, comendo uma boa pizza e terminando de assistir a quinta temporada de Greys Anatomy.
Matheus e Kauan sobem no palco, as pessoas vão a loucura e nesse momento nem sei onde minha amiga se enfiou. Eles cantam umas músicas interessantes, mas uma em especial me chamou atenção.
O seu beijo de manhã com gosto de hortelã
Eu largo tudo hoje
Se você me prometer
Que vai me amar amanhã
Sabe que eu sou seu fã
Vamos virar a noite
Se você me prometer
Que vai me amar amanhã
De manhã
Às vezes sinto falta de alguém ao meu lado, alguém para dividir as coisas boas. Onde a noite eu poderia me perder em seus braços. Simplesmente ter alguém para amar, mas infelizmente não encontrei ninguém digno do meu amor, na verdade nem procurei essa pessoa. Minha vida anda sempre tão corrida, que preciso encontrar uma pessoa que entenda meu lado, até porque sei que não é qualquer um que aguentaria minha rotina puxada.
— Precisando de companhia, princesa? — Um idiota pergunta próximo ao meu ouvido, ao mesmo tempo em que me segura pelo cabelo.
— Não preciso de nada, com licença.
Tento dar um passo à frente, mas o cretino segura meu braço com força, me puxando com tudo para seu corpo. Ele tenta me beijar, e só consigo sentir ânsia de vômito com o forte cheio de bebida. Sem ter muita escolha, dou um chute em suas bolas, e o babaca cai de joelhos no chão, essa é para ele aprender a não beijar ninguém a força.
Estava esquecendo um dos motivos de odiar esse lugar, caminho entre as pessoas, na falha tentativa de encontrar Alice. Rodei e não encontrei minha amiga, que nesse momento deve estar em algum buraco. Mando uma mensagem avisando que estou indo embora, não tem por que eu ficar um minuto a mais nesse lugar. Saio do local e começo minha busca árdua por um carro, todos cancelam minha corrida e não sei por que diabos.
— Perdida por aqui, moça. — Olho em direção a voz, e vejo o cara da cafeteria.
— Estou lutando por um UBER, quando o tempo de espera não é muito grande, os motoristas simplesmente cancelam a corrida. — respondo, esgotada com essa situação — Se arrependimento matasse, nesse momento estaria morta, pois não deveria ter trocado minha cama por nada.
— Eu sei como é isso, estou com a mesma sensação que você. Meu amigo me arrastou, e quando eu menos esperei o filho da mãe sumiu de minhas vistas. — fala, e acabo rindo com a semelhança de nossa situação
— A diferença entre nós dois, é que eu estou de carro, então posso ir embora rapidamente.
— Será que você poderia me dar uma carona? — Ele me olha com uma cara estranha. — Não se preocupe, pago a gasolina sem nenhum problema.
— Não estou preocupado com a gasolina, mas sim pelo fato de você pedir uma carona para um estranho. Sua mãe nunca te ensinou a não falar, muito menos andar com desconhecidos?
Ah, é isso! Não costumo tomar essas atitudes extremas, mas não aguento ficar nem mais um minuto nesse lugar. Mesmo que pareça perigoso, prefiro arriscar e ir para casa. Não aguento mais esperar um carro.
— Você não é um desconhecido, sei muito bem onde trabalha, qualquer coisa já deixarei minha amiga avisada e se eu sumir ela pode mandar a polícia ir te prender na cafeteria.
Ele sorri com meu comentário, e por uns minutos fico parada, apenas admirando o lindo e maravilhoso sorriso. Só agora que parei para o analisar, ele é alto, chutaria que ele tem um metro e oitenta, seus olhos são castanhos, combinam perfeitamente com o preto de seu cabelo. Ele não é musculoso, mas tem um corpo bonito. Uma calça jeans, recai perfeitamente em suas pernas grandes, e a camisa social dobrada até o cotovelo dá o toque final.
— Quando você acabar de me analisar inteiro, podemos ir embora desse lugar. — fala, e percebo a diversão em sua voz.
Nesse momento, se um buraco se abrisse, certamente me jogaria dentro dele. Estava confiante, achando que estava sendo discreta, mas pelo visto me enganei feio. Fico sem saber o que falar, então percebendo minha saia justa, ele me indica o caminho até seu carro. Não digo uma palavra, apenas sigo seus passos. Passo para ele meu endereço, o caminho todo foi feito em silêncio, apenas minha mente que não para de fervilhar de informações. Se ele tivesse o poder de ler mentes, aposto que eu estava frita.
— Henrique... — Ele quebra o silêncio, me deixando confusa — meu nome é Henrique.
— Henrique — digo, me familiarizando com o nome do até então desconhecido —, muito prazer, eu sou a Bruna. — Estendo minha mão, o cumprimentando.
Diferente dos livros, não senti nenhuma queimação ao tocar suas mãos, muito menos aqueles arrepios. Só pude constatar que sou minúscula perto dele.
— Prontinho, Bruna, entregue sã e salva a sua residência.
Eu poderia convidá-lo para entrar, mas não posso pular tantas casas desse jeito. O agradeço, e quando eu iria tirar o dinheiro ele diz:
— Não vou aceitar o dinheiro, fique tranquila que você não me deve nada. — Sorri, me olhando fixamente — Meu pagamento é saber que está entregue, não ficaria bem se te deixasse a espera de um táxi.
— Muito obrigado, você foi um anjo que Deus mandou para me ajudar. — Me aproximo, deixando um beijo em sua bochecha — Tenha um bom retorno para casa e um bom final de semana. Tchau, Henrique.
Desço do carro e caminho até o meu prédio, antes de entrar aceno e ele sai cantando pneu. Não era bem assim que eu queria terminar minha noite, mas no final das contas valeu o sacrifício de ter ido para esse maldito show. Amanhã sem falta, irei dizer umas palavras para a Alice, ela não poderia ter me deixado daquele jeito, ainda mais sabendo que odeio esses lugares.
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Nuances do Amor - DEGUSTAÇÃO
ChickLitBruna Alencar é uma jovem empresária que apesar das marcas do passado vivia sua vida tranquilamente. Esforçada, Bruna apanhou da vida para aprender a não baixar a cabeça. Henrique Oliveira, aprendeu cedo como educar uma filha sozinho. Aos trinta e...