Chapter II - Resgate.

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Escuto uma música tocar e uma voz suave alertando o horário, assim caiu a ficha que era hora de acordar e enfrentar mais uma luta diária. A minha colega de quarto já não estava em sua cama, então decido me levantar de vez e ir me preparar para a aula, sigo até o mural presente em meu quarto, lá encontro um informativo com o meu nome e as aulas que teria, além da sala. Olho para o banheiro, ainda escutava o barulho de água caindo e torcia para a garota cuidar logo, pois eu não queria me atrasar. Separo o meu uniforme e o coloco em cima da cama, prendo o meu cabelo em um coque alto e pego os meus itens de higiene. A garota finalmente sai do banho com o seu roupão, eu tentava o máximo possível não a olhar muito, a beleza dela é realmente estonteante, sem ao menos dar um bom dia, sigo para o banheiro e fecho a porta atrás de mim.
De todas as pessoas que passaram em minha vida, essa garota era a mais mal educada que conheci, primeiro ela fala comigo com arrogância e segundo nem dar um bom dia, tipo sei lá, pelo menos dissipar um pouco o clima ruim que acabou surgindo ontem. Dou de ombros e continuo os meus preparativos para a aula, sentindo já um certo pesar só de imaginar que vou ter que repetir tudo de novo, a vida é muito cruel, disso ninguém discorda e se discorda, eu taco pedra. Termino meu banho e todo o processo de higiene matinal, olho para todos os cantos do quarto e percebo que minha coleguinha já saiu, solto um suspiro de alívio e minhas bochechas ganham um certo rubor, só de pensar na maldita vergonha que passei ontem. O que custava para ela ter dito algo ou pigarrear pelo menos um pouco, só para dar um toque alertando que estava ali, presenciando todo o meu show de nudez. Balanço a cabeça querendo me livrar desses pensamentos, me preparo de vez para ir a aula, antes claro, teria que comer, meu estômago já estava reclamando.
Antes de sair do quarto, reparo em minha aparência no espelho, vendo se realmente o uniforme caiu bem. A saia rodada preta e a blusa branca com um laço azul, deixa um aspecto juvenil a minha personalidade, quando estava em casa e meu pai havia dito que iria para esse lugar, eu cogitei a hipótese de que o uniforme seria bem estilo detento. Saio dali seguindo para o dormitório, já estou um pouco a frente, quando escuto Wendy me chamando e pedindo para que eu a esperasse. Bem, agora vou tirar todas as minhas curiosidades sobre a minha colega de quarto com Wendy.

— Agora você vai me contar sobre a garota do refeitório – Era evidente a minha expectativa em saber sobre a garota que provavelmente vai me ver demais por aqui.
— Ok Seulgi-ah, mas antes você precisa prometer que não vai ficar dando com a língua nos dentes por aí – Os olhos de Wendy me fitavam com seriedade.
— Tudo bem, eu prometo – Digo afirmando positivamente com a cabeça.
— O nome dela é Bae Irene, era ela que estava no consultório do Dr.Kim ontem, provável que ela deve ter tido outra crise – Wendy coloca a mão no queixo analisando a situação — Ela é bem popular aqui em Metropolis, sempre anda com os mesmos colegas e seu namorado. A beleza de todos daquele grupo chega a ser invejável, ninguém sabe bem o motivo deles terem parado aqui e isso meio que se tornou o passatempo do nosso grupo, nós deduzimos teorias de conspiração sobre eles e estamos até formulando um plano para poder saber mais sobre e tirar todas as nossas dúvidas — Ela parecia empenhada para saber mais sobre a garota e o grupo que a cercava, agora que eu concluo que Wendy é louca da cabeça.

Chegamos no refeitório, seguimos direto para a fila e pegamos nossas bandejas para nos servir, o meu estômago estava me irritando bastante e não posso reclamar muito, pois é culpa minha não ter jantado ontem. Olho para a Bae sentada em sua mesa cercada de pessoas realmente intrigantes, não era à toa que despertava esse desejo em stalkers como Wendy, eu sempre percebi que quando mais reservado você tenta ser, mais você chamará atenção, isso cabia a essa situação. Me sirvo de um sanduíche natural, com suco de laranja, uma bolacha integral e uma maçã, precisava reforçar esse café para compensar pelo menos. Chegamos na mesa e fico surpresa, uma nova garota se junta a nós e ela parecia revoltada, daquelas que enfrentava tudo sem medo, mas na verdade era só uma defesa para tentar fugir de si mesma, eu sei bem como é, fiz muito esse tipo. Wendy mantinha-se vidrada na mesa em que a minha colega de quarto estava, não entendo muito esse tipo de obsessão dela com essa garota, talvez esse era o problema que trancava Wendy nesse lugar. Minha atenção é desfeita quando escuto Yeri conversar com a garota que ainda não conhecia que havia se juntado aquela mesa.

