Eu estava indo lá de novo, dirigia o carro sem nem prestar atenção na rua, a chuva caía lentamente, quase acompanhando o ritmo das minhas lágrimas. Estacionei o carro no local de sempre, respirei fundo, limpei meu rosto e saí do carro, a clínica estava a mesma, fui até a recepcionista ela me deu aquele sorriso triste e me cumprimentou com um “Sr.Hemmings” eu acenei com a cabeça e continuei andando. Quarto 15. A ironia nisso tudo era cruel, nós estávamos vivendo nossos sonhos e mesmo assim ele não resistiu, ele teve que fazer isso, ele estava afundando e quando eu notei já era tarde demais. Parei em frente a porta do quarto dele, respirei fundo, eu não podia desmoronar agora. Abri a porta e o vi sentado em cima da cama, dedilhando no violão que eu tinha levado para ele. As paredes eram todas brancas, não combinavam com o cabelo verde que estava desbotando.
-Michael?-Eu chamei hesitante, ele se virou e sorriu para mim, fazia tempo que eu não o via sorrir, meu coração estúpido acelerou apenas com aquilo e eu sorri fraco pra ele, fechei a porta atrás de mim e fui caminhando lentamente até ele.
-Eu pensei que você não vinha! Ainda bem que você veio.-Ele falou depois que eu tinha me sentado em sua frente, ainda se dava para ver os cortes em seus pulsos, só de vê-lo ali meu coração doía, mas suas palavras eram tão doces que ele conseguiu arrancar um sorriso sincero de mim, o que ultimamente também tem sido difícil. Ele não sabe como eu me sinto. Não ainda. Seus olhos verdes me fitavam curiosos, ele provavelmente estava esperando que eu falasse algo.
-Eu sinto a sua falta.-Minha voz falhou, ele se surpreendeu e em seguida eu já estava chorando. -Eu sinto a sua falta!-Eu disse alto entre meus soluços, senti seus braços me rodearem. Se eu soubesse como salvá-lo, eu faria de tudo. Eu me permite devolver o abraço, minhas lágrimas caiam sem parar eu o sentia chorar também.
-Luke, eu sinto tanto a sua falta.-Ele falou perto do meu ouvido e eu que estava tentando me concentrar em me controlar desabei novamente.
Depois de um tempo eu me controlei, ele também conseguiu se recompor, e nos afastamos, e aquele vazio me atingiu novamente. Foi então que eu lhe disse que tinha uma surpresa, corri até o meu carro, a chuva tinha aumentado, peguei tintas de parede, mas também peguei de cabelo, voltei até seu quarto. Juntos nós pintamos suas paredes de diversas cores, agora sim aquele lugar se parecia com ele, colorido, cheio de vida, pulsante.
-Tem mais uma coisa, Mikey. -Eu disse sorrindo, ele se virou um tanto empolgado.
-O quê? -Ele estava animado, eu tirei do bolso da minha calça, nessas horas eu agradeço por usar moletom de vez em quando, a tinta de cabelo, vi seus olhos se encherem de lágrimas, ele se jogou para mim, me abraçando, eu sorri e o abracei. Fomos até o banheiro, onde eu o ajudei a pintar seu cabelo de uma espécie de roxo. Se acalme, Hemmings, ele não sabe como você se sente. Ele me olhou feliz, ele estava sentado na privada, que estava com a tampa fechada, e seu cabelo estava com uma coloração engraçada.
-Agora eu tenho que lavar meu cabelo. -Ele se levantou e ligou o chuveiro, eu até ia sair, mas estava tudo bem, eu já o tinha visto nu diversas vezes e vice-versa, era algo normal para nós, ou deveria ser. Ele começou a se despir bem na minha frente, eu desviei o olhar e saí do banheiro, minha respiração estava desregulada, eu podia ouvir o barulho do chuveiro, mas era apenas isso. Meu coração não me obedecia quando eu mandava ele se acalmar. Ele não sabe como você se sente! Se acalme! Eu suspirei, eu sempre tenho essas discussões comigo mesmo, me sentei em sua cama, peguei seu violão, sem perceber eu estava tocando alguma coisa, lágrimas caíam, eu estava mal. Mas, ele estava pior! E tudo que eu realmente quero é salvá-lo, apenas isso. Eu faria qualquer coisa. Eu o amo tanto. Ouvi um barulho no banheiro, sequei minhas lágrimas, e comecei a tocar algo animado, ele saiu do banheiro.
-Esse lugar fede a tinta! -Ele disse rindo, eu o acompanhei. Eu o amo tanto! Droga, eu o amo! Eu abaixei minha cabeça, eu tinha que bloquear esses pensamentos de alguma forma. -O que você tem? Você está bem, Luke? -Ele disse, eu levantei minha cabeça, ele estava lindo, a nova cor o devolvia a vida que esse lugar tinha roubado, eu tentei sorrir, mas não funcionou muito. Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo! Minha mente não ia me deixar em paz tão fácil.