Falar foi fácil, difícil mesmo é fazer. Não que eu não estivesse disposta, mas parece que essa tal Beatrice sumiu do mapa, ou pelo menos mudou de endereço. Depois que descobri onde ela mora passei a ficar quase todos os finais de tarde em frente a sua casa, esperando que ela saia, que eu consiga ao menos ter certeza de que estava ali, mas nada. Um mês se passou e nenhum sinal daquela mulher.
Os dois irmãos estavam lá, entrando, saindo, sorrindo, se divertindo, nem parece que presenciaram uma morte. Apesar de também sentir raiva deles, não são os meus alvos. Ela é, porque ela era a motorista.
Sete meses sem Amanda, nem o trabalho conseguiu me tirar sua lembrança, na verdade eu não pretendo esquecê-la, quero tê-la comigo para sempre. Pelo menos sua memória nunca será tirada de mim por ninguém.
Essa é a trigésima noite que estou aqui estacionada em frente ao prédio que eles moram. Quase desistindo dessa abordagem. Mas algo vem à minha mente. A certeza que essa mulher não mora mais ali é óbvia. Porém seus irmãos estão, um deles vai me dizer onde ela está. Homens normalmente agem iguais.
Quando vejo um deles saindo, o mais velho, resolvo segui-lo. Ele para em frente a um bar, não me surpreendo. Desço do carro e sento em uma mesa. Vejo o homem se acomodar em outra. Peço apenas uma cerveja, esperando que ele faça alguma coisa, como imaginei começa a beber, tanto que logo está alterado. É hora de agir. Chego perto da sua mesa, ele me olha e sorri.
- O que uma mulher bonita como você faz aqui sozinha?
- Acha que não posso me proteger?
- Ah, com certeza pode, mas que tal uma ajuda? – Bingo. – Sente-se comigo.
- Aceito que pague uma bebida para mim.
Seu sorriso é vitorioso, com certeza achando que se dará bem nesse fim de noite. Ah, se ele soubesse. Sorrio de volta, deixando que pense exatamente que isso acabará da forma que quer. Bebemos, na verdade, ele bebeu bastante, quando vejo que está do jeito que preciso que esteja, começo a agir.
- Então, Bruno, você tem dois irmãos?
- Não vamos falar daqueles ingratos. – Ele soluça, tenho que ser rápida, pois parece que pode dormir a qualquer momento.
- Nossa, como você fala assim deles?
- Aquele... Aquele moleque, que meu pai mima... Ele só quer saber de festas e gastar dinheiro. E aquela... Aquela mal-agradecida, fizemos de tudo para ela não... Não ir presa. Agora ela... Ela vive debaixo da asa da nossa avó. Fica isolada naquela fazenda. Ela pensa que só ela sofre, só ela...
- Sua irmã vive em uma fazenda?
- Sim. Só quer saber de ficar lá, sob os cuidados da vovó... Ela... Depois do acidente...
Então sua cabeça cai em cima da mesa. Está completamente bêbado. Mas não me importo, já tenho a informação que precisava. Pego minha bolsa e saio, vou direto para casa. Na fazenda da avó dela. É para lá que eu vou, mas antes tenho que resolver alguns assuntos na cidade.
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Glória tenta de todas as formas nos manter em contato naquela mesa, mesmo que seja uma droga de jantar. Eu adoro meus ex-sogros, ou ainda sogros, mas o convívio com Artur não vem sendo dos melhores, ele fica sempre irritado, aborrecido, acusatório até.
Acho que cansou de se culpar e resolveu fazer isso comigo, talvez tenha razão, nem ouso negar, mas eu sei quem é a real culpada, e em breve estarei indo atrás dela. Mas aqui estou eu, em uma despedida silenciosa das pessoas que por um tempo foram minha família, ainda são, para mim Amanda sempre será minha amada, mas seu corpo presente faz falta, sem ela nada mais faz sentido.
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Surpreendida
RomanceMeu nome é Michele Guimarães, hoje com trinta e três anos estou diante desse computador para lhes contar a minha história, não só um romance, não só uma vingança, de amor, de ódio, na verdade ela tem tudo, até a compaixão, pois foi através dela que...