— Lisa você está bem? – Yeri pergunta demonstrando preocupação, mas o olhar frio e um sorriso sarcástico se formam nos lábios da tal garota ao ouvir a pergunta da outra.
— Estou ótima, não vai ser uma UBS que vai me fazer ficar com menos vontade de tentar fugir daqui de novo – A garota diz com desdém enquanto fitava meus olhos, acredito que agora ela notou minha presença — Quem é ela?
— Ela é uma novata e agora vai ser do nosso grupo – Wendy diz com um sorriso no rosto, enquanto massageia minhas costas para me trazer confiança — Se apresente logo e deixe de ser mal educada, já basta aquele grupinho da Bae.
— Você e essas comparações toscas com aquele grupo estranho, tsc – A garota suspira e me encara — Me chamo Lalisa Manoban, sou mais uma “detenta” dessa espelunca nojenta – O desânimo era perceptível na voz de Lalisa e um certo pesar paira naquela mesa — Eu acabei de sair da solitária desse lugar, depois de uma certa crise de “rebeldia”, assim eles dizem né. Esses cretinos nunca querem o nosso bem e apenas desejam que todos se topem de remédios e finjam estarem bem, para dar uma boa notícia aos nossos queridos pais. Isso é uma MERDA! – A garota explode ao bater com os punhos cerrados na mesa, me fazendo escancarar os olhos com medo.
— Lisa já chega! Sabemos que você deseja sair desse lugar a todo custo e também têm esse tipo de concepção, mas você precisa entender que estar agindo errado e apenas estar atrasando ainda mais a sua saída desse lugar – Seohyun diz ajeitando a armação do seu óculos redondo sobre o nariz — Para com esse showzinho, você vai assustar Seulgi-ah.
— Tudo bem... – Digo tímida e baixo um pouco a cabeça.
Lisa apenas sai da mesa irritada com as palavras sinceras de sua amiga Seohyun e dirige-se a algum lugar desconhecido por mim. Todas da mesa parecem alheias a situação de agora a pouco, como se nada importasse, como se aquilo fizesse parte da rotina. Assim, duas novas garotas se aproximam da nossa mesa e seus olhares mantinham-se fixos em mim, elas logo se sentam colocando suas bandejas sobre a mesa.
— Seulgi-ah, essas são nossas amigas que haviam pulado o jantar de ontem para fazerem alguma travessura – Seohyun diz de um jeito engraçado e estranho, pois ela parece ser séria e serena, então vê-la tentando ser engraçada e carismática se tornava cômico — Se apresentem para nossa nova colega.
— Olá! Sou Kim Jisoo – A mais baixa das duas diz um pouco tímida. Uma coisa que não passaria despercebido por mim, é que as duas são incrivelmente lindas.
— E eu sou Park Chaeyoung, mas pode me chamar de Rosé, pois eu gosto de ser chamada assim – Ela diz e apenas fico me questionando como meninas lindas como elas estavam presas e isoladas naquele local nada agradável. Talvez Lalisa tenha razão.
— Pidi mi chimir di Risi, piis i gisti di sir chimidi issim – Wendy imita Rosé e leva um tapa seco da outra no braço. Todos caem na risada naquele momento.
— Eu sou Kang Seulgi, prazer em conhecer todas vocês e obrigado por me receberem, eu acho – Digo tímida e baixo um pouco a cabeça, para que elas não me vissem envergonhada. Desde de que passei pelas portas desse lugar, nunca iria imaginar que teria colegas de “hospício”.
— Nós que ficamos felizes, Seulgi-ah – Yeri diz com um sorriso tímido e volta a forçar a comida pela boca. Todas assentem gentilmente e pareciam ser sinceras em estarem confortáveis com a minha presença, exceto Lalisa que saiu possessa daquela mesa.
— Esse lugar não é tão ruim quanto parece, então não leva a sério as palavras da Lisa – Seohyun diz calmamente — Ela é revoltada com sua família e também possui problemas que precisavam de intervenção, ela está aqui por ter sido pega usando maconha e andando com gente barra pesada. A sorte dela é por ter sido pega sendo menor de idade ou teria problemas mais sérios.

