Nos conhecemos sob flores de cerejeiras. Depois da caminhada extensa para chegar até ali e mais um leve passeio debaixo dos galhos floridos, me cansei e me assentei em um dos bancos ao longo do caminho cercado de árvores. Sem perceber, dividimos um banco naquele parque lotado, onde várias pessoas admiravam a beleza das árvores em flor. Uma atração da cidade que eu não poderia perder, como moradora temporária dela. A atividade, como descobri depois, era uma das suas favoritas. Embora você sempre tenha se encantado pelas modernidades, você guardava com afeto algumas tradições. Toda primavera, você dedicava alguns momentos da sua vida agitada para parar e admirar as flores. Me encantava a sua capacidade de se concentrar em algo com tanta intensidade que tudo ao redor pudesse desaparecer da sua vista. Provavelmente, deve ter sido esta sua distração, que mesmo nesta primeira vez já foi adorável, que fez com que você se sentasse ao meu lado. Eu também estava admirando aquela beleza tão distante das que eu conhecia. Olhávamos para os tons de rosa e branco das pétalas acima de nós quando o toque de nossas peles me fez perceber outra cor e perfume que não o das flores acima de nós.
Era uma primavera mais quente que as outras, por isso havia muita pele exposta para que entrássemos em contato. Seu braço quente nas minhas costas descobertas me deixou sobressaltada, mas percebi logo que não havia sido intencional. Me virei e você pediu desculpas. Eu apenas sorri, porque ainda não me comunicava muito bem naquela língua. Apesar de entender suas palavras, não sabia responder apropriadamente. Eu realmente não me importava com seu toque ou a presença de um estranho ao meu lado. Eu estava há pouco mais de um mês na cidade e nas poucas vezes que saíra, havia estado na companhia de outros alunos, ou minha colega de apartamento, todos de outros países, como eu. Eu não havia tido muitas oportunidades de interagir com as pessoas do local e aquele era um contato que eu também desejava ter, para também praticar a língua. Você fez o primeiro movimento para se levantar, já que eu havia ocupado o banco primeiro, mas eu segurei seu braço, tentei buscar os melhores vocábulos da língua e só consegui pronunciar um "Cajima" inseguro. Não haviam outros bancos livres, já que toda a cidade parecia estar ali para ver o desabrochar das flores, e mesmo que você tivesse feito menção de se levantar, já que eu havia ocupado o banco anteriormente, insisti. Como este primeiro contato havia sido amigável, quis estendê-lo ainda mais. Especialmente quando vi seu sorriso tímido mas que exalava, inexplicavelmente, uma confiança marcante. Então, usei gestos e um pouco de inglês para dizer que você podia ficar. Eu não sabia porque estava tentando me comunicar. Eu só quis continuar fazendo. Acho que o fato de não ver seus olhos me instigava a continuar o contato, para saber quando você iria se revelar para mim.
Me surpreendi quando percebi que você também falava aquela língua, e quando o encarei surpresa, pude ver de relance seus olhos, já que você voltou a olhar para as árvores acima de nós. Seu rosto estava parcialmente coberto pela aba do chapéu. Você se escondia, mas era fácil saber quem você realmente era: um cara amigável, e cheio de coisas interessantes pra falar. Você decidiu ficar ao meu lado naquele dia, e dividimos além do banco, conversas que eu não esperava. Primeiro, falamos despretensiosamente sobre a beleza das flores, sobre a irregularidade do clima, sobre a diferença dos nossos países e eu disse porque estava ali, já que você se mostrou interessado em saber mais sobre mim. Eu estava completamente a vontade, e aparentemente, você também. Você me contou, naquele dia, lendas e histórias a respeito daquelas flores, do lugar onde estávamos e sobre seu país, mal olhando para o meu rosto. Era estranho para mim conversar com alguém sem encará-lo nos olhos, mas eu sentia que aquela barreira em contraste com a sua abertura para uma conversa agradável me motivava a ultrapassá-la.
Pensei, talvez, que tenha sido por timidez que você se escondia, mas soube, quando você olhou no relógio e percebeu que era tarde, que você não estava envergonhado. A confiança que eu tinha visto se sobressaiu. Com um sorriso discreto, você pediu meu número de telefone e eu fiquei feliz em saber que haveria uma outra oportunidade de tentar enxergar mais de quem você era e, quem sabe, olhar nos seus olhos. Eu já estava atraída por você, e seus olhos eram só mais um detalhe que eu queria conhecer. Eu já sentia muita familiaridade à sua presença. Você disse que tinha outro compromisso, mas queria que a nossa conversa continuasse. Sem hesitação, e sim com uma determinação leve de quem conhece a si mesmo e o que deseja. Não havia a arrogância de quem nunca espera receber um não, mas só uma confiança de que era preciso pedir meu telefone para que aquele encontro não fosse só um mero acaso, que com o tempo poderia ter sido esquecido. Não foi acaso, nem esquecido.
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Mudaram as estações, nada mudou
RomanceDebaixo de cerejeiras em flor, um encontro acontece. Aquela atração inevitável irá sobreviver, apesar de todos os impedimentos das vidas dos dois? A próxima estação sempre vem? O que muda quando mudam as estações? Kim Namjoon x Personagem original...