Um rei louco e seu conselheiro

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O salão era extravagante em todos os sentidos da palavra.

As colunas, as arquitraves e todas as quatro paredes eram talhadas com uma fina camada uniforme de ouro, os desenhos esculpidos nas colunas seguiam o padrão em espiral com folhas de videira, diversos tipos de flores e outras formas. Davam a impressão correta de riqueza. Grandes e bonitas janelas ficavam entre uma coluna e outra, o que, de dia, proporcionava ao salão ficar mais iluminado e brilhante do que já era apenas com a luz das velas dos castiçais e lustres de cristal. O teto era alto e liso, um ou mais artistas haviam dedicado muito tempo para fazer a gigante pintura naturalista de um céu, nuvens, aves e um exército de anjos que se propagava por qualquer direção que se olhasse, segurando armas, instrumentos musicais e vestindo mantos azuis, rosas ou brancos. O piso era de uma madeira exótica e branca, tão branca e limpa que, se alguém olhasse para baixo, poderia ver o reflexo de tudo, como em um verdadeiro espelho.

Aquele era, sem dúvidas, um dos cômodos mais belos do palácio inteiro e, na opinião de Butters, perfeito para impressionar os convidados.

Na parede oposta à única porta, sentado em um trono entalhado em ouro, com estofado vermelho, estava Eric Theodore Cartman, o rei do Sul.

— Por que você convidou o Broflovski, Butters? – O rei perguntou de repente, descontente. Ele usava um colete de veludo vermelho com diversos detalhes dourados bordados próximos aos botões. Por cima, havia um casaco vermelho, com desenhos semelhantes nas mangas, também dourados. A calça marrom ia até o joelho, as meias brancas protegiam as canelas e, nos pés, havia um par de sapatos com salto baixo, pretos. Mas, entre todas aquelas vestes, o que mais chamava atenção era a coroa com pedras preciosas vermelhas e azuis, provavelmente o objeto mais valioso do salão inteiro.

— O senhor me mandou chamar todos, e o Kyle comprou o título de barão recentemente. – Butters tentou justificar, porque era verdade. O modelo das roupas dele era bem diferente das do rei. Um casaco de cetim sem grandes detalhes, tingido de azul claro e abotoado até a cintura, com uma camisa branca por baixo e babados de renda nos punhos e na frente. – Achei que realmente eram todos.

Cartman olhou na direção de Butters por um momento e o loiro tentou adivinhar se era porque havia o chamado de senhor, ou porque estava perdendo a paciência. Talvez um pouco dos dois.

— Eu quero o dinheiro dele, não a companhia. – O rei bebeu o resto do vinho, endireitou a postura no trono e entregou a taça vazia para o seu único conselheiro sem realmente ver o que o que fazia. Por muito pouco, a peça prateada não foi parar no chão.

Uma dúzia de casais dançava por todo o salão ao som da música produzida pelos violinos dos três músicos em um dos cantos, com uma sincronia que parecia perfeita. Outras pessoas conversavam alto entre si, algumas sentadas em sofás, bebiam e comiam com fartura. Vestidos de todas as cores, com bordados diversos, e saias volumosas, assim como os coletes e casacos chiques, eram como um complemento do ambiente. Como se a cena fosse uma pintura.

O baile era em homenagem ao aniversário de vinte e quatro anos, e também aos dez anos desde que Eric havia se tornado rei.

Temido por todos, o rei Cartman governava o Reino do Sul como um completo tirano desde que a mãe, Liane, morreu por alguma enfermidade sem cura, quando era apenas um garoto de quatorze anos. Na infância, Eric recebeu toda uma educação voltada para ser rei, todos os seus antigos professores eram ótimos, mas ele nunca foi uma criança muito compreensiva sobre o que não queria fazer e foi bastante mimado.

Depois que a mãe morreu, o príncipe ficou de luto por exatos trintas dias, confinado no próprio quarto sem falar propriamente com ninguém, enquanto a corte e os antigos conselheiros da rainha decidiam o que viria a seguir, pois, aparentemente, o garoto ainda era muito jovem para governar.

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