Todas na mesa mantinham-se meio cabisbaixas, como se estivessem lembrando o motivo de estarem ali naquela instituição. Jisoo prende sua atenção na sua bandeja e Rosé comia tudo com muita vontade, mas não sei o porquê sentia que era nada normal aquilo. Soyeon comia atentamente batendo um dos dedos de um jeito frenético e compulsivo. Assim, fico curiosa sobre o motivo que levou todas essas garotas a estarem nesse lugar chato e sem vida.

— Já que você está nos conhecendo, acho que chegou o momento de darmos um passo mais importante. Então, Seulgi nos diga o motivo que trouxe você para esse lugar – Wendy diz com os olhos brilhando e me fazendo reforçar as teorias que ela era uma stalker.
— É... Acredito que depressão – Digo timidamente fitando a minha bandeja – E vocês?
— Eu tenho transtorno bipolar – Wendy sorri de um jeito otimista — Acho que você já ouviu falar desse transtorno, o humor oscila de um jeito muito peculiar; certos momentos estou em um estado de alegria e bem eufórica, já em outros estou muito depressiva. Enfim, isso é uma droga – Ela diz abaixando a cabeça e fica encarando seu prato.
— Eu tenho transtorno obsessivo compulsivo – Seohyun diz enquanto ajeitava mais uma vez aquela armação redonda que teimava escorregar pelo seu nariz ou apenas era uma mania sua — O quadro já estava preocupante e sempre jurava que os meus colegas na antiga escola estavam falando de mim as escondidas, também tenho uns rituais que não convém falar no momento.
— Fala logo que você tem uma obsessão pela organização do seu quarto – Rosé interrompe a fala de Seohyun — Essa garota falta me escravizar naquele quarto, todo dia um inferno de limpeza e coisas colocadas na sequência. Mano! Você tem que ver a cômoda dela, ela organiza todas as roupas e até as peças íntimas por cor. Isso é muito bizarro! – Ela termina rindo da cara da colega de quarto.
— Eu vou ainda conseguir tirar você daquele quarto, Rosé – Bem irritada, Seohyun diz ajeitando novamente os seus óculos — Não tenho nenhuma culpa se você é muito bagunceira, preguiçosa e mimada.
— Chega! – Yeri bate a colher na mesa — Agora é a minha vez – Ela contorce um pouco o nariz e ajeita os fios soltos do seu cabelo atrás da cabeça — Eu apresento um início de esquizofrenia, por isso estou nesse reformatório. Graças a Doutora Hwang que identificou o meu quadro e me colocou aqui, pois a minha família era muito relutante em aceitar que tinha esse problema, mas hoje tudo estar em ordem.
— Já eu e a Jisoo sofremos de “AneMia” – Rosé diz com um sorriso fraco no rosto e Jisoo concorda.
— Anemia? – Digo curiosa, pois nunca ouvir falar de um transtorno mental com esse nome.
— Anorexia + Bulimia é igual a “AneMia” – Rosé diz rindo e todas da mesa, exceto eu, caem na risada – Isso é só uma zoeira, uma simples forma de rir da nossa desgraça.
— Eu sofro da Ana e ela da Mia – Jisoo fala e meus olhos caem pelo seu corpo, assim observo o quanto ela era magra — A maldita anorexia me colocou em Metropolis – Ela volta a encarar seu prato.
— Infelizmente! Isso tudo por conta daquela maldita empresa – Rosé fala e cerra um dos punhos sobre a mesa.
— Sobre Soyeon você já sabe – Wendy diz comendo a sua maça.
— Eu tenho transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – Soyeon diz cabisbaixa e com um sorriso triste nos lábios.
— Chega desse clima triste! Agora que você já conhece os motivos que nos trancou nessa espelunca, que a gente chama de Metropolis – Wendy diz muito empolgada e sorridente — Você é uma de nós, Seulgi – Todas concordam e lançam um sorriso em minha direção.
— Ah sim! Espero que todas nós venhamos sair juntas daqui – Digo apenas para tirar o foco delas de mim, então desvio o olhar para a mesa da minha colega de quarto e a pego olhando em nossa direção, ela desvia o olhar rapidamente.

