𝕋𝕙𝕖 𝔻𝕒𝕪 𝕆𝕗 ℂ𝕒𝕣𝕟𝕒𝕘𝕖

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Palavras: 1622
Aviso: O capítulo contém palavras de baixo calão, homofobia e bullying

...

Mike Wheeler sempre acordava pouco antes do sol nascer. Gostava disso. Gostava de ver o dia amanhecendo, gostava de poder ouvir a pequena Hawkins despertando, gostava de ver o céu sendo pintado de laranja e gostava de sentir o cheiro de café vindo do andar de baixo.

Mas naquele dia não avia a acolhedora luz do sol inundando o quarto do garoto. Apenas o insistente barulho da chuva batendo contra sua janela e um céu tão escuro quanto seus pesadelos mais sombrios. Era uma manhã tempestuosa.

Não demorou muito para Mike levantar de sua cama, acender as luzes do quarto - Wheleer odiava o escuro, e logo depois ir para o banheiro.

Antes de começar o banho, Mike escovou os dentes e ficou um bom tempo se encarando no espelho. As pessoas sempre reparavam na beleza do garoto, como seus olhos brilhantes, suas olheiras que contrastavam com sua pele pálida, suas sardas que mais pareciam constelações e seu cabelo encaracolado. Mas Mike não conseguia ver nada além de seu interior e as coisas horríveis que fazia todo dia.

O Wheeler só saiu da frente do espelho quando o banheiro estava coberto de vapor. Tomou um banho quente e demorado, isso sempre fez com que seus problemas sumissem de sua mente, pelo menos por um tempo.

Mike terminou seu banho 40 minutos depois, com sua mãe gritando para ele se apressar. Saiu do banheiro e começou a se arrumar, vestiu uma camiseta listrada, sua jaqueta, uma calça confortável e um par de tênis. Por fim, pegou sua mochila, seu livro favorito - que por acaso era O Iluminado, de Stephen King. Um livro que ele teimava em reler quase toda semana -, e desceu para tomar café.

- Arrume esse cabelo Michael - Exclamou Karen Wheeler, ríspida, assim que seu filho entrou na cozinha. Karen fora assim, meio malvada, desde que Mike se lembrava.

A família Wheeler era um exemplo para toda cidade, afinal, o patriarca Ted Wheeler estava concorrendo a prefeito, e Karen Wheeler era dona do The Hawkins Post. Eram a típica família perfeita, mas apenas Mike, Nancy e a pequena Holly, os filhos do casal, sabiam o quanto isso era uma mentira.

- Como pode saber se 'tá bagunçado sendo que você nem olhou para minha cara - Murmurou o garoto, enquanto ajeitava seus fios rebeldes com as pontas de seus dedos e sentava-se num banquinho do balcão.

- Eu sei porque sempre está assim, querido. - Disse ela, enquanto tirava as torradas da torradeira e as colocava num prato.

- Bom.... Dia, pessoal. - Mike ouviu a voz arrastada de sua irmã logo atrás dele - Holly acabou de acordar, mãe.

- Bom dia querida, obrigada, já vou lá vê-la. Mike, pegue suas torradas e faça o café, sim?

- 'Tá bom.

Assim que Karen saiu da cozinha, Mike sentiu a mão de sua irmã em seu ombro.

- 'Tá tudo bem, maninho? - Nancy perguntou, com carinho.

Nancy Wheeler era uma peça rara; uma irmã dedicada, uma filha amorosa e uma mulher forte e deveras talentosa. Falaremos mais sobre doçura a diante, mas já lhes adianto que essa é uma personagem amável e uma de minhas favoritas nessa romântica tragédia.

- Sim.

- Mike...

- Está como sempre, Nancy - Ela não respondeu, apenas acariciou o cabelo do irmão e foi até o fogão.

- Não precisa, Nancy. Eu faço.

- Não, querido, deixe o café comigo. E eu vou te levar para a escola também, não vou deixar você ir de bicicleta nessa chuva.

𝕞𝕠𝕟𝕤𝕥𝕖𝕣 - 𝕓𝕪𝕝𝕖𝕣 ✽Onde histórias criam vida. Descubra agora