Escuto novamente uma música clássica tocar e todos os alunos levantam das suas mesas com as suas bandejas, pelo visto o horário do café acabou. As minhas novas colegas pegam suas bandejas e saem da mesa, então me junto a elas. Logo depois de despejamos nossas coisas no lavabo, sinto Wendy entrelaçar o seu braço no meu e do meu lado Seohyun andava parecendo um robô. Percebo que preciso me acostumar com essas novas pessoas ou minha vida nesse lugar seria pior ainda, pelo menos agora não estou sozinha e tenho colegas, mas ainda sinto falta de Chungha.

— Seulgi você vai estudar na mesma sala que a minha e de Seohyun – Wendy diz empolgada de novo, pelo visto ela estava nos seus dias alegres — A Bae também estuda com a gente, ela e outras três garotas daquele grupo, Park Sooyoung, Im Yoona e Kim Jennie.
— Ah sim! – Finjo certo interesse nesse assunto, pois para mim nada importava. Porém, com Wendy é diferente, a sua atenção parecia girar em torno desse tal grupo estranho de pessoas que são realmente muito lindas e perfeitas, pelo o que eu notei.
— Wendy, você é muito estranha – Seohyun diz sem pestanejar — Todos já sabem que você é apaixonada por essa Irene, então para de assustar a pobre da Seulgi – Ela diz enquanto paramos nos nossos armários e pegamos nossas coisas para a aula. Já sabia qual era o meu armário e as aulas de primeiro período, que são química e matemática.
— Não sou apaixonada por ninguém sua doente! Você não os acha estranhos e como são todos tão perfeitos? Eu sinto que tem algo de errado com eles e minha intuição não falha – Nesse ponto ela tinha razão, só de observar aquele grupo de longe, percebi que são todos muito lindos e parecem que não possuem problemas mentais, como por exemplo o nosso grupo. Se os visse em qualquer lugar, diria que nunca imaginaria que estavam frequentando um reformatório ou clínica mental. Porém, as aparências enganam.
— Você tem uma obsessão por eles, Wendy – Seohyun pega os livros, assim como eu e Wendy — Em um certo ponto você está certa, eles são realmente estranhos, mas depois a gente fala sobre isso, vamos para a aula.

Wendy desisti de discutir sobre esse grupo e nos dirigimos para a nossa sala de aula. No caminho, as duas conversam sobre algo aleatório e aproveito para poder refletir sobre o que Seohyun disse, em relação aquele grupo ser estranho. Meus pensamentos param no ocorrido de ontem, em que a doida da minha colega de quarto fica me vendo tirar a roupa e não diz nada, parece até que ela realmente queria me ver. Sinto um arrepio pelo meu corpo só de imaginar e entro na sala junto das minhas colegas. No momento que adentro a sala, meus olhos se encontram com os da minha colega de quarto, que me observa entrar na sala enquanto suas amigas estão entretidas conversando. Os olhos frios e invasivos de Irene desviam dos meus e voltam a prestar atenção nas suas amigas. Sigo minhas colegas até uma fileira no fundo da sala. O professor inicia sua aula e no momento meus olhos apenas queimam as costas de Irene, queria saber porque sempre a pego olhando para mim, mas vai saber né, o povo desse lugar é cheio de problemas. Decido parar de pensar na minha colega de quarto ou ficaria mais atordoada da cabeça, já basta os meus problemas e presto atenção na aula de química.

[...]

Depois das aulas da manhã e do longo almoço que tivemos, em que tive que observar minhas novas colegas em diversas conversas aleatórias e discutindo assuntos triviais do dia-a-dia, me mantive apenas alheia a todas as conversas e respondendo somente o necessário, quando elas me colocavam no assunto. Havia decidido apenas observar, pois seria melhor para mim. Eu tinha medo de poder me aproximar e as chamas fazerem algo de ruim contra elas, infelizmente o meu destino seria fadado a me isolar. Pego o meu maior de banho no quarto e me dirijo até a piscina que o reformatório mantinha em suas propriedades; depois do almoço havia passado na diretoria e recebido a autorização para nadar, devido ao meu histórico atlético na natação em minha antiga escola e o meu psicólogo antigo havia recomendando como terapia, então o reformatório aceitou. Chegando no local apenas adentro o vestiário e coloco o meu traje de nado, sem demora coloco a minha toalha sobre o banco na lateral da piscina, em seguida vou até a baliza. Até chegar nela, percorro uma certa distância, pois a piscina continha 50 metros. Subo na baliza e preparo o meu salto, meu corpo afunda e logo emerge para executar um nado crawl. Eu amo nadar, sinto que dentro daquela água posso ser eu apenas, sem depressão, sem incêndio e sem mortes, apenas Kang Seulgi. Quando volto para a baliza e retiro os meus óculos de nado, avisto uma silhueta e aperto mais os olhos para ver quem era, me assusto ao perceber que era Irene saindo daquela área pela porta do vestiário. Saio da piscina e volto para o vestiário, pois teria que me vestir e voltar para o prédio principal, pois teríamos uma aula ao ar livre. Tenho que cuidar para não me atrasar.


[...]

Wendy enchia os nossos ouvidos sobre uma música da Ariana Grande, que ela diz ser muito fã e claro que todas do grupo curtiam o assunto, pois amávamos essa cantora, principalmente eu que sempre assistia Brilhante Victoria e gostava muito do personagem que ela fazia na série, que era Cat Valentine. Todas estávamos indo para um jardim que pertencia ao nosso reformatório, não sabia qual era a atividade até as garotas me informarem que seriamos uma espécie de “empregadas de Neville”, pois teríamos que limpar o local retirando as folhas secas do chão e limpar também as estátuas, que segundo elas eram muito macabras por sinal, assim já estava totalmente desanimada para essa atividade.
Chegando no local, fico meio perplexa pela arquitetura medieval do jardim, contendo estátuas de anjos travando batalhas, também continham figuras que pareciam ser demônios com capa, além estátuas humanas comuns com trajes medievais. Se alguém visse de longe, poderia jurar que estava vendo uma guerra entre o bem e o mal, pois é assim que me sinto. Agora concordo com as minhas colegas, esse lugar é macabro e medonho demais, talvez o diretor desse lugar curte essas paradas medievais e apocalípticas, vai saber né.

— Eu te disse Seulgi que esse lugar é sinistro – Wendy diz com um sorriso no rosto, pois provavelmente estava rindo da minha cara de espanto.
— Fico me perguntando o motivo deles sempre trazerem a gente para esse lugar estranho – Jisso diz alheia a situação, colocando umas luvas de plástico para fazer as tarefas mandadas pela supervisora.
— Você não sacou ainda que eles nos fazem de empregadas para poder lucrar com o nosso dinheiro? – Diz Lisa que se aproxima do nosso grupo, ela infelizmente não podia fugir dos deveres e teria que participar.
— Lisa, cala essa boca! – Rosé diz séria e Lisa abaixa a cabeça — Você pode estar certa, mas se a Boa te pega falando isso estamos ferradas.
— Ok Chaeyoung, foi só um comentário – Ela diz um pouco tímida. Acho estranho essa obediência repentina de Lisa só porque Rosé chamou sua atenção.
— Vocês são barulhentas demais, nossa! – Seohyun diz já direcionando-se para próximo do aglomerado de pessoas que cercavam a supervisora.
Todas seguem Seohyun e meus olhos procuram por minha colega de quarto, que cada vez mais me deixa curiosa sobre quem ela é. Não tenho a obsessão de Wendy. É claro. Porém, preciso saber quem é a pessoa que divide o quarto comigo, vai que é uma psicopata e quer me matar a noite, vai saber né. Então, a supervisora olha atentamente para todos os lados checando que os alunos estavam todos reunidos para cumprir a atividade ao ar livre.

— Olá alunos, para quem não me conhece ainda me chamo Kwon Boah e sou a supervisora de vocês nessa atividade – Ela coloca seus braços para trás e anda de um lado para o outro, impondo e demonstrando sua autoridade sobre todos nós — Essa atividade é para analisar como anda suas atividades em grupo, além de contribuir para um bem maior em relação a estrutura histórica desse jardim. Por isso, irei dividir vocês em grupos para exercerem as tarefas de manutenção desse lugar.
— Exploradora! – Escuto soyeon murmurar baixinho e todas do grupo seguram o riso para não se meterem em encrenca com a supervisora, mas estava difícil disfarçar, pois Soyeon parecia uma louca mesmo, olhando fixamente para a supervisora de cabeça baixa.

Então, a supervisora Boa dividi as equipes e eu caio somente com Yeri, que parece feliz em ficar na mesma equipe que eu. Todos do grupo ficam com a tarefa de colherem as folhas secas com uma espécie de “espeto” e começamos o nosso trabalho. Andando ao lado de Yeri pelo jardim, ia espetando o que eu podia e colocando dentro do saco, ficava cada vez mais abismada com a estrutura do jardim e achava bem interessante que o céu estava nublado, colaborando para a paisagem sinistra do local.

— Seulgi, você acredita que existe o mundo sobrenatural? – Ela me fita e escuto o murmúrio do nosso grupo que se encontrava um pouco atrás de nós duas.
— Acho que não existe, mas já pensei sobre a possibilidade de existir alienígenas – Digo rindo e olho para Yeri que se mantem de cabeça baixa, parecia um pouco triste e isso me deixa assustada — Você acredita que existe?
— Ah, eu não sei – Ela espeta uma folha seca e a coloca no saco – Se eu dizer para você que acredito, não vai fazer diferença – A garota diz com um semblante desanimado e o seu saco já se encontra cheio de folhas — Já venho, vou colocar esse saco no carrinho – Vejo ela indo até o carro-de-mão que continha alguns sacos cheios de folha.

Assim, prossigo espetando folhas e colocando dentro do saco, me movendo totalmente alheia ao que me cercava, pois estava concentrada. Fico presa em meus pensamentos enquanto me movo cada vez mais catando folhas, pois quero encher logo esse saco e me livrar desse serviço chato. Não consigo ouvir mais os murmúrios do meu grupo e quando levanto a cabeça, vejo uma estátua enorme vindo em minha direção e por segundos imagino a minha morte, de um jeito ridículo até ser empurrada rapidamente por alguém e levada para próxima de outra estrutura. Abro os olhos e com a respiração muito ofegante observo Bae Irene me encarando, bem perto e com os olhos espantados. Estava sentada no chão e encostada em uma base de outra estátua, porém meus olhos estavam vidrados nela, me sinto hipnotizada por aqueles olhos que demonstram preocupação e certo medo. Nesse momento apenas constato que aquela garota é perfeita, sua pele alva e sem defeitos, seus lábios rosados e seus olhos negros como a noite, revelam mistério e me deixam mais intrigada ainda. Então, ela se afasta, levantando-se em seguida e estende a mão para que eu me apoiasse para levantar. Seguro a sua mão e sinto um tremor por todo o meu corpo, como se sentisse que já havia tocado aquelas mãos, o frio delas me deixa nostálgica e meio tonta.

— Você está bem? – Escuto a sua voz meio aveludada e agradável.
— Sim, só um pouquinho tonta, mas acho que foi pelo susto – Digo para tranquilizá-la e observo Yeri vim correndo em nossa direção até se aproximar de nós duas.
— Seulgi, eu fiquei te procurando por todo o lugar – Ela diz ofegante e olha para Irene que já seguia um caminho aleatório entre as estátuas do jardim e logo a perco de vista — Ei Seulgi! Estou falando com você, onde estava? O que ela estava fazendo perto de você?
— Eu acabei me perdendo, Yeri – Digo respirando fundo e sorrio para fazer Yeri perceber que eu estava bem — A Bae apenas me ajudou a chegar perto de vocês e está tudo bem, ok.
— Que estranho... Nunca vi essa garota próxima de outra pessoa que não fosse aquele grupo – Ela diz entretida — Vamos logo, a tarefa já terminou e temos que voltar para o jantar.
— Tudo bem, vamos – Sigo com Yeri até o grupo e fico preocupada de Wendy saber que fiquei perto da Bae, me encher de perguntas e eu ter que falar sobre o ocorrido — Yeri, quero te pedir uma coisa.
— Pode falar, Seulgi – Ela diz concentrada no caminho até o nosso grupo.
— Não comenta que você me viu perto da Bae com as meninas – Digo um pouco envergonhada — Não quero ser interrogada pela Wendy. Sabe?
— Tudo bem, Seulgi – Ela sorri para mim, me passando certo tipo de confiança e sinto um alívio — Sei muito bem como é a Wendy. Esse vai ser o nosso segredo.

Sorrio aliviada por poder contar com Yeri. Não queria ser interrogada por Wendy e sua estranha obsessão pela Bae. Assim, prosseguimos até o nosso grupo, cheios de sacos repletos de folhas secas e com uma sensação de dever comprido. No entanto, meus pensamentos continuam presos no momento em que Bae Irene me salva daquela estátua pesada, que com toda a certeza iria me esmagar. Fico curiosa em como ela chegou a tempo e me tirou daquela situação, além de pensar em como devo encará-la naquele quarto que dividíamos.
Apenas tinha uma certeza. Devo agradecê-la por ter me salvado.




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⏰ Última atualização: Aug 25, 2019 ⏰

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